Descobri agora que sou o espermatozóide número trezentos milhões, ao meu lado, já algo cansado, tinha o espermatozóide número duzentos milhões; e quase ao mesmo tempo, quando chegados ao óvulo, pimba.
Éramos dois à entrada,
depois, passado algum tempo, e devido a uma qualquer avaria na linha de
montagem (parece que o engenheiro responsável tinha saído e o operador da
DEX34CD, máquina de grandiosa importância, tinha ido cagar às traseiras),
ficamos apenas um.
Isto tudo para o autor
demonstrar que dentro dele vivem dois gajos; o mesmo corpo, os mesmos lábios, o
mesmo pénis e de feitios diferentes.
O meu pai, homem de muita
sorte, porque tendo dois rapazes habitando ambos apenas um corpo, só teria de
fazer uma única despesa. Só teria no futuro de comprar um par de calças em vez
de dois, um par de sapatos em vez de dois e assim por diante…
Crescemos, um gostava do
mar, o outro, pelo contrário, não gostava do mar. Um gostava do dia, quanto ao
outro, odiava o dia e amava a noite, enquanto o outro que amava o dia, e de vez
em quando, amava a noite, fugiu um dia do dia e abraçou-se também ele à noite.
Enquanto um fode o outro
olha e enquanto o outro olha o outro fode.
E assim temos vivido e
assim vamos morrer; um a foder o outro.
Alijó, 14/01/2023
Francisco Luís Fontinha