O corpo
O corpo é apenas um
silêncio
Um segundo-luz
O corpo
É uma imagem
Não consensual
Para uns e tal
Para outros
Nada mal
O corpo
O corpo é uma fachada
Por vezes
Por vezes com estrutura
defeituosa
Assim-assim
E o corpo não passa de um
silêncio
Um pequeno silêncio
Se eu quero conversar
sobre Dostoievski…
Não
Não pergunto ao corpo
Se ele quer conversar
comigo sobre Dostoievski
E claro que o corpo nada
sabe de Dostoievski
(mas acha-se de engraçadinho,
às vezes)
O corpo
O corpo…
(é evidente que o poeta
fala do seu corpo)
O corpo é um pedacinho de
luz
Nos lábios do silêncio
O corpo não fala
O corpo escreve
E masturba-se
O poeta escreve
E o corpo…
É apenas um corpo
Um milímetro quadrado com
massa de um grama…
À velocidade do desejo
O corpo corre
Na luz do silêncio
Tomba
Chora
Grita
O corpo morre
No silêncio que se move
Em círculos de luz
Em quadrados de saudade
O corpo vomita lágrimas de
insónia
E um quintal (unidade de
massa aprox. = 46 Kg) de estupidez
Depois o rio levou os
caixotes
Pouca coisa
Algumas miudezas
E corpos
Corpo de medo
embalsamados…
O corpo
O corpo é apenas um
silêncio
Um segundo-luz
Um abraço desenhado pelo
vento…
O corpo
O corpo é uma jangada
Onde se deita a madrugada
O corpo é tudo…
O corpo
Às vezes
Não é nada.
Francisco
28/05/2023
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