(óleo s/tela)
Olho-te e vejo um círculo
de pássaros.
Olho-te,
Olho-te e vejo o silêncio
pincelado de azul.
Olho-te,
Olho-te e vejo o cinzento
barco em direcção ao abismo…
Olho-te e oiço o perfume
do mar.
Olho-te e abraçam-se a mim
os cheiros da minha infância,
Quando da terra queimada,
Se erguia o Sol,
E olho-te, e olho-te
sabendo que também tu me olhas,
Que também tu vês em mim
as cores do silêncio.
E olho-te encantado da
vida…
Porque sou o teu pai,
Porque te pintei durante
a tarde…
Da tarde,
Os cheiros a terra
queimada,
O capim dançando na tua
mão…
E eu,
Olho-te,
Sabendo que tu também me
olhas.
Olho-te e consigo ver nesta
confusão de cores…
A luz dos teus olhos,
Consigo ouvir o silêncio
dos teus olhos…
E olho-te.
Sabendo que me olhas,
Sabendo que em breve te
despedirás de mim…
E ficarás para sempre no
silêncio de uma parede,
Sem nome,
Sem janela para o mar.
E eu, e eu vou olhar-te
para sempre,
Como olho para sempre os
meus quadros,
Os mortos e os vivos.
E olho-te…
Alijó, 20/05/2023
Francisco Luís Fontinha
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