Não digas que hoje
as minhas mãos acariciaram o teu corpo de ribeira adormecida,
fica em silêncio,
fica... assim, como só tu o consegues fazer,
cerra os teus olhos,
encerra os teus
lábios nos meus lábios,
em silêncio... sim,
assim, como só tu o consegues fazer...
Não construas
palavras nos meus dedos de giz,
porque sabes que o
meu corpo de ardósia, onde escrevias, não existe mais,
hoje, hoje sou uma
velha e amarrotada folha de papel,
hoje, hoje sou uma
simples tarde de Primavera,
sem pássaros, sem
beijos... sem... sem caravela,
Não digas, nunca,
não digas o meu nome,
não me aprisiones
aos teus sonhos..., quando eu quero voar, quando eu...
nem sequer quero
sonhar,
não sonhos, não...
não quero escrever nas tuas ossadas transparentes,
poemas, poemas com
sabor a melancolia, poemas com sabor a mar,
Não digas que hoje
as minhas mãos... são poesia,
porque elas, hoje,
porque elas hoje nada são,
porque elas hoje,
porque elas hoje têm medo do amor e da paixão...
como barcos
encalhados no teu peito,
assim, assim...
assim sem jeito,
Não digas, não,
não digas quais eram os nossos livros preferidos,
não digas o nome, o
meu e o dos poetas que eram os nossos livros preferidos...
não digas que
existiu um submerso corpo de areia nas tuas coxas,
e que o vento
destruiu numa noite de luar,
não digas, não,
não digas que “hoje as minhas mãos acariciaram o teu corpo de
ribeira adormecida”.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de
Junho de 2014
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