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quarta-feira, 28 de junho de 2023

Silêncio de amar

 Amo-te…

Amo-te neste emaranhado de Primaveras em flor

Deste triste poema

Sem nome

Deste pobre poema em fome,

 

Amo-te…

Sabendo que apenas sou um conjunto de palavras

Palavras minhas

As nossas palavras,

Amo-te…

Na clandestinidade deste gigantesco Oceano

Dos vinhedos e dos socalcos

Esta minha pobre enxada

Que devasta a terra

E o medo de amar…

 

Amo-te…

Sem que eu saiba porque te amo…

E no entanto

Escrevo-te palavras…

As minhas palavras

Nas nossas tristes palavras,

 

Amo-te…

Amo-te dentro deste túnel de cansaço

Desta pobre avenida

Sem rimas para lançar ao mar…

Sem promessas de um abraço

Amo-te…

Como AL Berto o amava…

No silêncio do mar

Do silêncio de amar.

 

 

 

Alijó, 22/06/2023

Francisco Luís Fontinha

Madrugada

 

Tudo arde

Tudo arde dentro deste pedaço de nada

E no entanto

Desenho o fogo na minha mão…

Tudo arde

Tudo…

 

Tudo arde

E apenas o silêncio dorme…

Nada mais consegue dormir dentro de mim…

Os meus poemas suicidam-se ao nascer do dia

Os meus desenhos…

Esses…

Morrem envenenados pela luz das estrelas

 

E desta fogueira…

Apenas encontro as cinzas que a lua lançou ao mar

Numa triste manhã de Primavera…

Tudo arde

Tudo arde dentro deste pedaço de nada

E é tão lindo o fogo…

O fogo que consome a madrugada.

 

 

 

28/06/2203

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Labirinto de insónia

 Procuro nas minhas mãos

O sono e o silêncio das primeiras lágrimas da madrugada.

Procuro nas minhas mãos

Vazias

Distantes…

Procuro nas minhas mãos

A luz diáfana das marés de engano

E todas as tristezas da alvorada,

 

Visto-me de zé-ninguém

Sabendo que um outro alguém

Também vestido de uma outra coisa qualquer…

Me persegue neste labirinto de insónia

Devoluto

Frio…

E escuro como os túneis de vento,

 

Procuro

Procuro nas minhas mãos…

A sombra

E o além,

 

Procuro nestas mãos inventadas

Por alguém que não conheço

Que nunca vi

Mas que existe

E está lá

De lá

Onde este navio apodrecido

Ainda resiste

Ainda procura nas minhas mãos…

Um pedacinho de mar

Antes que o mar…

Antes que o mar morra

E este pobre barquinho…

Adormeça

E das minhas mãos…

Um sorriso de alguma coisa…

Cresça.

 

 

 

Alijó, 15/06/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 11 de junho de 2023

Silêncio tarde

 Desenho-te na sombra deste lápis

Desenho-te na tarde em silêncio

Do silêncio em tarde…

Até que regressa a noite

E na noite

Desenho-te na sombra deste lápis.

 

Desenho-te no silêncio em tarde

Desta tarde que se despede

Do desenho

E de ti…

E de mim, finalmente em tarde.

 

Desenho-te na sombra deste lápis

Que no silêncio lápis

Entre sombras gradeadas…

Desenho-te apressadamente

Antes que esta tarde acabe…

E que de tarde em tarde

Nasça uma outra tarde…

Enquanto eu…

Enquanto e te desenho na sombra deste lápis em silêncio tarde,

 

 

 

Francisco Luis Fontinha

11/06/2023

sábado, 10 de junho de 2023

Lápide de sono

 

Entre os parêntesis da manhã

Peço a Deus que me abrace

E desenhe no meu simplório olhar

Uma pequena lápide de sono

Uma lápide quase invisível

Com letras negras

Negras e muito pequeninas

Bem negras e bem pequeninas…

Nasceu a…

Faleceu a…

 

Depois

Depois peço a Deus que escreva nos meus lábios

O silêncio da noite envenenada…

Peço a Deus que não me traga a madrugada

Não

Hoje não me apetece ter a madrugada,

 

Entre os parêntesis da manhã

Peço a Deus que me abrace

Nem que seja um fictício abraço

Quase invisível

Quase… quase nada,

 

Depois de pedir a Deus tanta coisa

Das poucas coisas que tenho

E de ele saber que eu não acredito em Deus…

Ele ri-se…

Ri-se da minha ignorância

Do gajo nada

Pedir tudo

Quando o tudo não existe

E é apenas uma equação

Na espuma dos dias

Quando os dias… são o nada

E o nada…

São estes pequenos dias.

 

 

 

Francisco

10/06/2023

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Dos teus olhos de mar

 

Aos teus olhos

Ofereço esta madrugada de engano,

Nos teus olhos

Caem as palavras de luz,

Nos teus olhos habita a Primavera sem destino,

Nas mãos do menino,

Dos teus olhos…

Nos olhos do mar.

 

Aos teus olhos

Lanço as estrelas

E as galáxias…

Dos teus olhos,

O silêncio mar,

Do mar que ama,

No mar que deseja…

Os teus olhos.

 

 

 

Luís

31/05/2023

domingo, 28 de maio de 2023

Silêncio de luz

 

O corpo

O corpo é apenas um silêncio

Um segundo-luz

O corpo

É uma imagem

Não consensual

Para uns e tal

Para outros

Nada mal

 

O corpo

O corpo é uma fachada

Por vezes

Por vezes com estrutura defeituosa

Assim-assim

E o corpo não passa de um silêncio

Um pequeno silêncio

 

Se eu quero conversar sobre Dostoievski…

Não

Não pergunto ao corpo

Se ele quer conversar comigo sobre Dostoievski

E claro que o corpo nada sabe de Dostoievski

(mas acha-se de engraçadinho, às vezes)

 

O corpo

O corpo…

(é evidente que o poeta fala do seu corpo)

O corpo é um pedacinho de luz

Nos lábios do silêncio

O corpo não fala

O corpo escreve

E masturba-se

O poeta escreve

E o corpo…

É apenas um corpo

Um milímetro quadrado com massa de um grama…

À velocidade do desejo

 

O corpo corre

Na luz do silêncio

Tomba

Chora

Grita

O corpo morre

No silêncio que se move

Em círculos de luz

Em quadrados de saudade

O corpo vomita lágrimas de insónia

E um quintal (unidade de massa aprox. = 46 Kg) de estupidez

 

Depois o rio levou os caixotes

Pouca coisa

Algumas miudezas

E corpos

Corpo de medo embalsamados…

 

O corpo

O corpo é apenas um silêncio

Um segundo-luz

Um abraço desenhado pelo vento…

O corpo

O corpo é uma jangada

Onde se deita a madrugada

O corpo é tudo…

O corpo

Às vezes

Não é nada.

 

 

 

Francisco

28/05/2023

terça-feira, 23 de maio de 2023

Palavra de amar

 Da palavra,

Esta palavra que me abandona,

Daquela palavra que vive dentro da angústia…

E se esconde neste pedacinho de silêncio,

Da palavra,

O corpo mergulhado na luz…

Dentro de mim,

Entre círculos de sono

E túneis de vento.

 

Da palavra que escrevo

À palavra que grito,

Da palavra que sonho…

Há uma palavra no meu olhar,

Uma pequena palavra…

É a palavra de amar;

Amar esta palavra: mãe.

 

 

 

Bragança, 23/05/2203

Francisco Luís Fontinha

sábado, 20 de maio de 2023

Um círculo de pássaros

 

(óleo s/tela)

 

Olho-te e vejo um círculo de pássaros.

Olho-te,

Olho-te e vejo o silêncio pincelado de azul.

Olho-te,

Olho-te e vejo o cinzento barco em direcção ao abismo…

Olho-te e oiço o perfume do mar.

 

Olho-te e abraçam-se a mim os cheiros da minha infância,

Quando da terra queimada,

Se erguia o Sol,

E olho-te, e olho-te sabendo que também tu me olhas,

Que também tu vês em mim as cores do silêncio.

 

E olho-te encantado da vida…

Porque sou o teu pai,

Porque te pintei durante a tarde…

Da tarde,

Os cheiros a terra queimada,

O capim dançando na tua mão…

E eu,

Olho-te,

Sabendo que tu também me olhas.

 

Olho-te e consigo ver nesta confusão de cores…

A luz dos teus olhos,

Consigo ouvir o silêncio dos teus olhos…

E olho-te.

Sabendo que me olhas,

Sabendo que em breve te despedirás de mim…

E ficarás para sempre no silêncio de uma parede,

Sem nome,

Sem janela para o mar.

 

E eu, e eu vou olhar-te para sempre,

Como olho para sempre os meus quadros,

Os mortos e os vivos.

E olho-te…

 

 

 

 

Alijó, 20/05/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Doce-mar

 Imagino as sílabas do teu cabelo

Abraçadas ao ponto de interrogação e vírgula dos meus lábios,

Imagino o meu poema,

Este poema,

Escrito no silêncio dos teus seios…

Imagino o mar,

Poisado docente no teu ventre de mãe…

Esperando o regresso do parêntesis recto das minhas mãos,

 

Imagino cada palavra que escrevo

Dançando nos teus olhos de doce-mar…

Imagino cada traço que deixo numa tela…

Imagino-a em apertados abraços às tuas coxas...

Enquanto um parvalhão de um relógio,

(que me recuso a imaginar)

Saltita de ponteiro em ponteiro…

Até que regressam os primeiros pingos de chuva pela manhã…

E o relógio senta-se,

E ignora-nos,

 

Imagino cada gotícula de suor,

Cada pedacinho de uma gotícula de suor que se passeia no teu corpo…

Pego-lhe docemente,

Brinco com ela…

Peso-a…

E percebo que o teu corpo é habitado por uma fina película de desejo…

E sempre que abro a janela,

Lá está ele…

O meu mar,

O mar que um dia me levará…

 

 

 

Alijó, 15/05/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Anjo azul

 Semeio nos teus lábios de pétala

Os beijos que o luar desenhou

Beijo os teus lábios em pétala…

Flor do meu castelo

Vinhedo com vista para o Douro…

Socalco da tua maré em sono

Enxada do cansaço

No teu corpo misturado

Semeio nos teus lábios

O abraço

A palavra que grita

E grita

Grita…

 

A palavra em finos traços

Gemido na madrugada

Semeio nos teus lábios

A Primavera

E todas as árvores que acordam com a Primavera

Coração ao vento

Enquanto a barcaça do desejo

Rodopia em pequenos círculos

Semeio a palavra

Semeio

Semeio na tua mão

O silêncio

Enquanto o teu anjo azul escreve no teu olhar…

Amo-te

Enquanto o teu anjo azul…

Pincela os teus lábios de doce mar

E uma gaivota em liberdade…

Voa em direcção ao Sol

Sem perceber que o Sol...

Que o Sol é a paixão disfarçada de luz.

 

 

 

Alijó, 17/04/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Cidade embalsamada

 Há-de nascer uma estrela pincelada de saudade

Em teus olhos de amanhecer,

Cidade embalsamada

Nas sombras amordaçadas,

 

Pássaro em papel,

Cor devastada do sombreado silêncio,

Sol dos pequenos cubos em vidro…

Há-de nascer o rio em teus braços,

 

Teus braços que transportam o meu esqueleto,

Este pobre esqueleto dos loucos luares,

Há-de nascer, em ti, uma estrela pincelada de saudade

Em teus olhos de amanhecer,

 

Em teus olhos de beijar…

Há-de nascer nos teus lábios

A primeira madrugada,

Cidade… cidade embalsamada.

 

 

Alijó, 21/02/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Noite ternurenta entre estrelas

 (ao meu filho Addendum Díodo de Zener)

 

 

Cai sobre o silêncio

O dente recto das primeiras chuvas da manhã,

Cai na tua mão, menino Addendum Díodo de Zener,

As palavras envenenadas que o teu pai semeia no vento,

 

Vêm a ti, meu pobre menino,

As estrelas em papel que o destino lançou sobre o mar,

Do teu mar tímido,

Do pequeno desenho tridimensional…

Onde dormem as Princesas,

 

E do Castelo com vista para a planície,

Onde brincam amendoeiras e abelhas,

Um pedaço de luar,

Muito sonolento…

Acaba de acordar,

 

E cai em ti,

Meu menino,

A primeira estrela em papel,

Onde o teu pai,

Escreve cartas ao silêncio.

 

 

 

Alijó, 15/02/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Díodo de zener

 Somos servomotores

Em dentadas rodas,

Temos nas mãos rotores,

Em passo motores,

Correias,

Correntes,

Vidas passadas

E vidas presentes,

 

Díodos de zener,

Amplificadores,

Montes e ventoinhas

E grandes amores,

 

Somos motores,

Suspensão,

Vielas e supositórios…

 

Tudo o que o senhor doutor queira…

 

Em todo o caso,

Pega-se num circuito integrado,

Uma pobre espingarda apaixonada,

Depois…

Lá vem a merda do silêncio

E da madrugada

E mais nada,

 

Controladores,

Drivers,

Cabelo cortado,

E quando damos conta,

Uma pobre chapa em zinco,

Foge,

Corre,

Desce do telhado,

E senta-se junto ao rio,

 

Porra – que frio,

 

E para quê tudo isto,

Se amar uma mulher é mais fácil de que construir uma ponte,

Uma cabeça zangada,

Um triste monte,

Aquele monte das árvores alegres,

 

O motor roda,

A roda fode a cabeça ao mecânico

Que coloca o motor no caixão,

(o caixão da pedrada)

O caixão fecha-se,

Deita-se,

E morre,

 

E o mecânico,

Num ápice,

À dentada,

 

Corta os fios eléctricos da alvorada,

A cachopa geme de desejo,

E do desejo,

Uma volta completa,

Deste e daquele servomotor,

 

E fodidos estão,

Todos aqueles que pensam que o díodo de zener

Não serve de apelido ao menino;

A senhora professor grita

- Menino zener,

E quando a professora gritava,

Eu, o coitado dos calções,

Apanhava mais porrada,

Do meu pai não, porque era um bacano…

Mas ficava com os cornos a arder

Com as chapadas da minha mãe,

 

E quando a minha querida mãe me perguntava

- Menino dos calções, correu bem a escola?

Eu respondia que sim,

Pois claro,

Porque mentir para mim

Significava o perdão de uma carga de porrada,

 

E assim eu me librava.

 

 

 

 

Alijó, 30/01/2023

Francisco Luís Fontinha