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sábado, 6 de maio de 2023

Flor destino

 Do menino

Que fui,

Deixei se o ser,

Hoje sou flor destino

No destino de viver,

 

No destino de sofrer.

O menino que fui em degustação matinal,

Ao menino em que me tornei…

Que fui,

E não deixarei…

 

De o ser,

Dentro deste menino,

Há um menino, o menino destino…

No destino de morrer,

Quando este pobre menino…

 

Volta a ser menino.

Do menino que fui,

Ao menino em que me tornei,

Havia um outro menino,

Um menino que nunca amei,

 

Um menino que nunca me amou…

Do menino que fui,

Em calções de doce mar,

Quando este pobre menino

Se afoga no mar.

 

 

 

Alijó, 06/05/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de abril de 2023

O menino dos calções e das estrelas em papel

 Vou contar-te uma história.

Uma história?

Sim, uma história…

Há muitos anos,

Muitos?

Sim, muito, muitos…

Havia um menino, o menino dos calções, que desenhava no mar barcos em papel e tinha no tecto onde dormia, estrelas, estrelas que falavam,

Que fixe, estrelas que falavam!

As estrelas falam?

Nem todas, estas sim.

O menino passava as tardes debaixo da sombra das mangueiras a sonhar, sonhava que um dia, um qualquer dia, voava, que um qualquer dia todo o mar era só dele, sonhava, sonhava muito,

O que é sonhar?

Sonhar…

Sonhar é vestir-se de pássaro, e

Voar.

Sonhar é vestir-se de pássaro e voar sobre a cidade, quando a cidade, toda a cidade, está escondida no cacimbo, sonhar é vestir-se de pássaro e voar em cada manhã que acorda, quando o sono já dorme,

Também posso vestir-me de pássaro e voar?

Sim, claro, claro que sim… e deves.

Um dia, o menino dos calções e das estrelas em papel, um qualquer dia, descobriu uma caixinha muito pequenina, muito

Muito, muito?

Sim… muito pequena, e nesse dia, um qualquer dia, tentou abrir a caixinha, tentou, tentou… até que consegui,

O que tinha a caixinha?

Olha… um coração,

Um coração?

O que é um coração?

Bem…

Para mim, que estudo engenharia mecânica e que nunca serei engenheiro, o coração é uma bomba, apenas isso, uma bomba que não se cansa de trabalhar, noite e dia, dia e noite, até que um dia, qualquer dia, pára. Para outros, o coração é amor,

O menino pegou com muito jeitinho no coração, olhou-o como se olham as flores, com muito cuidado (olha, nunca trates mal as flores)

Porquê?

Porque as flores também sofrem… e precisam de amor e carinho, tal como as estrelas que falavam e que brincavam todas as noites no quarto do menino dos calções e das estrelas em papel,

E enquanto o menino fazia festinhas no coração, este… este sorriu-lhe e disse-lhe

Olha, gosto muito de ti.

O menino não queria acreditar, e desde então, até hoje, o menino tinha sonhos, vestir-se de pássaro e voar…

O menino acreditava, que um dia, um qualquer dia, o mar lhe entraria pela janela, e o levava para muito longe, onde outros meninos, também eles com calções e que tinham estrelas em papel no tecto do quarto e que também elas, como as do outro menino falavam, seria sempre o menino dos calções,

E hoje, ainda é o menino dos calções?

Não, não…

Com os anos, o menino deixou de se vestir de pássaro e de voar…

E a cidade que se escondia dentro do cacimbo?

Está lá…

Está lá, muito longe… tal como as asas do menino dos calções e das estrelas em papel.

Nunca deixes de te vestires de pássaro e voar…

 

 

 

 

Alijó, 29/04/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Asas salgadas

 O mar levou-lhe a tempestade

Dos dias mergulhados nas marés de insónia,

Todos os peixes,

Todos os pássaros,

Erguem-se nas mãos de Deus,

 

E há um sorriso desenhado

Sobre o fim de tarde

Junto à sombra do menino dos calções,

O mar levou-lhe a tempestade,

E da janela

 

Fogem as flores do jardim nocturno da solidão,

O mar levou-lhe a tempestade

E a solidão dos dias,

E hoje o mar é um cemitério

De sombras,

 

Depois,

No espelho da ausência,

Um gesto de carinho abraça-o,

Toca-lhe o rosto

E da voz acordaram as lindas tardes de Primavera;

 

São lindas as estrelas em papel

Suspensas no tecto de uma alcofa,

O menino dos calções, hoje, sorri… brinca,

E aos poucos semeia na terra

As palavras em pedaços de silêncio, enquanto não acorda o novo dia.

 

 

 

 

 

Alijó, 24/01/2023

Francisco Luís Fontinha