domingo, 28 de maio de 2023

Silêncio de luz

 

O corpo

O corpo é apenas um silêncio

Um segundo-luz

O corpo

É uma imagem

Não consensual

Para uns e tal

Para outros

Nada mal

 

O corpo

O corpo é uma fachada

Por vezes

Por vezes com estrutura defeituosa

Assim-assim

E o corpo não passa de um silêncio

Um pequeno silêncio

 

Se eu quero conversar sobre Dostoievski…

Não

Não pergunto ao corpo

Se ele quer conversar comigo sobre Dostoievski

E claro que o corpo nada sabe de Dostoievski

(mas acha-se de engraçadinho, às vezes)

 

O corpo

O corpo…

(é evidente que o poeta fala do seu corpo)

O corpo é um pedacinho de luz

Nos lábios do silêncio

O corpo não fala

O corpo escreve

E masturba-se

O poeta escreve

E o corpo…

É apenas um corpo

Um milímetro quadrado com massa de um grama…

À velocidade do desejo

 

O corpo corre

Na luz do silêncio

Tomba

Chora

Grita

O corpo morre

No silêncio que se move

Em círculos de luz

Em quadrados de saudade

O corpo vomita lágrimas de insónia

E um quintal (unidade de massa aprox. = 46 Kg) de estupidez

 

Depois o rio levou os caixotes

Pouca coisa

Algumas miudezas

E corpos

Corpo de medo embalsamados…

 

O corpo

O corpo é apenas um silêncio

Um segundo-luz

Um abraço desenhado pelo vento…

O corpo

O corpo é uma jangada

Onde se deita a madrugada

O corpo é tudo…

O corpo

Às vezes

Não é nada.

 

 

 

Francisco

28/05/2023

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