Que te nasça um pinheirinho no cu
Com
muitas luzinhas amarelas
Que
te coloquem uma corneta na boca
Para
que grites bem alto
Feliz
Natal
Não
era preciso…!
É
um menino.
Alijó,
26/12/2022
Francisco
Luís Fontinha
Que te nasça um pinheirinho no cu
Com
muitas luzinhas amarelas
Que
te coloquem uma corneta na boca
Para
que grites bem alto
Feliz
Natal
Não
era preciso…!
É
um menino.
Alijó,
26/12/2022
Francisco
Luís Fontinha
Quanto às rabanadas do teu olhar,
Dispenso-as,
Não gosto muito de
rabanadas,
E detesto o Natal,
Verdade que não se comem
rabanadas apenas no Natal,
Mas não gosto muito de
rabanadas,
Mas gosto muito do teu
olhar.
Alijó, 08/12/2022
Francisco
Vou ensinar-te como brincavam as flores da minha infância. Vou ensinar-te como amavam as flores da minha infância e os barcos da minha infância e o mar da minha infância.
Vou ensinar-te o que são
machimbombos, o que é uma sanzala ou uma cubata, vou desenhar-te os cheiros da
terra e do capim, depois da chuva. Vou ensinar-te como brincavam os barcos da
minha infância, quando um pequeno em calções, de mão dada com o pai, olhava-os
como se os barcos fossem árvores muito altas, em pedacinhos de silêncio, numa
floresta junto ao mar.
Vou ensinar-te porque
choravam as acácias da minha infância, e depois, abraçavam-me até que a noite
caía sobre nós, e um beijo transportava-nos para a manhã do dia seguinte.
Vou ensinar-te como
voavam as flores da minha infância depois de brincarem na minha mão, antes de
poisar o sono em mim.
E vou dizer-te porque
odeio o Natal…
Alijó, 01/12/2022
Francisco Luís Fontinha
Se me procuras,
Não estou; a verdade é
que nunca estive
Onde estou e pensam que
estive.
Não tenho número de
polícia,
Destinatários para enviar
cartas,
Os meus amigos,
Os verdadeiros amigos,
morreram. Quase todos por cancro.
Uma merda, o cancro.
Escrevo poemas aos
caracóis,
Às abelhas e aos
pássaros,
Às árvores e às putas das
árvores
Onde poisam os cornudos
dos pássaros.
E os caracóis ouvem-me,
São afáveis, sinceros e
honestos,
São como eu; quando a
conversa não me interessa,
Escondo-me em casa,
Dentro desta carapaça que
transporto desde que nasci.
Já as abelhas,
Bom, com essas não me dou
muito bem,
Sou alérgico às abelhas,
Sou alérgico à mãe das
abelhas,
Que pensam que os filhos,
Tal como os pássaros,
São cornudos diplomados,
Mas só os caracóis é que
me escutam,
Os únicos a quem escrevo
cartas.
Vou ao cemitério, e quase
todos os gajos e gajas que lá habitam,
Levou-os o cancro; os
meus amigos.
E vou continuando a
escrever cartas aos amigos que me restam…
Os caracóis,
E de caracol em caracol,
De flor em flor,
Palavra puxa palavra,
Penso na merda do Natal
que se aproxima;
Por mim, proibia o Natal
e merdas afins…
E devia haver censura
para quem festeja o Natal e prisão domiciliária,
E lá terei de entrar no
cemitério,
E de campa em campa,
Feliz Natal companheiro,
Bom ano, minha querida,
Brevemente estaremos
todos à volta da fogueira,
(mas qual fogueira,
caralho)
Se nem fogueira vai
haver,
Que esta terra foi excomungada,
ai isso foi.
Tinha um amigo, amigo de
verdade,
Quando se aproximava o
Natal,
Oferecia-me erva e erva e
erva para fumar…
E fumávamos erva enquanto
o tempo se escoava nos anéis de Saturno,
E o gajo falava e o gajo
falava e o gajo não se calava,
Mas calou-se; e morreu.
O meu pai, no Natal, dava-me
livros,
Livros, livros e muitos
livros,
A minha mãe, livros,
Fui um felizardo, o
felizardo dos livros.
E sabes, meu amigo caracol,
Sabes?
Que se foda o Natal…
Alijó, 20/11/2022
Francisco Luís Fontinha
Sentia-me zonzo com os
cheiros
Que brotavam de suas mãos
No Natal.
Hoje, procuro esses
cheiros, em vão,
E apenas as fotografias,
Transformam os cheiros em
lágrimas.
Lágrimas recheadas pela
saudade,
Como sonhos, rabanadas e
bolo-rei,
Hoje, o silêncio poisa
sobre a mesa,
A mesa é outra, mas
faltam algumas fotografias,
Hoje, são poeira,
Canção caminhando no
Universo,
Paralelo, cubo,
triângulo,
Hoje, acorda a ira,
Como se fosse uma nuvem em
papel,
Voando em direcção ao
mar.
Nasci pertinho do mar,
Junto à solidão dos
macacos,
Havia gladíolos
envenenados,
Havia bananeiras em cio,
Como as gaivotas
passeando-se sobre a baía.
Sentia-me zonzo com os
cheiros
Que brotavam de suas mãos
No Natal,
Tínhamos dentro de nós
O pesadelo de um futuro
amaldiçoado,
Não distante,
Mas sempre ausente.
Hoje, olho todas estas
fotografias,
São apenas imagens,
lugares, pó…
Apenas pó…
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 24/12/2021
foto de: A&M ART and Photos
|
foto de: A&M ART and Photos
|