Hoje, quero fugir,
esconder-me na
sanzala da minha infância,
com os meus frágeis
bracinhos, chapinhar nos charcos de areia,
hoje, hoje a noite
parece um cortinado de incenso, ténue silêncio nos teus dedos,
faltam-me as
palavras, faltam-me corpos para escrever as palavras,
de neblina, de
pólen... corpos, de cera, de nada, apenas corpos sem significado,
hoje, quero fugir,
hoje, hoje pareço
uma locomotiva galgando os campos de milho de Carvalhais,
apitos,
e gritos,
hoje,
hoje, os teus olhos
incendiaram os meus lábios,
(palpita-me que hoje
vais descobrir o texto invisível que esconde o meu peito)
Hoje, quero-te,
fugir,
alegrar-me com o teu
sorriso de bambu,
afagar o mabeco
desgostoso, cansado da vida, cansado... cansado destas palavras...
(Cansado da tua
ausência, e não estás ausente, e não... e não hoje, por favor,
hoje não, hoje não sonhos nos teus cabelos)
Hoje, quero fugir,
desenhar-te na minha
boca,
hoje, esconder-me em
ti,
como uma criança
amedrontada,
triste,
com medo,
medo que do mar
venha a sanzala da minha infância,
e me traga,
paciência...
porque hoje, hoje
quero fugir,
e hoje quero-te em
mim,
construindo círculos
de preia-mar,
Hoje, quero-te,
fugir,
alegrar-me com o teu
sorriso de bambu,
afagar o mabeco
desgostoso, cansado da vida, cansado... cansado destas palavras...
(searas, margaridas,
hoje todos me pedem as palavras que nunca escrevi)
E hoje, e hoje
escrevo porque te vi,
e sem ti,
senti o luar poisar
nos meus ombros,
senti o xisto dos
muros caindo dos socalcos imaginários,
como os barcos de
papel,
como os marinheiros
de sisal,
enfeitados com
plumas encarnadas e sorrisos de vodka,
e hoje, e hoje quero
fugir,
aterrar num bar sem
conhecer ninguém,
sem palavras,
sem... sem ti,
sentir o machimbombo
da paixão em pequenos soluços,
(e nada como uma
bebida com sabor a amar)
Um shot de AMOR!
Porque hoje quero
fugir,
um shot de saudade,
porque hoje sem ti,
senti a tua
fotografia na montra de uma livraria,
raios...
outra vez a poesia,
um shot, por favor,
um shot de alegria,
um shot para me
recordar,
como eram lindos os
teus seios de madrugada,
e hoje, hoje quero
fugir,
(sem me preocupar
com o amanhecer, sem me preocupar com nada).
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Junho
de 2014