sábado, 3 de outubro de 2015

Mar florido


E depois…

Vem o teu corpo que se transforma em mar,

Água salgada das lágrimas teu olhar,

E depois…

Os beijos congelados nos corredores da melancolia,

A saudade vestida de nada,

O sangue embriagado quando… e depois…

Vem o teu corpo,

Em mim,

De mim…

O eterno apaixonado sem destino,

Sem caminho

E perdido,

Eu,

Eu menino…

Sem palavras,

Eu,

Eu menino…

Ancorado ao teu sorriso,

Este meu corpo,

Um jazigo sem telhado

Na montanha da saudade,

Eu,

Eu menino…

Não desejado,

Quando vem o teu corpo que se transforma em mar,

As lágrimas,

Amar sem saber que o amor…

Nada tem para me dizer,

As lágrimas,

Sem saber que o amor são quatro letras rasuradas,

Dormem,

Sonham…

E estão vivas em todas as madrugadas,

Como eu,

Sofrendo,

Como eu…

Sorrindo das tardes amarguradas,

Como eu,

Sofrendo,

Nas noites desenhadas,

Em mim,

E de mim,

Todas as palavras não chegam para te dizer…

Amo-te,

Desejo-te,

Quero-te…

Dentro desta circunferência sem tino,

Só,

Triste,

Sonolenta cama dos abutres,

Desvairado sono na copa das árvores,

Amo-te,

Desejo-te,

Quero-te…

Este meu mau feitio,

Sem fechaduras ou janelas para o Tejo,

Não quero,

Não o quero…

O amor florido nas páginas de um livro,

Sofrido,

Emagrecido pelos anos perdidos…

Canso-me da poesia e do amor e da paixão… e do cubo

Esquecido numa ruela sem portas de entrada,

À noite sinto-te saltitando sobre mim,

A candeia sonífera da canção…

Não morre,

Não ama,

Não come o derradeiro pão,

Como o teu coro,

No meu corpo,

Em… em combustão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 3 de Outubro de 2015

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As lâminas da paixão


Meu amor,

Quando os teus seios dormem suspensos nos socalcos do Douro

E o Rio se perde na última curva do anoitecer,

Invento-te,

Escrevo-te…

Faço-o sem o saber,

Ou querer…

Sentir em mim as tuas mãos de xisto lacrimejante,

Sentir em mim os teus lábios de uva mendigando os meus lábios de luar…

Meu amor,

Quando o teu olhar se esconde no Pôr-do-sol,

E uma gaivota alicerça-se ao meu peito,

Sinto o teu perfume vaiado sobrevoando todos os cadeados do teu corpo…

Ai… ai meu amor,

Este sol,

Este Rio…

E estes barcos em papel,

Inventando sorrisos nas lâminas da paixão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 2 de Outubro de 2015

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Carta a ninguém


Vagueio no teu corpo como se eu fosse um mendigo
Em busca de pão,
Paz
E desejo da liberdade,
Quando regressa a noite ao teu olhar
Todas as estrelas se suicidam no teu sorriso,
E as minhas palavras ardem nos teus lábios…
Vagabundo e apaixonado,
Mendigo e iletrado,
Pássaro,
Avião,
É tudo o que eu sou… em busca de pão…

Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Outubro de 2015

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A bala envenenada


Atravesso esta cidade de olhos vendados,

Apenas tenho tempo para desenhar o cheiro das flores

E dos beijos que vagueiam nos jardins da infância,

Não tenho medo da noite

Nem das estrelas que brincam no meu cabelo…

Sinto as carruagens enferrujadas de um comboio descendo a Avenida,

Sentam-se junto a mim…

Puxamos de um cigarro,

E acreditamos no regresso das sanzalas

E dos musseques em finas placas de zinco,

Depois, depois vem o silêncio disfarçado de luar,

Não fuma, não bebe…



Apenas escreve nos nossos corpos…

Saudade,



E depois a saudade escrita

Transforma-se em homem,

Corre, brinca e sofre…

Até que a cidade dispara sobre ele uma bala envenenada…



E morre.



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 28 de Setembro de 2015

domingo, 27 de setembro de 2015

A matriz transposta da paixão


Transposta matriz do teu olhar

Nas catacumbas da solidão,

Cresço sobre o teu corpo,

Transporto-me para os teus lábios de Outono inventado por um louco,

E de mim,

O susto coração de ébano…

Sinto as tuas mãos embriagadas,

Sinto os teus braços acorrentados à madrugada,

Sem iluminação,

Sem nada,

A matriz da paixão,

Dorme docemente na ardósia da solidão,

Cansaço este nas avenidas triangulares do sexo,

Que esta cidade engole,

E come,

E cresço, e cresço sobre ti,

Dançando,

Chorando…

Rindo,

Porque não?

O riso da paixão,

O silêncio do amor quando o amor é uma noite sem destino,

O menino,

Ele,

Cinzento como a ferrugem do prazer,

Não o sei,

Se saberei ler,

Ou… ou escrever,

No teu corpo,

Abandonado…



Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 26 de Setembro de 2015

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sombras sem sorriso


Deixei de sonhar com as tuas sombras sem sorriso,

Sufocam-me as tuas palavras amargas…

Sofridas e falsas,

Deixei de olhar o mar

E os barcos embriagados pela sonolência da noite,

Agora pareço um Cacilheiro amarrado às folhas ténues dos Plátanos,

Escrevo-te,

Mas não sonho com as tuas sombras,

Sem sorriso,

Agora,

Ontem…

A alegria de estar só.



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 25 de Setembro de 2015

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Medo da cidade sem nome


(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
As ruas sempre desertas,
As palavras ensonadas,
Na minha mão entre pássaros e sombras cansadas,
O peso do meu esqueleto procurando imagens sem nome,
O livro sobre a secretária com fome…
Quase que me come,
E eu, e eu tenho de me esconder nos teus braços silenciosos,
Como faz o luar quando foge para a montanha da saudade,
Vivo nesta cidade
Confundida com as estrelas e os rochedos da insónia,
Desço as escadas do sonho
E percebo que as ruas são túneis assombrados sem clarabóias para o mar…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 23 de Setembro de 2015
 


terça-feira, 22 de setembro de 2015

O espelho da paixão


Sentíamos a liberdade do vento dançando sobre os nossos corpos em desejo,

Um sótão recheado de livros gemeia, e da janela ouviam-se alguns sussurros insolentes, tristes, como serpentes mergulhando no peito da noite,

O rio que caminhava nas nossas veias saltitava nas luzes do prazer,

Uma clarabóia em delírio alicerçava-se aos teus seios, olhava-a, e via o luar em lágrimas, como se fosse esta a nossa última noite,

Amanhã não vens, e nunca mais existiram fotografias minhas no espelho da paixão,

Morri,

Não o sei…

Ou… ou talvez não,

Deixei de sentir a liberdade,

Deixei de pertencer aos sonhos em papel químico, e hoje sou apenas uma sombra escondida nas coxas do poema,

Senti, vivi o teu corpo misturado nas marés cinzentas da madrugada,

Não sei, meu amor,

Não sei se voltarei a olhar-te…

É que os meus olhos cerraram-se e apenas consigo imaginar os barcos agachados no Oceano amanhecer.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 22 de Setembro de 2015

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O grito


(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Lembrei-me de ti, hoje, e das fotografias tiradas quando se escondia a noite nos coqueiros junto ao mar,
Lembrei-me da solidão
E dos passeios agarrado à tua mão,
Lembrei-me de ti, hoje, e das palavras que escrevias no meu olhar,
Como se eu fosse uma fina folha em papel,
Sofrida,
Cansada de ser riscada,
Velha e tonta… amada,
Lembrei-me de ti, hoje, e das tardes a desenhar os barcos em cartão,
Sós no imenso Porto de embarque e desembarque… sem destino algum,
Ensinaste-me o que eram as montanhas vestidas de branco,
Ensinaste-me o sabor da geada…
E hoje, e hoje lembrei-me de ti e das tuas lágrimas choradas,
Quando acordava a madrugada…
E eu, e eu sem sono… sem sono… gritava.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 21 de Setembro de 2015
 


domingo, 20 de setembro de 2015

Cansaço


(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Cansei-me da tua voz,
Dos teus abraços,
Dos beijos,
E dos cansaços intermitentes nocturnos do desejo…
Cansei-me da tua sombra suspensa na minha janela,
Cansei-me do Inverno que ainda não regressou,
Cansei-me da tua voz,
Dos teus abraços,
Dos beijos…
E dos cansaços… nocturnos do desejo,
Cansei-me das minhas palavras,
Cansei-me das tuas palavras,
Dos livros,
Lidos,
Não lidos…
E ignorados,
Cansei-me da luz,
Das estrelas,
E dos cigarros apagados,
Cansei-me,
Cansei-me de estar cansado,
Aqui,
Sentado…
Folheando fotografias de gente morta,
Sem palavras,
As cansadas,
As não cansadas,
E as palavras algemadas…
Cansei-me do sono,
Cansei-me do sonho…
E de todas as madrugadas.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Setembro de 2015