Tenho
medo. A noite traz os esqueletos da insónia, perfilam-se em frente ao meu
quarto, e sei que brevemente haverá uma revolta.
Tenho
medo,
À
minha volta brincam as flores da Primavera, loucas, loucas como as serpentes
bronzeadas dos dias sem escrever,
Das
palavras, o silêncio da madrugada que acorda embriagada,
Tonta,
alimenta-se das minhas mãos como se alimentam os pássaros dos meus sonhos,
medo, tenho medo.
Tenho
medo da noite,
Do
sifilítico cansaço da espuma do mar,
Dos
barcos encalhados junto aos esqueletos, em frente ao meu quarto,
Fujo
deste esconderijo,
Fujo
desta cidade amaldiçoada pelo vento…
Medo.
Sinto
o peso do xisto sobre os meus ombros,
E
o bolorento desejo guardado na minha algibeira,
Tenho
medo,
Sim,
Sinto
a maldição das Calçadas que dormem no rio,
Sim,
Sinto
a solidão das manhãs a olhar para o infinito, assim, assim como olham os
esqueletos em frente ao meu quarto,
O
peso da lua,
O
peso do medo abraçado à lua,
Do
medo,
Hoje,
hoje acordei desconectado das sílabas do prazer,
As
flores do meu jardim, tristes,
As
bananeiras do meu jardim, contentes,
E
os esqueletos que habitam em frente ao meu quarto…
Ausentes,
Diminutos
segundos de lentidão,
O
medo.
Sinto.
A
lentidão dos ossos dos esqueletos em frente ao meu quarto, homens, mulheres,
crianças, plantas e alguns animais de estimação,
Um
cartão de cidadão grita,
Zurra,
Pimba…
E
morre de overdose,
Sei
que sim,
Sei
que este medo pertence à neblina da minha terra, sei que este medo pertence às
desavenças cotidianas, embargadas sonolências das noites em papel,
O
medo,
No
medo,
Sinto.
Sinto
a sombra do meu esqueleto de vidro,
Sinto
a sombra do meu cabelo quando chove torrencialmente no meu olhar…
E
regressa o medo,
A
morte,
A
morte de um esqueleto.
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira,
15 de Abril de 2016