(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
O biombo da saudade
que morre no teu
ventre
o pensamento em
pequenos voos
lentamente em
direcção ao mar
rumo à cidade
do adeus...
o meu corpo sobre os
carris do cansaço
tenho medo
tenho pena...
que este pobre poema
não consiga acordar
a madrugada
que vive
acorrentada,
há nas pálpebras
do teu sorriso
fios de luz em
decomposição
canções melódicas
ensanguentadas pelo silêncio da tua voz...
… amarga
complexa
nesta triste matriz
composta
neste triste cubo de
vidro
com braços de
papel...
o biombo da saudade
que morre no teu
ventre
inventa-se
a cada segundo que o
tempo come,
a rua incendeia-se
e todos os
mendigos... não mendigos
e toda a fome... não
fome
apenas as palavras
sobrevivem aos teus encantos
e lamentos...
apenas as sombras
nocturnas do adeus
conseguem trepar o
muro da agonia
e resta este pobre
poema
que um dia...
que um dia
ressuscitará
das cinzas
como cigarros sem
alma.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 17 de
Dezembro de 2014