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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O cansaço


A fome de pensar.

O sorriso loucamente apaixonado pelo silêncio.

Os cigarros embriagados,

Loucos,

Descendo as escadas da doença.

A liberdade.

Quando se apaga a madrugada em ti.

Canso-me das palavras de escrever,

Dos sonhos,

E dos livros de morrer.

A insónia deitada na cadeira da preguiça.

As camufladas lâmpadas de néon suspensas nos teus seios de alumínio…

Quando lá fora, a tempestade de desejos, dorme nos meus braços.

A fome de correr.

Saltar.

Brincar…

Na tua boca de sofrer.

A fome de vencer.

O medo de morrer…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

29/11/2019

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A saudade


Tenho saudades das tuas mãos poisadas no meu rosto,

Quando ao longe, um rio encurvado, dormia na sombra da montanha.

Tenho saudades do teu cabelo, como pingos de chuva, aos poucos, voando pelo jardim.

Tenho saudades do teu olhar, pela manhã, se impregnava no meu olhar.

Tenho saudades do teu sorriso,

E das flores do teu sorriso.

Tenho saudades da tua sombra,

Do teu perfume,

E das janelas coloridas que desenhavas no meu berço.

Tenho saudades do mar,

E dos barcos brincando no mar.

Tenho saudades de uma Luanda quando eu suspenso na tua mão…

Me recusava a caminhar.

Tenho saudades da escuridão,

Da noite,

E da tua canção.

Tenho saudades dos teus papagaios em papel, colorido, como o arco-íris.

Tenho saudades da claridade,

Dos rabiscos que eu fazia nas paredes da nossa casa,

E das mangueiras abraçadas a mim.

Tenho saudades dos aviões,

Dos gelados no Baleizão…

E de outras ocasiões.

Tenho saudades do circo,

Dos palhaços,

E dos trapezistas disfarçados de palhaços.

Tenho saudades, muitas, de ti, minha querida.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

21/11/2019

domingo, 13 de outubro de 2019

A árvore da saudade


Diz-me tu!

Onde habitam as árvores dos teus sonhos.

Diz-me tu!

As palavras que me escreves quando a madrugada acorda,

E do amanhecer,

Uma flor poisa no teu sorriso.

Diz-me tu!

Onde crescem as acácias da minha infância,

E agora,

Não as consigo visibilizar como quando acordava o dia.

Diz-me tu!

O que faço com estes livros,

Diz-me tu!

O que faço com todas estas palavras que deambulam pela escuridão desta casa,

Fria,

Só,

Só.

Diz-me tu!

Que sombras são estas que brincam nestes compartimentos envenenados pela saudade…

Diz-me,

Tu,

Diz-me toda a verdade!

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

13/10/2019

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A chuva


A chuva. As noites recheadas de literatura, lá fora, pedacinhos de sonhos voando sobre o meu corpo ensonado, a poesia entranhada no silêncio da noite, acorrentadas as mãos ao corrimão da saudade, sempre que possível, uma sombra na minha mão,

A chuva.

Recordo os teus lábios quando te sentavas no meu colo, dentro de mim uma corrente em aço pronta a disparar a bala da cegueira, as palavras embriagadas no teu peito, a chuva, enraizada no teu cabelo, frágil, mórbido, e, sempre que adormeço tenho em mim todos os sonhos, o desenho dos sonhos, a vaidade de nada ter, a não ser, alguns livros, nada mais, alguns livros e a chuva para recordar o teu sorriso.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 25 de Dezembro de 2017

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Viagem




Bebo o veneno da insónia.
Desamarro as cordas da solidão, logo pela manhã,
Tenho na mão a magia do sono, desprovido de sonhos,
Na lentidão, o adeus, como as flores em despedida.
Desenho nuvens no teu triste olhar, uma desgraça…
Pois eu nunca soube desenhar,
Escrevo palavras, bebo livros de poesia, e assim passo o dia,
Cansado das árvores, cansado das casas envelhecidas,
Cansado da vida.
Bebo o veneno da insónia.
É madrugada, acendo o interruptor da desgraça, sou livre,
Aprendi a voar no teu cabelo,
Sou astronauta reformado,
Carpinteiro no activo,
Sou jardineiro sem-abrigo…
Nos teus lábios de trigo.
Bebo a poesia dos mortos, e percebo a tua dor, quando acorda a noite,
Puxo de um cobertor,
Fico à lareira,
Até que as estrelas me levem para longe.



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 5 de Dezembro de 2017

sábado, 2 de dezembro de 2017

A espuma que embrulha o teu jardim


O silêncio de espuma que embrulha o teu jardim, o banho imaginário nas traseiras da casa onde habita o teu jardim, o teu corpo é um esqueleto de veludo, fossilizado nos fantasmas da noite, regressa o mar, traz na algibeira as flores da madrugada, simples, magoadas, como as sentinelas da morte,

O ausentado menino dos socalcos de xisto, que brinca nas margens do rio envenenado pelas enxadas da insónia, tenho medo, tenho medo dos alicerces da dor quando do teu corpo apenas consigo observar estrelas e fumo…

Ao amanhecer,

A trovoada que abraça a parede granítica do sonho, o miúdo complexo em círculos no quintal infestado de Mangueiras e Mangas, e quando ele percebe, tem um papagaio em papel brincando entre os finos dedos, não chove, deixou de chover nesta terra, deixei de ouvir o cheiro da terra queimada, e o poço é cada vez mais fundo, observo-o, alimento-o, e sinto o peso das plumas nocturnas dos bares de Lisboa,

Ao amanhecer, os vidros das janelas rangem de frio, a lareira morta na esperança de acordar de madrugada, e o silêncio de espuma que embrulha o teu jardim, o banho imaginário nas traseiras da casa onde habita o teu jardim, cobertos por um finíssimo cobertor de geada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 2 de Dezembro de 2017

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Bilhetes de infância


Perguntei ao flamingo se reconhecia a minha voz,

Escrevi-lhe bilhetes de infância sonorizados com nuvens envergonhadas,

Senti nele a tristeza das horas junto ao rio,

Permiti-me abraçá-lo, permiti-me acariciá-lo…

E daí nasceu um poema, palavras dispersas na madrugada por nascer,

Morreram os poemas, morreram as palavras…

Morreram os flamingos amigos do flamingo,

E, e eu fiquei só,

Tão só como as noites de Inverno.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 2 de Agosto de 2017

domingo, 28 de maio de 2017

As cordas da saudade


As cordas da saudade são invisíveis nos meus braços,

Oiço o apito dos barcos apedrejados pela maré quando o meu corpo envelhece no teu peito,

Sou fraco, sou fraco como uma simples folha amarrotada de papel encharcado de lágrimas,

E lá longe, os livros entranham-se no meu olhar,

Dançam nas minhas mãos as cansadas palavras da vaidade,

Oiço, oiço a pobreza das ruas em flor,

Me mato, parto em direcção ao rio subterrâneo da solidão.

Desço ao poço do sofrimento como uma gaivota envenenada…

Bebe, bebe sem a noção do tempo embriagado pelo sangue,

E escreve uma carta de despedida,

Sinto o desejo enjoado pela ondulação das nuvens prateadas,

E esqueço-me da tua ausência…

Adormeço em ti,

Adormeço como um sonâmbulo ruivo construído de barro nauseabundo do silêncio,

Ergo-me diante do espelho,

Vejo um cadáver sem nome,

Perdi-me,

Envelheci nos olhos das flores abraçadas pela noite,

Envelheci nos olhos das pedras dos alicerces da penumbra,

Os barcos nas minhas veias encostados ao coração…

Eu criança,

E brinco com as algemas de alvenaria da brincadeira,

Como um puto deambulando pelas ruas, livre como um pássaro,

Lindo como o pôr-do-sol,

Quando os amigos se despedem da minha sombra,

Sinto no meu caixão o mar da saudade invisível nos meus braços…

E caminho sobre a areia adormecida da limpidez dos beijos que um caderno quadriculado guarda na algibeira do remoto silêncio das ruinas…

E o medo envelhece a tristeza da partida,

Sempre se perde nos sonhos escoriados das palavras deitadas na fogueira,

Há na tua morte um sentimento de esquecimento,

Uma palavra estonteante que se alicerça às tuas coxas…

E no caixão dorme o meu olhar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 28 de Maio de 2017

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Nos desejos de uma calçada



Os desejos da morte quando acordava
A visibilidade da madrugada,
Os silêncios da sorte, os medos da alvorada
Nos espelhos cansados da manhã sonhada,
E ele chorava,
E ele não sabia
Que um dia,
Cessavam as lágrimas sobre a calçada.


Francisco Luís Fontinha
15/12/16

domingo, 11 de setembro de 2016

O suicídio da pobreza


O sonho morre nas mãos do luar,

A insónia do meu peito, arde nos teus olhos,

E do sonho, pequenos panfletos de areia… voam em direcção ao abismo,

O papel onde escrevo alicerça-se aos teus lábios,

Fico sem palavras, também morro nas pétalas do sonho…

Fixando no olhar a tristeza do mar,

Assassino os meus dias com as pedras da solidão,

Cravo espadas na sombra da noite, como um pedestal apaixonado,

Louco,

O sonho morre,

Como eu…, aos poucos dentro da tempestade,

Sinto nas tuas mãos o poema em sofrimento,

Rodeado de finas lâminas de desassossego,

Nas mãos do luar,

Arde nos teus olhos,

Como um Deus desvairado…

Suspenso na madrugada,

Galgo as rochas do infinito adeus,

Percorro pirâmides de luz como uma espada queimada no meu peito,

E choro a ausência do esquecimento,

Da vida,

Da vida camuflada pelas marés de Inverno,

Os barcos cercados pelos anzóis da pobreza,

Marinheiros escorregadios…, saltam até ao próximo bar,

Bebem desenfreadamente os copos da alegria,

Sentindo no olhar a Cinderela manhã de inferno,

Escoa-se o tempo nas janelas do sofrimento,

Há nas pálpebras da doença o sentido proibido da morte,

As nuvens vão levar-me,

E a cidade desaparece no caderno onde desenho os teus beijos,

Como desapareceram todos os fantasmas do meu secreto olhar…

 

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 11 de Setembro de 2016