Blogue Cachimbo de Água em destaque.
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Carruagem da saudade
Nada
me resta neste condomínio fechado,
Esculpido
nos muros com esqueletos de xisto,
Brinco
com uma bala em direcção à morte,
Sinto
o peso da tua mão poisada no meu ombro,
Pareço
uma janela sem cortinado dançando ao som do vento,
Este
navio em pequenos círculos,
Quadrados,
Parábolas
loucas na ardósia da tarde,
Imagino-te
vestida de rosa doirada,
Imagino-te
sentada na clareira da madrugada,
Triângulos
de insónia
Adoçando
o teu olhar de andorinha,
E
nada, nada me resta nesta montanha suicidada…
Perdi
as árvores, perdi as rochas e a sombra das árvores,
Tenho
dentro de mim um hipercubo doente…
Não
tem coração,
Tenho
dentro de mim os fios de nylon das redes transparentes do sonho,
E
não tenho sonhos para te descrever,
Invento
sonhos,
Invento
personagens nas finas lâminas do desejo,
Invento,
imagino-te sem nome, e nada… me resta… e nada me resta neste condomínio
fechado,
Não
me interessa se tens no sorriso um lençol de linho, não me interessa se tens
nos lábios os socalcos afogados no Douro,
Não
me interessa se navega no teu ventre um barco Rabelo…
Ou
uma bandeira sem Pátria,
E
nada,
Deixei
de amar os livros, deixei de pertencer aos tristes mendigos da cidade em
combustão,
Deixei
de amar o amor, deixei de amar o mar… e as palmeiras filhas do mar,
Agora,
sento-me numa velha esplanada, escrevo o Tejo sobre a simples mesa de plástico,
Pego
num café, puxo de um cigarro envenenado pela tua boca,
E
escondo-me da luz, e escondo-me das imagens prateadas projectadas nos alicerces
da memória,
Fujo,
escondo-me, e nada…
Apenas
lágrimas confusas descendo o meu rosto de granito,
Grito,
Grito
como se eu fosse uma noite de luar,
Grito
como se eu fosse um comboio desgovernado…
Contra
a carruagem da saudade.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira,
26 de Agosto de 2015
Dentro de um livro
(Francisco
Luís Fontinha – Agosto/2015)
Conheci-te
numa noite de aniversário,
Percebi
que havia uma janela no teu sorriso
E
uma clarabóia no teu olhar,
Depois…
depois perdi-me nesta cidade apaixonada,
Vesti
copos de uísque,
Bebi
vestidos de chita,
Fumei
poemas junto aos teus seios,
Mergulhava
na plataforma irracional dos teus braços,
Escrevia
nos teu beijos as palavras que nunca consegui escrever no papel amarrotado,
Desenhava
no meu espelho as gotículas ínfimas do teu suor,
Afagante
desejo,
Descerrava
a porta dos teus cabelos,
Lapidava
as tuas coxas no meu silêncio…
E
acordava junto aos teus lábios,
Tão
feliz… tão feliz meu amor,
Este
poema sem nome,
Ouvindo
a tua voz esquecida dentro de um livro,
Agachada
na madrugada,
Este
poema pobre,
Mendigo…
É
a réstia das carícias fabricadas dentro de um rio,
Esquecia-me
de ti, meu amor,
Sonhava
com melódicos sons que apenas a morte sabe descrever,
O
último grito,
Gemido…
A
dor
Do
teu prazer.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira,
26 de Agosto de 2015
terça-feira, 25 de agosto de 2015
Fotografia das palavras
Desenho
o sono na almofada do sofrimento,
Pego
nos sonhos…
E
espalho-os sobre a areia límpida da terra queimada,
Que
saudade do cheiro da infância
Correndo
no Mussulo,
Que
saudade da chuva e do cacimbo…
As
mangueiras voavam sobre mim,
Inventava
palhaços de pano e triciclos de papel,
O
vento embrulhava-se neles,
Eu
acorrentava-me às mãos do silêncio,
Desenho,
Desenho
o sono na almofada do sofrimento,
Pego
nos sonhos…
E
escrevo-te estas palavras que roubei às tuas fotografias,
Depois
veio a tempestade,
O
sono que era apenas um desenho, hoje, hoje é um amontoado de destroços
baloiçando no mar,
O
barco que nos trouxe morreu,
Os
marinheiros, alguns, alimentam-se da sombra num qualquer engate na cidade das
gaivotas,
Os
cigarros do Tejo… esperam o meu regresso,
E
um dia, e um dia regressarei aos teus braços, meu amor.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira,
25 de Agosto de 2015
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
A esfera da saudade
Palavras
para o amor
Que
ama as palavras,
Os
beijos incendiados nos lábios das estátuas,
Os
cabelos dançando no jardim coberto de espuma,
Os
bancos em madeira sentados sobre os meus joelhos,
E
ao longe, o silêncio do desejo construindo lágrimas de algodão…
Sinto
nas minhas veias a esfera da saudade
Caminhando
sobre uma lâmina de cartão,
É
tão triste esta cidade,
É
tão triste a solidão,
Palavras
para o amor
Que
ama as palavras,
As
belas, as belas e todas as outras… belas,
São
palavras,
São
elas que me alimentam e iluminam quando regressa a noite do teu olhar,
São
elas que me abraçam quando o vento bate no meu peito…
Alicerçam-se
a mim,
E
eu, e eu fico sem jeito,
Só,
só neste jardim,
Eu,
os bancos em madeira e as estátuas de alecrim…
E
no final da tarde tudo é embrulhado no mar,
Zarpamos
em direcção ao infinito,
Bebemos
copos de sofrimento
Para
não enjoarmos…
E
esta ondulação enlouquece-me,
E
faz deste barco uma jangada de tédio…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira,
24 de Agosto de 2015
domingo, 23 de agosto de 2015
Os muros invisíveis da alma
Inventaram
este suicídio para me acorrentarem aos muros invisíveis da alma,
Trouxe
da vida as palavras e a noite,
Trouxe
da noite
A
luz incandescente dos corpos suspensos na alvorada,
Não
tenho medo da solidão,
Nem
medo de sofrer,
Não
tenho medo da fogueira madrugada…
Brincando
na minha mão,
Acaricio-te
o rosto envenenado pela dor,
Inventaram-me
este suicídio para me roubarem o sono
E
as montras iluminadas da cidade,
Caminho
abraçado ao vento…
Caminho
procurando as montanhas sonolentas da paixão
Que
só tu sabes onde se escondem,
Que
só tu sabes o seu nome,
Inventaram-me
este suicídio para me acorrentarem aos muros invisíveis da alma,
Vestiram-me
de mendigo,
Venderam-me
na “Feira da Ladra”…
E
hoje pareço o luar alimentado pela tristeza,
E
hoje pareço um amontoado de ossos envergonhados
Esperando
o varredor nocturno do silêncio,
Esta
cadeira onde te sentavas…
Parece
um rochedo recheado de lágrimas,
Uma
praia encalhada nas tardes de papel celofane
Onde
apenas tu brincavas,
E
da noite…
Trouxe
também o embriagado olhar com que me olhavas.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Domingo,
23 de Agosto de 2015
sábado, 22 de agosto de 2015
O mendigo das palavras
Pedido
nesta avenida
Recheada
de cacos e velharias,
Mendigando
palavras,
Fumando
cigarros imaginários,
Perdido,
Achado,
Escrevendo
no teu rosto poemas envergonhados
Que
só tu
Consegues
perceber…
A
vida parece um carrossel enferrujado,
O
teu corpo fundeado no meu peito
Como
se fosse uma serpente de tristeza,
Perdido,
Achado,
Na
algibeira alguns sorrisos de riqueza…
Mas
tu sabes que nunca quis ser rico,
Mas
tu sabes que nunca quis ser nada…
Apenas
me apete estar qui,
Sentado,
À
tua espera…
Como
um barco que regressa do Ultramar
Trazendo
gaivotas
Caixotes
poucos…
E
recordações em pedaços de papel,
Perdido
nesta avenida
Recheada
de insónia
E
sonhos inventados por uma criança,
Hoje,
hoje aqui sentado…
Espero-te
sem saber se vens
Ou
se pertences às lápides da madrugada,
Não
me importo com as fotografias rasgadas
E
deixadas nos braços do vento…
Perdido,
Achado,
Aqui…
como um rochedo sem coração.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sábado,
22 de Agosto de 2015
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
Falsa partida
Partirei
sem desenhar o meu nome na alvorada fantasma da vida,
Partirei
sem deixar uma sombra deitada na manhã,
Partirei
sem vontade de regressar,
Partirei
como um sonâmbulo ambulante pernoitando de festa em festa,
Nos
lábios do luar,
Partirei
descendo a avenida
Que
me levará até ao esconderijo da agonia,
Partirei
apaticamente para o outro lado da rua,
Sentar-me-ei
até que o meu corpo desfaleça,
Tudo
esqueça,
A
doença,
A
amargura
E
a tristeza,
Partirei
deixando um prato de sopa dormindo em cima da mesa,
Falarei
baixinho,
Dócil…
Para
ele não me ouvir,
Só
me faltava a mim
Levar
comigo um prato de sopa,
Uma
colher…
E
um pedaço de pão
Para
alimentar a solidão,
Assim…
não saberei partir…
Partirei
sem levar os livros,
As
músicas mais desejadas,
Partirei
deixando na fogueira todas as cartas,
Todas
as palavras,
Que
nunca deveria ter escrito…
Partirei,
Partirei
vestido de pedinte,
Cambaleando
contra os candeeiros da saudade,
Não,
não vou levar comigo a felicidade…
Porque
partirei de livre vontade,
Ao
amanhecer,
Sem
ninguém saber,
Partirei,
Partirei
e deixar-me-ei envelhecer…
Até
morrer.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira,
21 de Agosto de 2015
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Infinitos Oceanos de luz
Não
há drageia
Nem
poesia que me valha,
Entrelaçávamos
as mãos nos infinitos Oceanos de luz,
Caminhávamos
como crianças sobre as pedras invisíveis da carícia,
E
tu olhavas-me quando eu ficava transparente,
Simples,
E
ausente,
Voava
abraçado às gaivotas,
Fotografava
com o meu olhar os barcos de papel
Em
velozes corridas contra o vento,
Um
dia, despareci da tua sombra…
Subi
os degraus do desejo,
Alicercei-me
às tuas coxas salgadas…
E
sentia os teus ossos na margem do rio onde nos sentávamos,
Tive
medo,
Porque
descia a noite sobre os nossos ombros,
E
quando acordava a noite…
Ficávamos
agachados junto aos beijos hipnotizados,
Dormíamos,
Dançávamos
à janela com retractos para o Tejo,
A
ténue velhice levava-nos para as ilhas rochosas da solidão,
Hoje…
Pareço
um pedaço de aço
Esquecido
numa qualquer sucata,
E
espero,
E
espero o regresso do forno…
E
novamente serei um esqueleto nas mãos dos infinitos Oceanos de luz,
E
espero… espero pela tua mão iluminada.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira,
20 de Agosto de 2015
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