Tínhamos
uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas
do outro lado do rio, alguns caixotes desaromados, alguma roupa e um sonho,
acreditávamos no amanhecer junto à geada, a esfera do caos esbranquiçada
poisada na nossa mão, eu era uma criança mimada, filho único, Africano de
nascença, apátrida e desapontado pelas raízes do poder, tinha medo, meu pai,
tinha medo da tua terra…
E
sem o perceber
Assim
temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários
sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão
salitrarem sobre a cancela da noite,
E
que noite, meu amor, e que noite,
E
sem o perceber acordei junto a um dos caixotes, sentia o vento do mar a
entranhar-se nos meus frágeis ossos, chorava, gritava… nem um mabeco em meu
auxílio,
E
sem o perceber, tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e
algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, e soníferos beijos,
lembras-te, meu amor, o cheiro intenso da madeira envelhecida e triste, os
pregos enferrujados de tédio, e algumas frestas de solidão, ninguém, ninguém
imagina este concerto de sons melódicos e metálicos do sofrimento, a morte, a
ressurreição e a alvorada,
A
tristeza de não saber quem és…
(ficção)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira,
23 de Novembro de 2015
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