Esta vida que não
me esquece,
cai a noite e me
absorve, e me evapora,
desço a calçada
como poeira cansada,
e aos poucos,
despeço-me do rio,
despeço-me da
alvorada,
sento-me, e espero o
regresso do amanhecer,
folheio um livro,
leio um poema amaldiçoado,
dói-me o corpo, e
esta vida que não me esquece,
Desenho uma gaivota
apaixonada pelo silêncio do mar,
há uma cabana sem
lareira, uma cabana atraiçoada,
e eu sentado,
converso com a gaivota, converso com a cadeira...
sobre esta vida que
não me esquece,
e me evapora,
folheio, folheio...
e o livro do poema amaldiçoado... me deseja,
me leva para o
solstício do beijo,
e sendo eu sou um
ausente,
que não sente, que
não ama...
pergunto-me... o que
é o amor?
É uma cidade
destruída? É uma canção com poemas de chorar?
que a vida não
esquece, que a vida não me esquece... de me recordar...
Esta vida que não
me esquece,
quando lá fora há
estrelas à minha espera,
quando lá fora a
gaivota apaixonada... chora,
porque foi
maltratada, porque foi espancada...
pelo vento da
clareira cinzenta,
que desce comigo a
calçada, e... e me atormenta.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 27 de Julho
de 2014