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sábado, 26 de outubro de 2019

Medo


O medo.

Tenho medo do medo.

Tenho medo de voar sobre o medo,

Quando o medo,

Corre velozmente até à Foz.

Quando a Foz, com medo,

Esconde-se no medo da voz.

O medo.

O medo do medo, como eu, com medo, me escondo na noite com medo.

O medo das palavras.

O medo da ausência de que partiu com medo.

As palavras do medo, quando o livro do medo, fica poisado no medo da mesa-de-cabeceira.

E eu,

Com medo,

Brinco no medo da eira.

Ai o medo!

O medo de amar.

O medo do medo de não ser amado com medo.

O medo das flores,

As flores do medo,

Sós,

No jardim do medo.

O medo de caminhar,

O caminhar junto ao mar, com medo,

Com medo de zarpar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alij´p

26/10/2019

sexta-feira, 8 de março de 2019


A frieza com que inventas os pássaros do meu jardim, contente por te ver e teres desenhado um sorriso na vidraça do fim de tarde,

Talvez, amanhã, depois de amanhã, eu regresse às tuas mãos de seda,

As árvores,

Porquê, Francisco?

As árvores recheadas de medo, como eu, que partas brevemente, talvez amanhã, eu regresse aos teus lábios de amêndoa doirada, mas hoje, minha filha, hoje, não.

Sabes?

Diz,

Quando nasci, num Domingo de Janeiro, congelaram-me o cérebro e ainda hoje está suspenso nos Céus de Luanda,

Geladinha…

Então rapaz, essa CuCa?

Vai já, patrão, vai já,

A frieza com que inventas palavras que eu escrevo na boca, os alicerces da solidão nas tuas coxas de veleiro em papel, os pincéis despedidos por mim, ontem, o mar estava revoltado, ontem, eu estava revoltado, mas hoje,

Então essa CuCa, rapaz?

Vai já, patrão, vai já…

E, esse fatídico Domingo de Janeiro morreu ao Pôr-do-Sol…

Porquê, Francisco?

As árvores recheadas de medo, como eu.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

08-03-2019

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Junto a ti


Lembro-me de ti.

Juntos ao rio das pedras cinzentas,

A aragem do teu cabelo saltitando entre as gaivotas,

Murmuravas as palavras do destino,

Sentada, junto a mim, uma rosa no peito adormecia,

E os teus olhos cor de amêndoa voavam na paisagem…

Lembro-me de ti.

Sentada.

Presos na minha mão todos os guindastes da insónia,

O medo,

No silêncio…

Sentada,

Junto a mim.

Lembro-me de ti,

E dos teus suspiros velejados pelos livros de poesia,

Unificados sejam todos os fins de tarde,

Quando pegava na tua mão e desenhava nela o sol da madrugada,

Junto ao mar,

A jangada,

O poema embriagado,

Só,

Junto a ti,

Sentada,

Junto ao rio…

Lembro-me de ti.

Todas as ervas daninhas embriagando os teus lábios de seda,

Desenhava o beijo no teu olhar, olhavas-me, criavas um sorriso na tarde, e descobríamos as tempestades da noite,

Tu, sentavas-te, no meu colo,

O medo,

O medo de amar-te sabendo que o amor é o mar enraivecido nos dias ímpares,

A jangada,

Junto a ti,

Sentada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

24/02/2019

sábado, 24 de novembro de 2018


Podia desenhar-te o Céu.

A vida é um suspiro, a casa vazia, triste e a tremer de frio…, o cansaço do amanhecer perdeu-se no teu olhar, respiras, sofres por mim, e não o queres demonstrar.

Sabes, tenho medo dos pássaros, que deixem de voar, que fiquem estonteantes, como eu, ao ver-te aí deitada, tenho medo da madrugada, porque amanhã não sei se vou ler nos teus olhos a palavra amo-te…

E é tão triste, e é tão belo, todo este silêncio que nos abraça.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Novembro de 2018

sábado, 7 de abril de 2018

Encíclica manhã do deserto


Habitas no infinito predicado da solidão.

Oiço a voz das flores na tua mão,

O frenesim angustiado das palavras silenciadas,

Presas na carcere do silêncio,

Habitas no meu corpo,

Na minha morada,

Longínqua…

Perdida em ti.

O coração prateado,

Nas estradas inabitadas do medo,

O soldado,

Carregando a mochila da saudade,

Desce a Calçada,

Senta-se no rio…

Madrugada dentro,

O uísque fervilhando dentro de um copo de vidro,

A cabeça estonteante,

Nos livros acorrentados aos teus lábios,

A cidade morre,

As janelas imaginadas por mim parecem cobras embriagadas,

Soltas,

Tontas,

Como eu…

A cair,

Sobre mim,

O jardim esquecido no luar de hoje,

O meu corpo não se mexe,

Dorme,

Na encíclica manhã do deserto,

Ao final da tarde,

O cansaço das vidraças,

Quando me abraças…

E sou feliz em ti.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 7 de Abril de 2018

sexta-feira, 30 de março de 2018

As sanzalas de vidro


As sanzalas de vidro,

O silêncio suspenso nas sanzalas de vidro quando a manhã se suicida contra os rochedos do medo,

Os musseques que brotam sangue, os musseques que dormem na tua mão, meu amor,

São palavras escritas no vento,

Na despedida do sofrimento.

As maçãs da madrugada sobre as pálpebras do cansaço, digo-o enquanto habita no teu corpo uma serpente de aço,

As ratazanas que brincam com os meninos nas sanzalas de vidro,

O pequeno-almoço penhorado pelas Finanças, e lá fora a tua sombra encurralada nos livros,

Assim, como quem esquece a vida,

Ou se esquece da vida, como tu, meu amor, como tu…

Silabas tenho-as quantas quero, guardadas nos meus braços, no longínquo ângulo recto, o tecto da noite empobrecido, como eu, como tu.

As sanzalas de vidro, meu amor, os pequenos trapos das bonecas de areia que o mar alimenta, e há sempre um barco entre nós.

E há sempre um poema em nós, meu amor,

As pedras,

As pedras assassinas descendo a montanha,

O sigilo bancário nas barbas das Finanças, o horror, o terror, a torrente aventura de partir para o teu colo, meu amor, telegrama insignificante; STOP. MORREU. STOP.

E que sim, que fugia das cavernas que habitavam as sanzalas de vidro,

A chuva que não cai, a chuva que cai, o trémulo beijo no leite da manhã,

A literatura, tua, na minha cama,

Adormecida, cansada,

E desperto ao som de um velho relógio com engrenagens MADE in CHINA…

STOP.

MORTE. STOP.

Nas sanzalas de vidro.

Há caracóis, cerveja choca, poesia embriagada…

Dia,

A noite,

Na despedida da MORTE. STOP.

Encerro a luz, ficam tristes as sanzalas de vidro,

E mesmo assim, desenho-as nos teus lábios.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Março de 2018

domingo, 19 de novembro de 2017

Noite na alvorada de ninguém


A noite começa a perder-se nas tuas mãos, entre montanhas sinto os teus lábios emagrecidos pela solidão, adormecidos, tristes… perdidos, abençoadas estrelas que me iluminam sem qualquer tipo de perdão, uma carta não escrita, algumas palavras semeadas no teu olhar, quando lá longe, oiço o assassino do mar, mãos ensanguentadas, lágrimas disparadas pela espingarda do sono,

Um canhão evapora-se debaixo do luar, escrevo-te para me sentir feliz, invento-te para me sentir livre, rebelde e desemparado nas ruelas nocturnas do cansaço, oiço-os

Vomitam insónias, dormem no desassossego dos pássaros envenenados pelos teus lábios, os livros sofrem, os livros morrem ao nascer do Sol, e tenho no corpo um solstício amedrontado, oiço-os

Marcham Calçada abaixo, rumam aos bares não iluminados, estátuas de sombra sentadas numa esplanada, debaixo, em cima, e, no entanto, sou um soldado desgraçado, moribundo, procurando barcos nas tuas pálpebras…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Novembro de 2017

sábado, 30 de setembro de 2017

Carta aos pássaros


O invisível sono nas pálpebras tua dor, os beijos inventados pelos teus lábios nas gélidas noites de Inverno, o latido de um cão, solitário, na rua das traseiras, os teus lençóis suspensos na madrugada, enquanto nas minhas mãos crescem pedacinhos de esperança, serei capaz de cuidar de ti?

A serpente da dor…

As lágrimas envenenadas do teu sangue, as límpidas madrugadas sem destino camuflada pelo sofrimento, os ossos rangem, o cabelo voa em direcção ao mar, e longos silêncios de pequenos muros de xisto nos separam, o dia, a longínqua noite, a claridade das sombras dispersas no teu corpo,

Serei capaz? As nuvens desencontradas nas frestas do cansaço, as pequeninas sílabas de dor comestíveis nas nocturnas avenidas do sonho, e o maldito sono embriagado saltitando de casa em casa, e tu, e tu aconchegada ao meu ombro, sempre sonâmbula, e embrulhada num cobertor de medo…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Setembro de 2017

sábado, 10 de setembro de 2016

O medo dos teus olhos


Tenho medo dos teus olhos

Quando a noite inventa tempestades nos teus lábios,

Tenho medo do silêncio,

Medo do luar…

Tenho medo de amar…

Quando próximo do teu rio

Um tubarão espera por ti,

Tenho medo das tuas mãos

Quando os socalcos sobem à aldeia

E o teu corpo se transforma em perfume…

Tenho medo do teu cabelo

Entrelaçado no xisto da manhã

E um fino fio de oiro…

Vive na tua boca,

O beijo acorda do sonâmbulo relógio de prata,

Temos um horário moribundo,

Caquéctico

E sujo…

No pulso da solidão,

Tenho medo da cidade

Que habita nos teus seios

E expulsa todos os corações apaixonados…

Tenho medo dos bichos de papel

Que invadem os teus braços

E lançam sobre o oceano o medo…

O medo de ter medo

Dos teus olhos

Das tuas lágrimas,

Tenho medo da tua sombra

Incandescente

E triste

Nos jardins imaginários…

Tenho medo dos teus olhos

Que me alimentam a insónia…

Tenho medo dos amigos

Que inventam amigos e de amigos nada têm…

Tenho medo das pedras

Dos triciclos em pedra

E das madrugadas sem dormir…

Tenho medo da partida…

E de não regressar mais a mim

O medo dos teus olhos.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 10 de Setembro de 2016

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Corpo sentido


O meu corpo sente

Os teus lábios carnívoros

Desenhando marés de medo

E palavras de silêncio,

O meu corpo sente

As tuas mãos de xisto

Transportando um rio no sorriso

Antes de terminar o dia,

O meu corpo sente

A noite menina

Deitada na praia…

Deitada na ria…

O meu corpo sente

A despedida

De um relógio de bolso…

Quando a cidade adormece,

O meu corpo sente

E estremece

Quando o teu cabelo aprisiona o luar…

E nada pertence à saudade…

O meu corpo sente

As sílabas do poema

Quando a madrugada se despede da cama…

E o meu corpo,

Ausente

 

Sente.

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 1 de Agosto de 2016

sexta-feira, 15 de abril de 2016

A morte de um esqueleto


Tenho medo. A noite traz os esqueletos da insónia, perfilam-se em frente ao meu quarto, e sei que brevemente haverá uma revolta.

Tenho medo,

À minha volta brincam as flores da Primavera, loucas, loucas como as serpentes bronzeadas dos dias sem escrever,

Das palavras, o silêncio da madrugada que acorda embriagada,

Tonta, alimenta-se das minhas mãos como se alimentam os pássaros dos meus sonhos, medo, tenho medo.

Tenho medo da noite,

Do sifilítico cansaço da espuma do mar,

Dos barcos encalhados junto aos esqueletos, em frente ao meu quarto,

Fujo deste esconderijo,

Fujo desta cidade amaldiçoada pelo vento…

Medo.

Sinto o peso do xisto sobre os meus ombros,

E o bolorento desejo guardado na minha algibeira,

Tenho medo,

Sim,

Sinto a maldição das Calçadas que dormem no rio,

Sim,

Sinto a solidão das manhãs a olhar para o infinito, assim, assim como olham os esqueletos em frente ao meu quarto,

O peso da lua,

O peso do medo abraçado à lua,

Do medo,

Hoje, hoje acordei desconectado das sílabas do prazer,

As flores do meu jardim, tristes,

As bananeiras do meu jardim, contentes,

E os esqueletos que habitam em frente ao meu quarto…

Ausentes,

Diminutos segundos de lentidão,

O medo.

Sinto.

A lentidão dos ossos dos esqueletos em frente ao meu quarto, homens, mulheres, crianças, plantas e alguns animais de estimação,

Um cartão de cidadão grita,

Zurra,

Pimba…

E morre de overdose,

Sei que sim,

Sei que este medo pertence à neblina da minha terra, sei que este medo pertence às desavenças cotidianas, embargadas sonolências das noites em papel,

O medo,

No medo,

Sinto.

Sinto a sombra do meu esqueleto de vidro,

Sinto a sombra do meu cabelo quando chove torrencialmente no meu olhar…

E regressa o medo,

A morte,

A morte de um esqueleto.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 15 de Abril de 2016

domingo, 20 de março de 2016

Os dias...

Os dias encostados à maré, um sorriso de sémen aprisionado na garganta, sinto o peso do corpo sentado no esplendor da noite, entrelaço as mãos, começo a rezar…, esqueço-me de mim, de ti, dela, e dele, nunca percebi o silêncio das aves, dos pinheiros abandonados entre os rochedos do desejo, abro as pernas, sinto-te em mim, sorris
Amanhã um jazigo de sol entranhar-se-á em ti, à noite regressavam com os guizos da paixão, a borboleta poisada no teu ombro, meu amor, as imagens do nosso sofrimento suspenso nas sombras do esquecimento, estou só, sem o teu peso no meu peso, um dia voltarás a mim,
Sorris, fugimos do caos como fugiram todas as paixões deste areal, um barco morrerá nas tuas mãos, um marinheiro morrerá na minha mão, ele sofre, ele sente… o meu peso?
As ruas desertas, o sexo misturado no luar, os dedos meus encarnados no teu peto, e sorris…
Partir, os dias encostados aos meus dias, imaginas-me dentro de ti, eu, e eu… tão longe da tua palavra, do teu silêncio quando o meu arde na fogueira do adeus, estou só, sozinho neste inferno de morte, a vida desgraçada descendo a calçada, o corpo amarrado aos cortinados do medo, o jazigo da paixão encolhe-se no seu esqueleto, hesito, tenho medo, e volto a fugir, amo-te, amo-te como jangada do poema deambulando os alicerces cromados do circo da alegria, hoje tiraram-me um retracto, ficou mal, estou velho
Velha, cansada deste inferno encostado aos estilhaços da saudade, encosto-me a ti, meu amor, encosto-me a ti sabendo que nunca mais voltarás a minha noite,
Cansado,
Estou velho. Pareço um farrapo engatando gajos antes de cair a noite, sonho, sonho com as viagens ao escuro, a fome, lá fora, vive, mora e morre a fome, meu amor, lá fora as esquinas do sofrimento, as velhas nuas avenidas das orgias em papel, a tinta desta caneta, só, sozinho, esquecido nesta alucinada grandeza dos povoados beijos do Além…
Amanhã, Francisco, amanhã…
Sinto-te, sento-me no teu corpo de velhice, sempre o sono, a amargura, e nada de beijos, meu amor, e nada de beijos, meu amor…
 
Francisco Luís Fontinha
domingo, 20 de Março de 2016

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Sangue sofrido e pedacinhos de areia…


A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim

Assassinadas pelo coração do poema

Absinto

O mínimo tempo consagrado aos insectos

Que poisam no teu olhar

Imaginávamos o silêncio

Nas treliças da saudade

Sempre em desespero

Neste labirinto de espuma

Camuflada pelas mandibulas do cansaço

O louco sorriso

Nas avenidas do sofrimento

Que absorvem a cidade do medo

O teu corpo disperso na escuridão

Descendo do luar

Até à minha mão

(A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim)

Mortas

Trémulas segurando uma velha esferográfica

Escrevia em ti o sentido lapidar da timidez

Como um rochedo de insónia

Navegando no Oceano

A morte

Vivida a cada segundo de luz

A morte

Vivida a cada milímetro de tristeza

E voava nos teus braços

E voava nas tuas coxas

Até adormecer junto ao mar

A noite

O labirinto da palavra

Despedindo-se das uniformidades da sentença escrita

Morte

Até que as lágrimas se transformavam em flores assassinas

O dia inventado nas pequenas limalhas do desejo

Acordávamos sobre os lívidos secretos da angústia

E terminávamos nos limos do corpo

Desejado

Indesejado

Do corpo

No corpo

Do majorado envenenado

Observávamos as gaivotas construídas no papel pelas mãos do pôr-do-sol

E nada mais tínhamos nas veias

Apenas sangue sofrido

E pedacinhos de areia…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 13 de Fevereiro de 2016

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Simplifiquei o cansaço, libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…


Simplifiquei o cansaço,

Libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…

Sou livre de amar,

Sou livre de ser amado,

Ou nada das duas, é-me indiferente,

Simplifiquei o desejo,

E hoje é muito mais fácil desejar…

Ser desejado,

Ou nenhuma das duas,

É-me igual,

Indiferente,

Mortal,

O salto para os teus longínquos e proibidos braços,

Estou só, alguns livros e nada mais,

Simplifiquei tudo…

Só não consigo simplificar o amor,

Tão difícil amar…

Amar aquele que nos ama,

Tão difícil amar…

Aquela que nos ama…

Simplifiquei o cansaço,

As noites mal dormidas

Por motivos de preguiça,

O abraço,

Mortal

O salto para o teu olhar,

Fico cego,

Absorvido pelas insígnias do destino

E afins,

Simplifiquei o cansaço,

Libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…

 

Só.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 28 de Novembro de 2015

sábado, 31 de outubro de 2015

Um dia nos meus lábios


Diz que disse sem o dizer

Dizendo que eu era um monstruoso esqueleto com asas

Que voava enquanto todos dormiam

E que tinha uma cidade só minha

Diz que disse sem o dizer

Dizendo

Mas disse-o

Esquecendo

Que eu voava nas noites de insónia

Que era monstruoso

Que tinha alergia aos rochedos da solidão

Não o dizendo

Disse-o

Um dia

Nos meus lábios

Emagrecidos

Pobres

Descarnados pelo veneno da madrugada

Que só o Inverno consegue abraçar

Diz que disse sem o dizer

Dizendo

Que um dia

Qualquer dia

Eu

O esqueleto monstruoso com asas

Ia morrer

Sem o saber

Dizia-o

Que disse

Sem o dizer

Inventando-me sonhos que eu não queria

Nem dormia

Com medo das suas garras de chocolate…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 31 de Outubro de 2015

domingo, 18 de outubro de 2015

O medo da paixão


Fontinha – Outubro/2015
 
 
Ontem tinha medo do escuro,
Meu amor,
Hoje tenho medo da paixão,
Dos pássaros mais tristes que habitam o meu jardim,
Ontem, ontem não,
Meu amor,
Hoje tenho medo das pedras, porque não falam,
Porque, também elas, tal como eu,
Não amam,
Nem choram,
Ontem sentia na minha mão o cansaço da vida,
A não alegria de viver,
Fingia a partida,
Fingia amar sem saber que fingia…
Fingir que não sofria,
Hoje, meu amor,
Hoje tenho medo da paixão…
Sofrida,
Vencida,
Porque ontem tinha medo,
Medo do medo,
Mas hoje, meu amor,
Hoje aprisionei o medo num cubo de vidro,
Vejo-o, toco-lhe nas faces…
Mas ele deixou de pertencer aos vivos…
E é apenas uma palavra sem significado.
 
Francisco Luís Fontinha – Algures fora de Alijó
Sábado, 17 de Outubro de 2015