As
cordas da saudade são invisíveis nos meus braços,
Oiço
o apito dos barcos apedrejados pela maré quando o meu corpo envelhece no teu
peito,
Sou
fraco, sou fraco como uma simples folha amarrotada de papel encharcado de
lágrimas,
E
lá longe, os livros entranham-se no meu olhar,
Dançam
nas minhas mãos as cansadas palavras da vaidade,
Oiço,
oiço a pobreza das ruas em flor,
Me
mato, parto em direcção ao rio subterrâneo da solidão.
Desço
ao poço do sofrimento como uma gaivota envenenada…
Bebe,
bebe sem a noção do tempo embriagado pelo sangue,
E
escreve uma carta de despedida,
Sinto
o desejo enjoado pela ondulação das nuvens prateadas,
E
esqueço-me da tua ausência…
Adormeço
em ti,
Adormeço
como um sonâmbulo ruivo construído de barro nauseabundo do silêncio,
Ergo-me
diante do espelho,
Vejo
um cadáver sem nome,
Perdi-me,
Envelheci
nos olhos das flores abraçadas pela noite,
Envelheci
nos olhos das pedras dos alicerces da penumbra,
Os
barcos nas minhas veias encostados ao coração…
Eu
criança,
E
brinco com as algemas de alvenaria da brincadeira,
Como
um puto deambulando pelas ruas, livre como um pássaro,
Lindo
como o pôr-do-sol,
Quando
os amigos se despedem da minha sombra,
Sinto
no meu caixão o mar da saudade invisível nos meus braços…
E
caminho sobre a areia adormecida da limpidez dos beijos que um caderno
quadriculado guarda na algibeira do remoto silêncio das ruinas…
E
o medo envelhece a tristeza da partida,
Sempre
se perde nos sonhos escoriados das palavras deitadas na fogueira,
Há
na tua morte um sentimento de esquecimento,
Uma
palavra estonteante que se alicerça às tuas coxas…
E
no caixão dorme o meu olhar.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
28 de Maio de 2017
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