Havia
um emaranhado de fios eléctricos dentro da sala de jantar, todos
eles eram providos de rosto, voz... e esqueleto, sentia a cada
desperdício de cerveja o regresso do Oceano meu coração, ouvíamos
alguns sons melódicos que o Rui tinha adquirido em cinco suaves
prestações, e a Madalena saciava-se com um livro de poemas,
Amo-te
sem saber porquê...
Os
poemas dançavam no ventre de Madalena, sentia cada palavra como se
de um desejo se tratasse, ou de um orgasmo em despedida,
Amanhã
vou caminhar depois do jantar, olhar as estrelas amantes da
trigonometria, desenhar círculos de papel nas clarabóias da
inocência..., e olhar-te, e olhar-te como se existisses, como se
fosses um texto de ficção dentro da fogueira,
A
lareira sonolenta abraçava-se aos teus seios,
Amo-te
sem saber porquê...
E eu
sabia que nos teus seios apenas habitavam as minhas mãos de
porcelana,
A
morte em pequenos assobios,
As
horas em agonia num relógio de parede,
E eu
sabia que nos teus seios...
Texto
de ficção?
Em
quadriculas, os números agoniados e agachados junto ao capim do
quintal, nunca tinha olhado o Sol depois das cinco da tarde,
E eu
sabia que nos teus seios...
Texto
de ficção?
E
mesmo assim, deitado debaixo das mangueiras... imaginava petroleiros
a entrarem dentro de mim,
tive
medo, senti o primeiro beijo, a primeira carícia, o primeiro e
derradeiro contacto, os lábios deixaram-se apelidar de Amor,
Amas-me?
O
amor, os poemas dançavam no ventre de Madalena, sentia cada palavra
como se de um desejo se tratasse, um orgasmo em despedida, os gemidos
dos poemas inseminados nas páginas abandonadas de uma velha folha de
papel, a caneta de tinta permanente... pesadíssima, as correntes do
teu olhar acorrentavam-me, deixei de sentir os braços, as pernas,
o... o amor,
Amas-me?
Deixaram-se
apelidar de Amor,
Havia
um emaranhado de fios eléctricos dentro da sala de jantar, os
fusíveis dos meus sentimentos... ardiam, e percebi que nunca mais
conseguiria perceber o Amor,
Amas-me?
E eu
sabia que nos teus seios...
Texto
de ficção?
Não
revisto, não lido, não...
Não
percebo as palavras que escrevi na tua pele de marginal semeada de
palmeiras, barcos encalhados e... e gaivotas.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira,
26 de Dezembro de 2014