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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio

Tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, alguns caixotes desaromados, alguma roupa e um sonho, acreditávamos no amanhecer junto à geada, a esfera do caos esbranquiçada poisada na nossa mão, eu era uma criança mimada, filho único, Africano de nascença, apátrida e desapontado pelas raízes do poder, tinha medo, meu pai, tinha medo da tua terra…
E sem o perceber
Assim temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite,
E que noite, meu amor, e que noite,
E sem o perceber acordei junto a um dos caixotes, sentia o vento do mar a entranhar-se nos meus frágeis ossos, chorava, gritava… nem um mabeco em meu auxílio,
E sem o perceber, tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, e soníferos beijos, lembras-te, meu amor, o cheiro intenso da madeira envelhecida e triste, os pregos enferrujados de tédio, e algumas frestas de solidão, ninguém, ninguém imagina este concerto de sons melódicos e metálicos do sofrimento, a morte, a ressurreição e a alvorada,
A tristeza de não saber quem és…
 
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 23 de Novembro de 2015

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Estar só nos teus beijos


Tenho medo dos tentáculos teus beijos

Quando demora a regressar o entardecer

Quando cai a chuva sobre o teu corpo

Tenho medo do teu silêncio nas palavras de esquecer

Quando a madrugada existe apenas para nos atormentar

Enrolas-te em mim

Finges que lês as minhas mãos

E voas em direcção ao mar

Fico só

Nesta escuridão de amar

Fico só

Neste esconderijo sonolento

Abraçado às abelhas do amanhecer

Fico só

E tenho medo

Dos tentáculos teus beijos

Que só a morte consegue perceber…

E o desejo desenhar no pavimento térreo da solidão

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 19 de Novembro de 2015

sábado, 24 de outubro de 2015

Palavras semeadas


Tenho no peito o cansaço da manhã ensanguentada,

Semeio as palavras como se elas fossem sementes,

Cubro-as para as proteger da geada,

Falo-lhes, acaricio-lhes o cabelo com desenhos de serpentes…

Sento-me, e espero que acorde a madrugada,

Amanhã crescerão e nascerá um louco livro de poemas,

O meu livro, o meu filho, a minha alegria,

Fumo-as enquanto crescem,

Fumo-as enquanto ejaculam a triste poesia,

Ai… ai como eu queria…

Abraça-las como se fosse o amor da minha tarde junto ao rio,

E só de pensar que elas me esquecem,

Como me esqueceram todas as palavras que semeei…

Desenhei nos teus lábios,

Cantei nos teus beijos,

Entre gemidos e desejos,

Entre silêncios e sábios…

E perplexos adágios.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 24 de Outubro de 2015

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Querer-te

Querer-te não te quero
Querendo, assim, querer-te sem saber se te quero,
Querer… dormir nos teus braços,
Não querendo,
Querer…
Sonhar nas tuas mãos,
Querer-te não te quero
Querendo
Querer-te,
Assim… triste como a noite,
Desejando querer-te
Querer… beijar os teus lábios querendo,
 
Sem tempo,
Sem crença…
De querer-te,
 
Querer-te não te quero
Querendo, fingir que te amo não te amando,
Querendo,
Não o quero…
Querer-te
Querer-te brincando,
 
Neste submerso cansaço da paixão,
O querer e não o querer,
O amar e não o ser amado,
Querendo,
Querer…
Querer-te amando,
Amar,
Sem saber que o amor é querendo,
 
Sem saber que o amor é querer-te,
Hoje,
Ontem não, ontem não querendo,
Querer-te beijando,
O querer,
O não o querer,
Sem sono,
Sem o saber,
Que querer…
É querer sem o saber,
E o quero-te…
É uma carta por ler.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 9 de Outubro de 2015

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Prisão

Há um pincel de tristeza, meu amor, no teu sorriso embalsamado na cinzenta neblina do amanhecer,
Há no teu corpo um jardim, meu amor, recheado de beleza, e é lá onde se escondem todos os pássaros filhos da noite,
Meu amor, há nos teus seios a Primavera acabada de nascer,
Tão linda, tão bela, meu amor… tão gentil como estas palavras que tento escrever,
Mas não o consigo fazer… não existem palavras, meu amor, como o luar poisado nos teus ombros enquanto a pianista inventa para nós sons melódicos, poesia travestida de música, meu amor, e começas a dançar na penumbra biblioteca dos fantasmas envelhecidos,
Há um pincel de tristeza…
Meu amor,
Que entranha os teus lábios na solidão
E me aprisiona ao teu coração…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 17 de Setembro de 2015

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cúbicas madrugadas


Oiço a madrasta voz da clarabóia em flor,

Sento-me sobre o fio da saudade,

Sinto-te nos meus braços… em cúbicas madrugadas,

Imagino os teus beijos flutuando na cidade,

Sinto nos meus braços o cansaço do amor

E a equação da liberdade,

Amanhã não haverá barcos enforcados,

Amanhã não haverá marés amordaçadas…

Oiço a madrasta voz da clarabóia em flor…

Entranhada nos poemas degolados

Pela caligrafia invisível do silêncio amanhecer,

Apaixonada?

Não… não há paixão neste corpo a arder

Nem fogueira neste peito desolado,

Amanhã haverá um esqueleto prensado,

Amanhã haverá uma mão no teu rosto espelhado…

Com medo de sofrer,

Com medo de partir para a longínqua noite das palavras por escrever.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 14 de Setembro de 2015

domingo, 6 de setembro de 2015

Madrugada lapidada


E se o mar me levasse para o seu imaginário mais secreto…!

O dia transforma-se em noite,

O vento veste-se de chuva,

Fina, miudinha…

Frágil o olhar da serpente envenenada pela paixão,

O luar morre nas mãos de uma andorinha,

Dá-lhe beijos na face mais longínqua do Universo,

Cansa-se e deita-se sobre o meu corpo em travestido xisto,

Não sei se quero,

Ou se existo nos teus lábios de madrugada lapidada,

E se o mar me levasse…

E se o mar me levasse na tua jangada…!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 6 de Setembro de 2015

sábado, 29 de agosto de 2015

As espingardas do coração abandonado


Deixou de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

Deixaram de escrever as palavras do vento estas mãos esfarrapadas,

Longínquas do olhar da madrugada,

O medo alicerça-se ao peito, as facas do silêncio grunham como as serpentes envenenadas pela noite,

O tédio quando esqueço a solidão e construo círculos de luz nos teus seios…

O teu corpo desabitado, encurralado nas cordas de nylon dos Oceanos mendigados,

E não consigo perceber o amor das flores desenhadas nos teus lábios perfumados,

Como nunca percebi o desejo em mim do estranho luar…

E este mar, meu amor,

Crucificado nas espingardas do coração abandonado,

Semeado nas searas do cansaço…

É triste, meu amor…

Deixar de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

É triste, meu amor…

Cair sobre mim o tecto do sofrimento junto ao Tejo,

E os Cacilheiros na minha boca… sufocando-me com o relógio enforcado nas pontes do Cacimbo fugindo do pôr-do-sol…



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Agosto de 2015

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Infinitos Oceanos de luz


Não há drageia

Nem poesia que me valha,

Entrelaçávamos as mãos nos infinitos Oceanos de luz,

Caminhávamos como crianças sobre as pedras invisíveis da carícia,

E tu olhavas-me quando eu ficava transparente,

Simples,

E ausente,

Voava abraçado às gaivotas,

Fotografava com o meu olhar os barcos de papel

Em velozes corridas contra o vento,

Um dia, despareci da tua sombra…

Subi os degraus do desejo,

Alicercei-me às tuas coxas salgadas…

E sentia os teus ossos na margem do rio onde nos sentávamos,

Tive medo,

Porque descia a noite sobre os nossos ombros,

E quando acordava a noite…

Ficávamos agachados junto aos beijos hipnotizados,

Dormíamos,

Dançávamos à janela com retractos para o Tejo,

A ténue velhice levava-nos para as ilhas rochosas da solidão,

Hoje…

Pareço um pedaço de aço

Esquecido numa qualquer sucata,

E espero,

E espero o regresso do forno…

E novamente serei um esqueleto nas mãos dos infinitos Oceanos de luz,

E espero… espero pela tua mão iluminada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 20 de Agosto de 2015

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Cais dos náufragos imaginários


Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos imaginários,

Venderam os ossos à escuridão

Trocaram a alegria pela tristeza…

E parecem tão felizes como eu,

Desenho-os na minha mão

Enquanto lá fora

Lágrimas em papel caiem sobre a calçada íngreme da solidão,

Sofro

E tenho medo da paixão,

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos encalhados na fina insónia do corpo,

Saberei porque durmo nesta cama de água salgada…

Saberei porque vivo nesta roldana enferrujada pelas nuvens da manhã,

Ao acordar,

Não estás,

Pertences aos ventos do Tejo…

Entre um beijo de despedida

E petroleiros acorrentados aos jardins de Belém,

Voltarei

Um dia

E este porto…


Sem ninguém,

Voltarei

Um dia

Sem saber o significado de regressar aos teus braços,

Esqueci o odor do teu perfume,

Esqueci a fúria do teu ciúme…

E esqueci a janela do teu olhar

Diluída numa folha amarrotada pelas montanhas da saudade…

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos...

Sem remetente,

Ausente de ti.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 18 de Agosto de 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Prisioneiro das marés vadias


Permaneço impávido em frente a este cadáver espelho,

 

Olho e sinto o mar enrolado nos meus braços,

Sou um prisioneiro das marés vadias,

Sem flores na minha algibeira,

As abelhas trazem-me os tristes beijos da madrugada,

Nos rochedos habitam os ossos da noite,

E nunca tenho tempo de sorrir para as estrelas…

Permaneço sentado,

De corda ao pescoço,

Como um boneco em palha…

Enlatado,

Vagabundo rosto,

Que ninguém consegue desenhar,

 

Que ninguém sabe consolar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 11 de Agosto de 2015

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Cidade abandonada

Sentíamos o vento saltitar na janela dos sonhos,
Havia em nós a clandestinidade de um amor proibido,
Sem sentido… como quase todos os amores,
Livros,
Líamos os textos que durante anos viveram encaixotados na ínfima sombra da madrugada,
Mas nada,
Nada tinha vida nesta cidade abandonada,
Desenhávamos beijos nos socalcos sorrisos da solidão,
Pegava na tua mão…
E sabia que uma gaivota
Brincava no teu cabelo,
Como brinca hoje no meu cabelo o silêncio envenenado pela paixão…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 6 de Agosto de 2015


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Não sei…


Não sei…

Meu amor,

A tarde parece uma planície infindável,

Uma semi-recta apaixonada pela sombra do rochedo,

Um canhão disparando sonhos

E beijos,

Não sei…

Meu amor,

Os teus desejos,

Não sei…

Meu amor,

Porque tens nos lábios uma cereja em veludo,

 

E nas mãos…

Palavras para me oferecer,

 

E tudo

Porque não sei…

A razão de a tarde ser uma planície infindável.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 10 de Junho de 2015

sábado, 2 de maio de 2015

O amor entre parêntesis no Rossio


Ouvíamos os tímidos limites da solidão

Como se eles pertencessem aos adormecidos fantasmas

Dos telhados de vidro

Não existiam janelas no teu peito

Nem sol no teu cabelo

Não havia um único rochedo de lágrimas

Que nos abraçasse sem querer nada em troca

Fomos engolidos pela paixão

Como são engolidos todos os pássaros

Pelas ingrimes tempestades de areia

O tecto deslizava encosta abaixo

Sentados na sombra

Trocávamos beijos

Por palavras

E palavras

Por nada

Nem ninguém

Em nossa casa

Vazia

E só

Regressávamos e apenas uma ténue luz nos esperava

De língua afiada

Lambia-nos envergonhadamente

Como quem desenha telegramas

Nos muros de xisto da paixão

O amor entre parêntesis no Rossio

O ponto de interrogação

(que tem o ponto de interrogação, meu amor?)

O ponto de interrogação massacrado pelas amarras do abismo

E mesmo assim

Queríamos voar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Maio de 2015

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Gaivotas de espuma…


Enquanto escrevo

Acredito no esboço do beijo

Deitado

Sobre o esquiço do cansaço

As palavras entre lábios de esperança

E bocas de amargura

Deitado

Submerso

Ele

Enquanto dorme

Submersa ela

Enquanto deambula na cidade

E vê nas sombras

A verdade

A mentira disfarçada de verdade

As lágrimas

No esconderijo do silêncio

Caminho desesperadamente sobre as pedras inanimadas da solidão

Não percebo o sofrimento

Nem… nem o reencontro de alguém

Com o espelho da madrugada

Não acredito

Em nada

Nada

Na

Da

Amanhã

As sílabas magoadas dentro de um livro escuro

A capa em cor de noite

Com pedacinhos de algodão

Lá dentro

Habitam pessoas

Casas

Ruas

Nuas

Nu

As

E amanhã

Caminho

O livro escuro

Encerrado

Para descanso do pessoal

Reabrimos…

Nunca

Nun

Ca

Os cigarros espalmados nos alicerces do passado

Não

Não sei

Talvez

O dia seja desejado

Ou…

Ou…

Deitado

Sobre o esquiço do cansaço

As palavras entre lábios de esperança

E bocas de amargura

E não consigo olhar o envidraçado olhar

Das gaivotas de espuma…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 24 de Abril de 2015

O corredor


Solidifica-se o corredor da esperança

Sinto as vergastadas palavras

Do sofrimento

Alimento-me de poemas

Meu amor

(meu amor inventado)

Vê tu

Poemas

Sei que todas as tempestades

Morrem

Como o amor

Solidifica-se o corredor

Sento-me

E durmo

Não sonho meu amor

Imagino transeuntes brincando na areia

Folheando peles cintilantes

E namorados invulgares

Tanto sofrimento

Meu amor

Perceber que a vida

É a vida

Um segundo apenas

No teu relógio

A madrugada sobressai nas límpidas telas dos beijos encarnados

Imaginava-te penumbra como a noite

Com asas

E voavas…

O infinito adeus

Quando tu

Sentado

Me abraças

Gosto de ti

Gosto de ti como se fosses o meu preferido livro de infância

Aquele com desenhos de estanho

As curvas

Uma pulseira nos teus lábios

O marfim

A morfina andorinha pregada ao teu texto

Escrevo com odor

Sem pensar

Que tu

Meu amor

És inventada

Inventada

Uma boneca de sorrisos

Um cortinado em linho

Suspendido

Crucificado ao amanhecer

Existes

Meu amor?

Porque são desertas as ruas da nossa cidade

Do nosso bairro

Da nossa infância

Os primeiros beijos desenhados num velho Castanheiro

As castanhas entranhavam-se nos teus seios minúsculos

A morte

Meu amor

És inventada

Uma carta nunca escrita

Secreta

Anónima…

… Amo-te

Meu amor…

Adormecida cancela da escuridão

Sei que tu…

Partirás para o Inverno

Não importam os teus álbuns fotográficos

Porque

Meu amor…

Perdi a paciência para te amar

Meu querido

Como é o sofrimento?

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 24 de Abril de 2015

domingo, 19 de abril de 2015

Sentido proibido


A vida do sentido proibido

O escoamento do líquido adormecido

Nas mãos do sem-abrigo

Esquecido

Faz da cidade

O amor em quadriculadas paixões de medo

Dorme acreditando que não acordará mais

Sonha com triângulos de luz

Saltitando no tecto do desejo

A vida

Esta vida

Embrulhada no invisível beijo

 

Não o vejo

Meu amor

Deixei de o ver desde o dia do Adeus

Quando os Cacilheiros da nossa cama

Se afundaram no poço do prazer

Tínhamos os livros exilados

Das tempestades do sofrimento

E mesmo assim

A vida do sentido proibido

Não brinca dentro de nós

O cigarro nos teus dedos

E nunca fumaste

 

Imaginava-te em frente do espelho da solidão

Procurando rugas

E aranhas zangadas com o silêncio

Dos teus peixes

Meu amor

As espinhas

E o pó dos Oceanos enferrujados

Os barcos de água

Galgando as coxas da inocência

Como um bolo

De chocolate

Na boca de uma criança

 

Dormíamos com o Tejo pintado no teu corpo

Regressavam os petroleiros

E sentíamos os apitos das gaivotas de aço

Poisando

Em pequenas plataformas de espuma

Até… até adormecerem no teu colo

Olhava-as

Fazia-lhes festas como se fossem os nossos filhos

Que nunca viram a madrugada

Nem a manhã

Dançando nos teus lábios

Tínhamos o mundo dos vulcões de areia

 

E as pinceladas conchas do primeiro abraço

Tínhamos os socalcos do Douro

Encurvados nas lâminas da insónia

E o vento folheava o teu cabelo

Entre espadas e balas de amêndoa

Canso-me

Meu amor

Da escrita e das palavras

Dos livros

E das coisas parvas

Canso-me das fotografias que me tiraram na infância

Sempre o mesmo ranhoso

 

Sempre…

Sempre a mesma sombra sobre os ombros

Frágeis

Magoadas conversas

Nós

Perdidos num jardim de província

Sem barcos

Sem Calçadas

Sem gajas

Nem gajos

À pedrada

À pancada

 

Como os Monstros do Tejo

Quando dormíamos

E entravam nos nossos corpos de néon

Faziam-nos o que não queríamos fazer

E nós

Impávidos

Perdidos num jardim de província

A declamarmos poesia roubada na Feira da Ladra…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 19 de Abril de 2015