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domingo, 11 de junho de 2023

Lágrima de esperança

 Pincelo os teus seios de cor silêncio

E escrevo nos teus seios

Com os meus lábios

Amo-te,

 

Pincelo os teus seios com um pedacinho de pigmento

Em desejo

Enquanto o vento

Depois do beijo…

Me abraça na espuma deste mar revolto,

 

Pincelo os teus seios de cor amêndoa

E semeio neles as primeiras palavras da manhã

E percebo que nos teus seios

Há uma criança

E percebo que nos teus seios…

Há uma lágrima de esperança.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

11/06/2023

terça-feira, 30 de maio de 2023

Manhã nos teus braços

 

Desta cidade

Desta cidade em despedida

Submarino dos meus braços

Nos cansaços

Desejados

Nos mares navegados

Ruas em descida

Avenida debaixo do braço

Desta partida

Nesta cidade vendida

Desta cidade

Desta avenida…

 

Desta cidade viciada no meu corpo

Que come o meu cabelo durante a noite

Desta cidade apodrecida

De putas e de marinheiros

De barcos e de cacilheiros

Desta cidade

O meu corpo cidade

Fundeado em cada manhã

Nos teus braços,

 

Nesta cidade

Desta cidade sem idade

Nas minhas mãos

Suspensas na claridade de um novo amanhã

Aprisionada em mim

Da cidade

À cidade…

Desta minha cidade

Uma cidade sem jardim

Onde durmo

Onde me escondo…

Desta cidade

Na cidade de mim

Cidade

Que habitas esta cidade

Do meu corpo cidade

No meu corpo em cidade.

 

 

 

Francisco

30/05/2023

domingo, 7 de maio de 2023

Esse corpo

 Esse corpo que é meu,

Onde escrevo os poemas que a manhã me dá,

Onde desenho o silêncio que a manhã me rouba,

Esse corpo

Que é o teu,

Meu amor.

 

Esse corpo que é meu,

Onde guardo os poemas que a manhã me dá,

Onde escondo todo o silêncio…

Antes de chegar a manhã e mo roubar,

Esse corpo

Que é o teu,

Meu amor.

 

Esse corpo que é teu,

Onde escondo todas as flores e todas as palavras…

Que a manhã me dá,

Que a manhã me rouba…

Esse corpo

Que é o teu,

Meu amor.

 

 

Alijó, 07/05/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Segredo olhar

 

Olho-te e desejo-te.

Olho os teus olhos cintilantes

Das manhãs depois de acordarem,

Olho-te e desejo-te,

Como desejo o mar.

 

Olhos os teus lábios pincelados de alegria,

E desejo-te,

Em cada poema…

Em cada dia.

 

Olho-te e desejo-te,

Menina do mar,

Olho-te quando te abraças às tempestades,

E se eu pudesse salvar-te,

Em vez te olhar…

Melhor seria te resgatar.

 

Olho-te e desejo-te,

Palavra que a noite lança ao luar,

Quando poisas a cabeça nas montanhas de sonhar,

Olho-te e desejo-te…

E não me canso de te olhar.

 

 

Francisco

24/04/2023

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Pontes

 Procuro sem saber o que procuro

Procuro sem saber onde procurar…

Aquilo que procuro

 

Não sei se deva procurar

O mar

Uma pequena pedra

Não sei se deva procurar

Aquilo que sinto que me falta

Que todos os dias procuro

Que todas as noites desisto em procurar

 

Não sei se é Deus o que procuro

Se o que procuro é uma palavra

São muitas palavras

Procuro

Sem saber onde procurar

Tão pouco se o deva procurar

Procuro o mar

E o mar teima em não me procurar

Procuro todas as pontes metálicas da cidade

Também não sei se o deva procurar

Porque a cidade não tem pontes metálicas

Não tem rio

Ou o mar

 

Procuro a música e a poesia

Procuro de manhã

Procuro à tarde

Procuro todo o dia

Procuro sem procurar

A noite antes de acordar

E eu poder procurar

Mas o quê?

O que devo eu procurar?

Procuro o mar

E o mar teima em não me procurar

Procuro a lua

E a lua hoje sem luar

Sem mar

Sem janelas viradas para o mar

Onde eu possa procurar

Aquilo que não encontro

Aquilo que não me canso de procurar

 

Procuro flores

Mas não devem ser flores

Aquilo que deva procurar

Procuro as árvores

E todos os pássaros de voar

Procuro

Procuro

Sem saber se deva procurar

Sem saber se deva sonhar

Ou simplesmente desistir

Ou simplesmente deixar…

De sonhar

De tanto procurar

Aquilo que procuro

Aquilo que não me canso de procurar

Sem saber

Sem o querer

Procurar

Procurar aquilo que não deva procurar.

 

 

 

Francisco

07/04/2023

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Janelas quadriculadas

 

Semeio na minha mão

As janelas quadriculadas do vento,

Enquanto os cortinados do pensamento

Dançam no meu coração,

 

Abraço-me à tempestade,

Desenho nos lábios a insónia das noites sem dormir…

São poucas, são quase nada… e depois de partir

As janelas quadriculadas semeadas,

São a saudade,

Da saudade das tristes madrugadas,

 

Semeio na minha mão,

As janelas quadriculadas e os luares aprisionados,

Até que depois de acordar a manhã, os velhos cortinados…

Morrem dentro do meu coração.

 

 

Francisco

05/04/2023

domingo, 2 de abril de 2023

Girassóis, quiçá um dia

 Girassóis

Palavras que o vento escreve

Palavras que o vento lança

No peito de uma criança

Girassóis

Dos corpos celestes

Aos corpos circunflexos da insónia

Quiçá amanhã esteja sol

Quiçá amanhã seja Primavera

E enquanto procuro as tuas lágrimas

Quiçá

Amanhã seja segunda-feira

 

Girassóis comestíveis

Girassóis ensonados

Com espinafres

E ovos estrelados

 

Quiçá amanhã morra

De qualquer coisa

Senhor

Meu senhor

Quiçá

Quiçá depois da meia-noite

 

Que feliz quiçá

Enquanto dormem debaixo das pontes

Todos os sonhos

Quiçá

De uma meninice ausente

Antes de mim

Antes de tudo

Os girassóis

Que folheio como poemas

Quiçá sem destino

Esses poemas que ardem

Que vomitam silêncios

E dos girassóis

Quiçá

Amanhã

Amanhã ele morra

O poeta e a poesia

O poeta

Quiçá

Ao nascer do dia

 

 

 

Alijó, 02/04/2023

Francisco

quarta-feira, 22 de março de 2023

Cubo de vidro

 No esplendor da noite

Um fio de sémen

Poisa na sombra adormecida do meu esqueleto,

E da paixão dos pássaros,

Oiço os gritos de um Deus arrogante…

Distante dos rostos envenenados da solidão,

 

O rio,

Morre na minha mão…

Como morreram todos os rios,

Como se suicidaram todos os rios que conheci…

Todos,

Todos na minha mão,

 

Desenho no teu pincelado olhar

A tristeza que os dias transportam desde a montanha,

O sol, o sol esconde-se numa pequena caixa de sapatos,

E do corpo,

As pequenas lâminas da alegria…

Fogem em direcção ao mar,

 

Cai a máscara sobre o chão lamacento do silêncio,

Ouvem-se os gritos e gemidos da morte…

E da minha mão,

O enforcado rio em pedacinhos de sorriso…

Feliz;

Feliz porque deixou de sofrer…

E agora…

Brinca dentro de um cubo de vidro

Com janelas adormecidas

E olhos adormecidos…

 

 

 

Alijó, 22/03/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Viagem

 Poiso os meus braços

Nos teus braços,

 

Viajo nos teus lábios,

Pequena flor da madrugada,

Enquanto as árvores do meu jardim

Brincam nos teus olhos de mar,

 

Beijo o teu corpo,

Acendo a lareira do teu desejo,

 

Viajo nos teus lábios,

Incêndio das nocturnas noites de luar,

Presépio impresso em papeis de areia…

Poiso os meus braços,

Nos teus doces braços,

E a manhã é um cortinado colorido

Sem tristeza,

Sem nuvens…

Sem alarido.

 

 

 

 

Alijó, 05/02/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Asas salgadas

 O mar levou-lhe a tempestade

Dos dias mergulhados nas marés de insónia,

Todos os peixes,

Todos os pássaros,

Erguem-se nas mãos de Deus,

 

E há um sorriso desenhado

Sobre o fim de tarde

Junto à sombra do menino dos calções,

O mar levou-lhe a tempestade,

E da janela

 

Fogem as flores do jardim nocturno da solidão,

O mar levou-lhe a tempestade

E a solidão dos dias,

E hoje o mar é um cemitério

De sombras,

 

Depois,

No espelho da ausência,

Um gesto de carinho abraça-o,

Toca-lhe o rosto

E da voz acordaram as lindas tardes de Primavera;

 

São lindas as estrelas em papel

Suspensas no tecto de uma alcofa,

O menino dos calções, hoje, sorri… brinca,

E aos poucos semeia na terra

As palavras em pedaços de silêncio, enquanto não acorda o novo dia.

 

 

 

 

 

Alijó, 24/01/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 22 de janeiro de 2023

Olhos de mel

 Nos teus olhos,

Madrugada sem nome,

Quando me tocas

E sinto o rio da paixão que brinca no meu peito,

 

Quando me tocas

E poisas sobre mim,

As estrelas dos teus lábios,

E deixas ficar no meu corpo

A alvorada nas mãos de uma criança,

 

E nos teus olhos,

Quão luar das noites de insónia,

O primeiro beijo…

No beijo dos teus olhos de mel.

 

 

 

 

Alijó, 22/01/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Metástase

 Há-de regressar a metástase do silêncio

Ao teu corpo desengonçado

Enquanto este rio de sangue

Corre para as umbreiras do amanhecer,

 

Há-de regressar deste rio sangrento

A fome e a peste

A solidão

E as amendoeiras em flor,

 

Há-de regressar a metástase do silêncio

Da fina flor desenhada

Deste pobre corpo

O corpo dependurado na manhã,

 

Há-de regressar

Regressar às sonâmbulas madrugadas

O sorriso suspenso nos teus olhos

Quando das metástases do silêncio

 

Este corpo

Corpo que dizem que me pertence

Que não acredito

Porque já nada me pertence

Se alegra na noite de mim.

 

 

 

 

Alijó, 17/01/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 15 de janeiro de 2023

Deus da ausência

 Do lápis negro

Carvão da ínfima linha do horizonte

Manhã que se suicida nas umbreiras do mar

Pedaço de rio

Quando na saudade

Um pequeno livro

Dentro do teu livro

Às palavras que grito

Quando o sono de inveja

Poisa no teu corpo.

 

Somo duas

Éramos três flores com espinhos

Quando a alma diz ao Diabo

Que do dia nada de bom

Porque só a noite te envenena

Na noite que te lamenta.

 

Verga-te

Deita-te dentro do sono

Quando uma laranja

Fica esquecida na tua mesinha-de-cabeceira.

 

O despertador acorda-te

Tu ergues-te

Tu vives

Enquanto dentro de ti

Em mim

Que sou eu

Morre.

 

Um docinho.

 

Poiso a cabeça

Sobre o teu peito

Teu seio direito

Beijo-o

Beijo-o porque está pertinho da janela

Da janela com vista para o Oceano

Abro-a

Beijo-o

Pego no pôr-do-sol

Ato-o a todos os barcos

Beijo-o

Puxo-os e acomodo-os no meu quarto

Volto ao teu seio direito

Beijo-o

Puxo-os

Eles dormem

Elas dormem

Morrem

Fumam

Deitam-se nas tuas coxas de incenso

E também eles

E também elas

Morrem.

 

Com o lápis escrevo

Apagas com a borracha

O que escrevo

Dos meus beijos

Às minhas mãos.

 

Grito.

Sinto-o dentro deste silêncio

Quando dentro das sanzalas

Uma criança

Pede pão

E um não

Pão

Quando o tempo

Se mata aos teus olhos

Dentro dos olhos

O querido Deus da ausência.

 

Fecho a janela

Deito a cabeça

Beijo o teu seio esquerdo

Deixo em poiso o teu seio direito…

E vou adormecer todos estes barcos.

 

 

 

 

 

Alijó, 15/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 14 de janeiro de 2023

O trezentos milhões

 Descobri agora que sou o espermatozóide número trezentos milhões, ao meu lado, já algo cansado, tinha o espermatozóide número duzentos milhões; e quase ao mesmo tempo, quando chegados ao óvulo, pimba.

Éramos dois à entrada, depois, passado algum tempo, e devido a uma qualquer avaria na linha de montagem (parece que o engenheiro responsável tinha saído e o operador da DEX34CD, máquina de grandiosa importância, tinha ido cagar às traseiras), ficamos apenas um.

Isto tudo para o autor demonstrar que dentro dele vivem dois gajos; o mesmo corpo, os mesmos lábios, o mesmo pénis e de feitios diferentes.

O meu pai, homem de muita sorte, porque tendo dois rapazes habitando ambos apenas um corpo, só teria de fazer uma única despesa. Só teria no futuro de comprar um par de calças em vez de dois, um par de sapatos em vez de dois e assim por diante…

Crescemos, um gostava do mar, o outro, pelo contrário, não gostava do mar. Um gostava do dia, quanto ao outro, odiava o dia e amava a noite, enquanto o outro que amava o dia, e de vez em quando, amava a noite, fugiu um dia do dia e abraçou-se também ele à noite.

Enquanto um fode o outro olha e enquanto o outro olha o outro fode.

E assim temos vivido e assim vamos morrer; um a foder o outro.

 

 

 

 

 

Alijó, 14/01/2023

Francisco Luís Fontinha

Gemidos nocturnos

 No silêncio da noite

Abraço-me às cinzas do teu olhar

Derradeiro desejo que toca a tua pele incandescente

Que no lençol do prazer

Deixa ficar as palavras murmuradas,

 

Na lareira

Os meus ossos desistem da madrugada

E a terra arável das minhas mãos

Evapora-se nos teus seios,

 

Como são transparentes as tuas mãos que me tocam

Num infinito gesto de protecção

Como são belos os teus olhos que me excitam

E desenham em mim as estrelas sem nome

E me oferecem os gemidos nocturnos da paixão,

 

Do silêncio da tua pele

Pedacinhos de mar escondem-se nas tuas coxas de insónia

E da lareira onde os meus ossos desistem da madrugada

Vem a mim o teu orgasmo disfarçado de sono,

E a manhã acorda numa fotografia

E traz a prisão das Pirâmides

E os dedos que te excitam nas noites envergonhadas…

 

 

 

 

Alijó, 14/01/2023

Francisco Luís Fontinha