Oiço das navalhas
do sofrimento,
os teus beijos
prometidos,
Lamento,
Oiço os teus
anseios,
quando nos entra o
mar casa adentro,
desço as escadas,
escondo-me nos teus
lábios...
amo tanto o mar...
que não consigo olhá-lo, tocar-lhe,
como não sou capaz
de poisar a minha mão no teu luar...
e...
e simplesmente ficar
lá, ela imóvel, prisioneira de ti,
e... e coitada da
minha mão,
esponjosa, magra...
cansada das palavras tristes,
das palavras... das
palavras amargas,
e o movimento
curvilíneo... em busca do teu coração,
O cofre com
fechadura invisível,
Lamento,
Oiço das navalhas
do sofrimento,
os teus beijos
prometidos,
oiço-os e nada
posso fazer,
lá fora está
noite,
escuridão,
posso dar-me ao
trabalho de procurar as tuas lágrimas,
nunca as
encontrarei,
tão pouco sei se
choras, se ris... se gritas... ou inventas árvores no recreio da
escola,
e quanto a mim,
nunca, nunca fui capaz de encontrar o que quer que seja,
porque sou
desajeitado,
porque... as sombras
do teu corpo habitam nas drageias do silêncio...
e há sempre um
braço a proibir-me... de... de amar, de construir amores nas flores
do amanhecer,
Tão longe, os teus
sôfregos olhos perdidos na constelação AMAR,
o telescópio
vagueia na eira da poesia,
e nem assim, e nem
assim é possível observar os teus olhos...
Lamento,
O significado de
corpo, agora é rocha vadia,
que caminha nas ruas
com candeeiros de prata,
lamento...
ouvir das navalhas
do sofrimento...
os teus beijos
prometidos,
sofridos,
oiço-os e nada
posso fazer,
apenas lamentar,
Que o cofre com
fechadura invisível,
seja o teu coração
protegido por um velho cubo de vidro,
aquário, peixe,
avião... pá.. barco carregado de fantasias e travestis,
bares recheados de
coquetes e marionetas envergonhadas,
alienados vizinhos
que fumam cigarros de lata,
que o cofre se
parta,
e morra...
como morrem os
poetas,
como morrem os
fantasmas... quando no relógio de pulso da solidão são quatro
horas da madrugada,
nasci às sete horas
e trinta minutos,
era Domingo...
e deixaram em mim as
navalhas do sofrimento.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 23 de
Julho de 2014