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terça-feira, 1 de maio de 2018

Sem ti


O fogo, sem ti, não é fogo.

É cansaço que se apodera dos braços,

É flor que morre na tua mão,

É avenida deserta, nesta cidade, sem pão.

O fogo, dos beijos baços,

É jardim de árvores caquécticas,

Adormecidas,

Tortas.

O fogo, sem ti, não é fogo.

É noite mal dormida,

Sorriso na parada do sofrimento,

De olhar distante,

É sirene da alvorada,

Muro em xisto,

Que atormenta minha amada…

Ai, meu amor, o fogo, sem ti…

Atormenta tanta gente.

O fogo, sem ti, meu amor,

É a luz das esplanadas de Verão,

São ruas,

Casas…

São barcos encostados ao portão,

Quando o meu quintal dança nos teus lábios de algodão,

O fogo, sem ti, meu amor,

Não é nada, nem pão, nem pedras poisadas no coração.

Amanhã, se o fogo, sem ti, não for fogo,

A minha vida é um pequeno conto,

Palavras…

Palavras, meu amor, sem ti!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Maio de 2018

sábado, 17 de março de 2018

Montanha em fuga


Este Sábado bafiento,

Perdido no ciúme da madrugada, presente no ausente,

Como uma ponte em cimento,

Latente,

O cheiro do teu cabelo numa esplanada de Verão,

O cigarro aceso, que tão mal faz ao coração,

Dizem eles, os médicos,

Mas eu não acredito,

Sendo iletrado,

Sou também um homem apaixonado,

Terno, lento,

Lanço este grito,

Quando o rio adormece na tua mão,

Tão lindas, as flores, meu amor,

Quando o poeta escreve a canção,

O dia, término cansaço da rua deserta,

Porta encerrada, porta aberta,

O carteiro traz-me a carta, a tua carta lacrada,

No marfim encarcerada,

Os beijos, as lanternas dos beijos emancipados,

Quando os corpos lançados,

Ao mar,

Um sopro de vento entra pela janela,

Encerrada,

Aberta,

Sem ninguém, ausente serpente do amar…

Tão bela,

E de lábios a palpitar,

Oiço o mar no teu corpo de limão,

Esqueleto camuflado pelas lâmpadas do anoitecer,

Sem querer,

Vou ao teu encontro, abraço-te e recordo a montanha,

Uma criança em fuga,

Que ninguém a apanha,

É isto o meu viver?

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 17 de Março de 2018

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Tela invisível


Penso em ti,

Pareces um desenho cansado numa tela invisível,

Sofres em silêncio para eu não perceber,

Finges que o mar habita o nosso quintal,

E que está tudo bem…

Claro que não está tudo bem…

O trânsito é infernal dentro dos nossos corações,

As ruas são estreitas, pequeníssimas…

Como as ruas de brincar dos brinquedos das crianças,

Choras,

Choras na escuridão para que eu não perceba…

Mas sabes que eu dou conta de tudo,

Conheço o teu cabelo quebradiço,

Conheço o teu rosto de granito e xisto…

Em direcção ao rio,

Penso em ti…

E não sei o que será de mim sem a tua presença…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Setembro de 2017

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O exilado corpo da paixão


Vivo exilado neste corpo cansado,

Tenho as rugas do desejo estampadas nas mãos calejadas pela velha e imaginária enxada,

Os socalcos lá longe, dormem profundamente na sombra de um rio,

Navego em ti, minha querida, até que regresse a morte e te leve para longe,

Imagino-me sem ti, um grande desassossego, uma longínqua e inerte sentido de não liberdade,

Perdido na cidade, esquecido na paragem do eléctrico, só, sem ninguém…

 

Sei que um dia vamos estar todos juntos… mas isso, mas isso é quando?

 

O rosto cremado na lixeira da paixão,

A sombra enigmática do sorriso ao acordar, distintas portas de saída…

E da rua, o silêncio fumarento dos cigarros envenenados pela tua dor,

 

Vivo,

Sou um exilado da solidão,

Entre pássaros e as abelhas desgovernadas do teu coração,

 

E amanhã será um novo dia, de luta, e da pele incinerada do abismo…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 23 de Agosto de 2017

domingo, 13 de agosto de 2017

O silêncio dos mortos


Tenho medo da tua imensidão,

Da fúria das tuas mãos quando o vento se agacha no chão…

E pede perdão,

 

Pára,

Escuta o silêncio dos mortos, e dos sonâmbulos abandonados,

Ergue-te e cresce na floresta dos vivos,

Enquanto a cidade se prostitui nos horários nocturnos da madrugada,

Pára,

Escuta o silêncio dos mortos, e dos pássaros envenenados,

E da paixão,

A húmida terra lapidar do desassossego…

 

E crava no peito uma canção,

Abraça o coração…

 

Das falésias adormecidas.

 

Tenho medo da tua imensidão, e dos acrílicos desenhos desgraçados.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 13 de Agosto de 2017

quarta-feira, 12 de julho de 2017

A arte de ser poeta


As palavras escrevem-se no rosário da noite,

Crescem livros de porcelana,

Relógios de Sol…

Telas em branco saboreando os pincéis da solidão,

Deito-me nesta cama,

E sem palmilhar este chão,

Agreste como aqueles que não têm pão,

O trigo invade a seara,

Desce a montanha…

E perde-se na razão.

 

 

As palavras ardem nesta fogueira,

Coração fraccionado e em pedacinhos,

 

Sempre que não regressa a tarde.

 

 

As palavras que escrevo no teu corpo,

Os livros que construo no teu cabelo lamacento depois das chuvas de Verão,

Seca o capim,

Fica a terra seca e gretada pela confusão das crianças que brincam sem parar,

 

E adormecem como gaivotas,

 

 

Que a noite os traga de volta.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Julho de 2017

sábado, 24 de junho de 2017

O grito


Neste cansaço dia

Sinto o abraço da alegria,

Sou um homem desajeitado

E sem sono,

Sou uma pedra imperfeita,

Sou uma nuvem desfeita…

E este corpo ancorado,

E este corpo cruxificado ao teu olhar madrugada,

O feitiço de amar,

Na planície magoada

Pela bela trovoada…

Sou um homem desiludido com a cidade dos Deuses Tristes de Morrer…

Uma amêndoa apodrecida jaz sobre a minha mão de escrever,

Sempre me recordam as cinzas do teu silêncio amanhecer,

Neste cansaço dia

Sinto o abraço sem perceber o que sentia,

As albufeiras da solidão

Descem a montanha até ao meu coração,

Irritado,

Sou uma pedra de granito

E grito…

E sinto sem sentir…

A alegria de sorrir,

Na tristeza do grito.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Junho de 2017

segunda-feira, 12 de junho de 2017

A arte de sofrer


Na arte de sofrer,

Quando dentro de mim arde um corpo esquelético, e sem o saber,

Ele ilumina a noite que se cansou de crescer,

 

Tenho nas raízes solares a vontade de partir…

Caminhar naquele rio absorvente

Que engole todos os corações,

Tenho nas mãos o sangue valente

Das marés e dos canhões…

Que me obrigam a sorrir,

 

Na arte de sofrer,

Deixo para ti o prazer…

O prazer de escrever,

 

No prazer de morrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Junho de 2017

sábado, 18 de março de 2017

O beijo do silêncio madrugada


Um beijo que o silêncio madrugada

Afaga na escuridão da ausência,

As silabas estonteantes do sono

Que adormecem nas velhas esplanadas junto aos rochedos,

Vive-se acreditando na miséria do sonho

Quando lá fora, uma árvore se despede da manhã,

Um beijo simples,

Simplificado livro na mão de uma criança,

Um beijo,

No desejo,

Sempre que a alvorada se aprisiona às metáforas da paixão,

Sinto,

Sinto este peso obscuro no meu coração,

Sinto o alimento supérfluo da memória

Quando as ardósias do amanhecer acordam junto ao rio…

E na fogueira,

Debaixo das mangueiras…

Os teus lábios me acorrentam ao cacimbo,

Sou um esqueleto tríptico,

Um ausente sem memória nas montanhas do adeus,

Um beijo que o silêncio madrugada

Afaga na escuridão da ausência,

A uniformidade das palavras

Que escrevo na tua boca,

Sempre que nasce o sol

Sempre que acordam as nuvens dos teus seios…

E um barco se afunda nas tuas coxas,

Oiço o mar,

Oiço os teus gemidos na noite de Lisboa…

Sem perceber que és construída em papel navegante…

Que embrulham os livros da aflição,

Um beijo, meu amor,

Um beijo em silêncio

Galgando os socalcos da insónia…

Vivo,

Vive-se…

Encostado a uma parede de vidro

Como leguminosas no prato do cárcere…

Alimento desperdiçado por mim.

Desamo.

Fujo.

Alcanço o inalcançado…

E morro.

 

 

Francisco Luís Fontinha

18/03/17

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Vida de marinheiro



Triste a vida de marinheiro,
Prisioneiro
Neste porto sem nome,

Estes socalcos me enganam
E abraçam o rio da saudade,
Estes socalcos lapidados na sombra da noite
Quando regressa a verdade,
E tenho no corpo o medo da revolta,
E tenho nas mãos o silêncio que não volta,
Estes socalcos da triste vida de marinheiro,
Prisioneiro
Neste porto sem nome…
E distante da madrugada,

Nem idade,
Nem dinheiro,

Triste,
Triste a vida de marinheiro
Assombrado pelo amanhecer do desejo
Que se perde num beijo…

Nem cidade,
Nem dinheiro,

E no tempo se esquece o coração de prata
Das marés loiras que o mar desajeita
E rejeita
Contra a corrente,

Triste a vida de marinheiro…
Triste,
Triste na cidade ausente.



Francisco Luís Fontinha
17/02/17

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Insónia da meia-noite


Habito neste poço

Mergulhado na escuridão,

Sinto o abraço do fantasma de cartão

Que foge da algibeira do moço…

Sem saber o significado do amor,

Ou da razão

De amar,

De ser amado,

O deslumbrante cidadão…

Aconchegado

Ao sorriso de algodão

Que alimenta a dor

E o cansaço da mão…

Esfuma-se no silêncio do mar.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 24 de Junho de 2016

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Vampiros da noite escura



(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Esta cadeira onde te recordo
Acorrenta-me aos sonhos da noite escura,
Sobre a mesa-de-cabeceira… o livro que emagrece o teu corpo nas lâmpadas incandescentes do desejo,
Minto-te, meu amor,
Como te minto quando digo que sou filho da noite…
 
Não, não meu amor,
 
Não,
Não existe noite
E tão pouco sou filho dela,
 
Sabes disso meu querido,
 
Sabes disso…
Que amanhã recordar-te-ei como um pedestal em movimento,
Uma orquestra vagueando sobre o balcão de um bar…
 
Sabes disso meu querido,
 
Algumas pedras e gelo…
E um beijo nas velas de um veleiro,
Esperam que esta cadeira se sente…
Que esta cadeira se sente no meu colo,
E me beije…
Como beijam os vampiros da noite escura.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 9 de Setembro de 2015
 


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Bala de tinta florescente



(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
“Sábados,
Domingos…
… E feriados,
Lamentamos,
Estamos encerrados”,
 
No pólen amanhecer
Cresce uma abelha em flor,
É disparada contra o coração
Uma bala de tinta florescente,
E de espingarda na mão,
Aquele louco transeunte…
Senta-se sobre a invisível espuma do mar,
Lamentamos,
O amor encontra-se encerrado para remodelação…
A paixão…
Afogada numa caixa em cartão,
Segue viagem, e não regressa a este cais ambulante,
 
“Sábados,
Domingos…
… E feriados,
Lamentamos,
Estamos encerrados”,
 
Apaixonados!
 
Não sei se vos diga o que sinto…
Porque nada sinto,
É estranho,
Saber que amanhã não vai acordar a madrugada,
É estranho,
Perceber que amanhã uma rosa embalsamada…
Acordará no estômago de um velho livro,
E o amor… e o amor é um gajo “fodido”.
 
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 4 de Setembro de 2015