segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Nada mais

foto de: A&M ART and Photos

Fingíamos o sossego quando dentro de nós habitavam tempestades
fugíamos para o cume da montanha mais próxima
abríamos uma das quatro janelas da ginga
fundeávamos junto ao corpo emagrecido que a madrugada acabava de expelir
fingíamos
e fugíamos
e uma chaminé alicerçava o vento à copa das árvores
os pássaros pareciam agulhas enfeitando panos de renda
e os poucos galhos dos desenhos queimados...
apenas sobejaram os lenços de papel
lágrimas
e nada mais para recordar...

A saudade morria...
e aos poucos erguia-se o desejo cansado
virgem...
atraiçoado

Fugíamos das cavernas com carris de prata
abríamos o livro dos sonhos na página duzentos e sessenta e três...
a ginga vomitava soníferos gonzos com alegres pregos de aço
a árvore de Natal tinha desmaiado...
tonturas
talvez devido ao excesso de luz
ou... com medo das sombras que todos nós sabíamos existirem no nosso corredor sem portas
ouvíamos vozes que provavelmente tinham a sua origem no presépio da loja Chinesa...
e confesso que não percebi patavina do que elas diziam...
apenas percebi que a vaca sofria de cólicas renais
e
nada mais.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Dezembro de 2013

domingo, 15 de dezembro de 2013

Rua dos Prazeres

Foto de: A&M ART and Photos

Desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no pulso..., sentíamos o vento dançar sobre a neblina madrugada,
No pulso as pulseiras das feridas cansadas,
A madrugada entretinha-se com um baralho de cartas, meia dúzia de azeitonas e algumas rodelas de linguiça..., havia chouriço assado e pão de centeio, música desgovernada que a menina com pulseiras das feridas cansadas deliciava-se a ouvir, encerrava os olhos e
Voava...
Sobre os plátanos maternos dos dias nublados o mar da saudade entrava-nos dentro da cabana com telhado de colmo, nunca vi a chuva dentro do corpo dela quando a roupa desaparecia do estendal e um emagrecido esqueleto de desejo deambulava em cima do cobertor de lã que alguém nos tinha oferecido, ainda muito antes de ela ser ela, ainda mesmo quando não tínhamos, ainda mesmo quando não usávamos...
Beijos, e margaridas nas jarras em porcelana,
E
Voava o cretino calendário com a fotografia do espantalho de palha, junto à eira uma pequena fogueira alimentava a canção dos grilos aflitos dentro da cratera terra onde brincavam espigas de milho, feijão e aqui e além...
O centeio vivia sufocado com as auroras boreais das latidas palavras caninas, o burro culminava a exuberante letra do poema abandonado, fotografias infinitas zurravam nas labaredas da fogueira que a eira gritava
São minhas, são minhas... são minhas as tontas palavras,
Ninguém se mexia, ninguém acreditava em fogueiras, círios e desenhos inscritos na docas árvores com espelhos de prata
Eu + Tu,
Dois parvos,
Amor de...
Outra parvoíce... amo-te... nunca mais...
(desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no pulso)
Eu + Ele,
E
voava, e são minhas, são minhas... são minhas as tontas palavras, aquelas que escrevia no corpo dele enquanto o tempo morno
Morno?
Não, não morno...
Morto, matávamos o tempo escrevendo versos no corpo um do outro, ela dizia que as árvores estavam agoniadas com tantas
Tontas?
Não, não tontas, com tantas velhas inscrições...
Eu + Tu,
Será, não será, e uma seta aproveitava a esplanada da paixão e alojava-se no coração desenhado do velho tronco, a navalha entrava corpo adentro, a navalha recheava os telhados amaldiçoados das ruas com janelas...
E
Os cortinados
Da cidade
Da cidade dos cães, latidos, uivos, suspiros...
A paixão?
O amor morto depois de assassinado pela canção da menina com pulseiras... no pulso as pulseiras das feridas cansadas, e cansadas elas percebiam que éramos sombras à espera do desarrumado relógio de pulso, o mesmo que esteve presente na noite de núpcias, o mesmo que presenciou o primeiro “charro”, aquele que assistiu à primeira “chinesa”... aquele que acreditava na menina com pulseiras
Parvas,
Monas,
Tolices em palavras depois de mortas.


(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Dezembro de 2013

pequenos nadas

foto de: A&M ART and Photos

a minha cidade despede-se do teu corpo em decomposição
um putrefacto sorriso acorda nos lábios da solidão
a minha cidade vive
como serpentes dentro de um aquário
a minha cidade é um corredor sem saída...
a minha cidade vive
e escreve nas paredes do medo
o silêncio prometido

a minha cidade és tu
nua despida em pedaços de leito das avenidas perdidas
a minha cidade dança
tem mãos de seda
e seios de indefinidos sons com abraços de musicalidade em palavras vãs
vãos de escada em sofrimento desejando o trono da fortuna
nua
tua mão singular no meu peito plural

o pronome avança contra o néon de sémen
e os telhados da minha cidade
ardem
como loiros cabelos suspensos nos arames do suicídio...
a minha cidade é uma puta com edifícios escumalha em lãs madrugadas
ovelhas
cabras...
e... e pequenos nadas.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Dezembro de 2013

sábado, 14 de dezembro de 2013

apitos doirados

foto de: A&M ART and Photos

não percebes que o sonho é uma porta em aço
e enquanto dormes
eu
eu construo canhões de papel para arrombar essa maldita ranhura de carne com ossos em madeira
inacessíveis
e indolores... os olhos absorvem-te os perfumes das madrugadas inventadas pelo calendário do sofrimento
choras
habitas em lágrimas oceânicas
choras... e choras...
não percebes que agora... que agora o sofrimento é de verdade
é o teu sofrimento
e são as tuas lágrimas
não percebes que nas minhas mãos habitam lençóis de água
com barcos enferrujados
com homens apaixonados
e mulheres apaixonadas
e apitos doirados
nos prazeres desgovernados
não
não sentes a dor da travesti doença
não dizes nada
silencias-te como uma porta em aço
a mesma
a outra... o sonho
não percebes as minhas palavras
não percebes os meus medos
aqueles que te atormentam enquanto dormes
sonhas
enclausurado pela porta em aço
e mentes... mentes quando respondes que está tudo bem... e nada está bem... nada.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Dezembro de 2013

papel de parede

foto de: A&M ART and Photos

o papel tua pele que se entranha na madrugada
a canção do menino triste esconde-se entre os arbustos loucos da despedida
o salário emagrece os seios das meninas de leite
e o menino não tem medo do silêncio amanhecer
o papel estremece e arde
e a fogueira dos teus sorrisos parece a chuva violenta das tardes em tempestade
vadias e tristes
tristes.. e emagrecidas mulheres de areia na tua pele anelar que a solidão tece como velhas teias de aranha
tua doce lâmina de papel que um calendário come e vomita nas gotículas negras do suor em suaves prestações de desejo
abraço-te
não
é proibido abraços e beijos e...
pontapés em sílabas mortas
doentes
ou... envenenadas
o cheiro a mofo sai da minha algibeira
o dinheiro em pequenos esqueletos de vidro... simplesmente se derretem como cubos de chocolate...
há farturas
churros e guardanapos nus com braços em prata
a roulote engana-se no pavimento
e desaparece no corredor da morte
há flores à tua espera
há uma lápide de prazer deitada num divã menstruado...
e... e o papel tua pele que se entranha na madrugada
não é mais do que pequenas partículas de sémen desproporcionais que uma equação diferencial alimenta
vive
vive só como vivem os pinheiros esquecidos na montanha do destino...
come-me enquanto durmo
e sonho com janelas pinceladas de verniz
com telhados de cinza
e ardósias...
e o meu nome
o meu nome desenhado a giz
a senhora professora diz que é banal a paixão dos lábios siderais das mangueiras ensanguentadas
há masturbação em grupo na sala da saudade
e... e os beijos proibidos... proibidos são... como o papel de parede gritando LIBERDADE.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Dezembro de 2013

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

anéis de poesia...

foto de: A&M ART and Photos

o espaço exíguo do meu sonho perde-se na neblina de prata
sei que uma língua de fogo jaz nas profundezas da tristeza
que de um bairro em chapa
acordou a madrugada cinzenta em pétalas de ciume sem beleza
chata
a miúda da perfumaria a tentar impingir-me livros pornográficos
cinzeiros
lanternas mágicas com anéis de poesia...
a miúda diz amar-me sem saber o que é o amor
como eu desconhecia as lágrimas dos bravios pinheiros
das tardes fotográficas
que o recreio da escola inventava entre serpentinas e muros de fantasia

alegria
sorria...
dizem-me que estou a ser filmado

porcaria
com a autorização de quem pergunto eu ao primeiro vagabundo das amendoeiras em flor
alegria
sorria...
lanço-me do telhado e debruço-me sobre as veias mágoas dos cristais envenenados
uma flor em papel é como um jardim desenhado pela mão de um pintor
aberrantes lábios que seguram as florestas da montanha na ponta do lápis de cor
sinto-me exíguo dentro do espaço nas neblinas de prata
és tu tão chata
sou eu... eu um rochedo recheado de pontos pigmentados nas manhãs dos quadriculados
uma rosa à janela do desassossego milagre que a liberdade adensa depois das tempestades...
e o espaço exíguo... sou eu... o homem desiludido com os barcos de veludo em negras tardes


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Dezembro de 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

labirinto

foto de: A&M ART and Photos

sinto-me perdido no labirinto da insónia
da janela em linguagem gestual
oiço os vampiros beijos das avenidas entristecidas
os candeeiros escondem-se numa cama de enfermaria
a palavra ténue que o néon absorve
está viva
e habita dentro das tuas veias envenenadas pela solidão dos dias
invento horas
desenho relógios na algália do sofrimento
sinto-me perdidamente perdido no labirinto da insónia
troco a saudade por meia dúzia de cobertores de lã
e sei que na rua vivem flores com sorrisos coloridos

uma sombra vestida de cetim...
acena-me
chama-me...
e come-me como se eu fosse um animal enferrujado do sobejado aço dos barcos fantasmas

o cais espera-me
e o marujo enlouquecido amarra-me aos esconderijos de pedra
sinto-me perdido
perdido procurando uma paragem
ou
a cinzenta madrugada para aportar
sento-me e beijo-me
e tu preferes os meus desastrados medos nocturnos
aos parafusos que brincam nas mesas infestadas de cigarros do bar neblina
o labirinto adensa-se como as estrelas de papel
o meu corpo flutua sobre uma lâmina de gelo
e sinto-me perdido neste labirinto negro e escuro das palavras constipadas


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2013