segunda-feira, 15 de maio de 2023

Doce-mar

 Imagino as sílabas do teu cabelo

Abraçadas ao ponto de interrogação e vírgula dos meus lábios,

Imagino o meu poema,

Este poema,

Escrito no silêncio dos teus seios…

Imagino o mar,

Poisado docente no teu ventre de mãe…

Esperando o regresso do parêntesis recto das minhas mãos,

 

Imagino cada palavra que escrevo

Dançando nos teus olhos de doce-mar…

Imagino cada traço que deixo numa tela…

Imagino-a em apertados abraços às tuas coxas...

Enquanto um parvalhão de um relógio,

(que me recuso a imaginar)

Saltita de ponteiro em ponteiro…

Até que regressam os primeiros pingos de chuva pela manhã…

E o relógio senta-se,

E ignora-nos,

 

Imagino cada gotícula de suor,

Cada pedacinho de uma gotícula de suor que se passeia no teu corpo…

Pego-lhe docemente,

Brinco com ela…

Peso-a…

E percebo que o teu corpo é habitado por uma fina película de desejo…

E sempre que abro a janela,

Lá está ele…

O meu mar,

O mar que um dia me levará…

 

 

 

Alijó, 15/05/2023

Francisco Luís Fontinha

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