quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Piano amar...


Dos espinhos melancólicos da insónia,
oiço-os,
como se eles tivessem um corpo,
ou... ou vestissem-se de palavras ainda não escritas,
entranhadas no papel amarrotado da madrugada,
oiço-os...
os sons melódicos do piano amar...
domesticado,
livre...
dos espinhos melancólicos, as ditas canções anónimas com sorriso de alecrim,
o cansado beijo suspenso nos lábios da pianista...
livre... até que desaparece no seio das linhas paralelas da solidão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 1 de Outubro de 2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Entardecer


Movediças lajes de areia
que transportam o meu corpo até ao entardecer
este feitiço não cessa de arder
e este cansaço parece desgovernado
como um barco
ou um coração apaixonado...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Setembro de 2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Castelo das areias brancas


Dormíamos sobre os limbos nocturnos da paixão,
existia entre nós uma canção melódica,
cansada de descer a calçada,
havia nos teus olhos a melancolia do amanhecer,
tal como os pingentes que o orvalho constrói nos teus seios...
dormíamos,
sem sabermos que ainda podíamos voar em direcção ao infinito castelo das areias brancas,
não sabias que eu era um transparente boneco de incenso,
dentro de uma caixinha em madeira,
só, só como as palavras embainhadas na espingarda da loucura,
dormíamos, dormíamos e construíamos papagaios em papel...
e da rua absorvíamos os esqueletos magoados do amor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 29 de Setembro de 2014

domingo, 28 de setembro de 2014

Amanhecer amar


Se eu voasse
não atravessava o Oceano para em ti poisar...

se eu voasse
não me levantava deste banco de silêncio
com mãos de pérola adormecida
não gritava
não... não chorava
porque as palavras são searas de insónia sobre um papel queimado,

um punhado de trigo
voando
sonhando...
na planície dos corpos embalsamados,

se eu voasse
não atravessava o Oceano para em ti poisar...

não escrevia
não lia...
não
não acreditava no amanhecer amar!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 28 de Setembro de 2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Sanzala de lata


Liberta-me
desassossega-me esta insónia fervilhante
que atormenta as minhas mãos
e me proíbe de escrever
liberta-me quando começar a madrugada
e lá fora
ninguém
ninguém para me ver
ninguém para me observar
quero ser a noite vestida de luar
quero ser o socalco que nunca se cansar de olhar...
o rio
e as pessoas que o rio engole e mata
liberta-me
liberta-me deste cansaço desengraçado
que habita nesta sanzala de lata.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 27 de Setembro de 2014

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Luar


Sentado te espero
sentado te procuro...
sentado te amo
sentado te abraço,

e não sei se tens forças para me alicerçares ao teu corpo,
tão pouco sei se tens corpo,

sentado te olho
sentado, tu
triste,

sentado te entendo
o que sofres
e o que resistes...
sentado sei que não vais desistir
de cortar os cadeados do sofrimento
nem vais fugir,

(e não sei se tens forças para me alicerçares ao teu corpo,
tão pouco sei se tens corpo),

mas sentado, eu, pego na tua mão e sinto em ti o luar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 26 de Setembro de 2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pássaros sem nome


Tudo em meu redor parece embriagado
os livros
os desenhos
e as palavras
o meu corpo pesado
e os poemas embalsamados
dormem
sobre a secretária
como se fossem um mendigo diplomado
o meu olhar desassossegado
inventa candeeiros de papel
com anéis de tristeza
não existem lágrimas que escondam a madrugada
nem lábios de framboesa que abracem os meus braços de lata
o meu silêncio em greve
o meu silêncio uma videira acorrentada
aos socalcos da dor
o meu corpo ferve como fervem as línguas de fogo que habitam os meus cabelos...
tudo em meu redor morre
as plantas
as árvores...
e os pássaros sem nome.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 25 de Setembro de 2014

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Desilusão


Preciso de sentir-me vivo
escrever não é um sacrifício
uma obrigação
mas preciso
sentir-me vivo
às vezes triste
às vezes muito triste
às vezes alegre...
às vezes... muito pouco alegre
mas preciso de sentir-me vivo
e mesmo que amanhã seja o dia mais triste da minha vida
vou... vou escrever
amanhã vou contemplar a noite tal como o faço todas as noites
amanhã vou fumar o meu último cigarro do dia ao jardim
como o faço todas as noites
esteja triste ou alegre
muito triste
ou... ou desiludido comigo por não ser capaz de...
sentir-me vivo
por não ser capaz de escrever.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 24 de Setembro de 2014

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Da paixão


Nunca soube quem eras
o que fazias
nunca soube a quem pertencias...

nunca soube se em ti existiam
tristezas
… ou... ou alegrias

nunca soube nada do teu sorriso sonolento
se sonhavas
se eras apenas o alimento

da paixão

nunca quis saber o teu nome
se é que tens nome
um corpo
se é que tens corpo
nunca
nunca percebi o colorido dos teus lábios
nunca quis escrever-te
cartas
ou... ou pequenas palavras
de silêncio
das palavras de nada
nas palavras envergonhadas

da paixão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 23 de Setembro de 2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Noite de loucura


Este pano azul cansado
deitado sobre o teu corpo
acariciando a tua pele de luar
que a madrugada fez esconder
este pano... que o piano amar acorrenta
este sofrer...
a saudade do mar
entranhada nos meus lábios,

Este pano azul...
que o silêncio consegue desenhar no teu sorriso
o morrer
sabendo que todas as flores deixaram de brincar
a tua mão vazia
como o rio que desce a montanha
a tua mão entrelaçada nas sombras da paixão
que o pano azul escreveu numa noite de loucura...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 22 de Setembro de 2014