segunda-feira, 2 de junho de 2014

Fantasma


Não sei onde habitas,
o que pensas, sonhas,
não sei o que choras, não sei a cor das tuas lágrimas,
se sofres,
ou... vives, ou... a equação das tuas mágoas,
não sei o teu nome, esqueci o meu próprio nome,
não sei se sou árvore, gaivota... ou... ou montanha branca,
talvez eu seja um barco desgovernado navegando no teu Oceano,

(O cansaço despede-me da poesia,
oiço-te como se fosses uma janela sem vidros,
descalça, um desempregado letrado, um esqueleto vadio...
uma janela encalhada no jardim da melodia,)

Não sei a cor dos teus olhos,
se são belos, ou... ou belos, e belos o são,

Não sei onde habitas,
se habitas em lugar algum,
não sei o que são palavras,
mas sei o que é o medo,
e o sorriso da dor,

Não sei onde habitas,
como são as tuas mãos quando desce a noite?
Passas, corres e levitas...

(Sinto o peso do Tejo nos meus frágeis ombros,
e de um auto-falante gritam o teu nome,
corres, caminhas... e desapareces no interior de um biombo,
e nada mais... até novamente nascer a manhã,)

Não sei onde habitas,
o que pensas, sonhas,
não sei o que choras, não sei a cor das tuas lágrimas,
se sofres,

Ou... ou simplesmente me ignoras,
não sei como é o beijo do teu cabelo,
não sei nada sobre as tuas pálpebras, não sei nada do que eu quero saber,
não sei onde habitas, não sei qual é a tua cidade,
o teu livro preferido?
Ah... também não sei a tua idade,
se és feliz, infeliz, ou... ou apenas uma flor perdida na calçada,
ou apenas um pedaço de poema escrito por um louco na madrugada, eu, que não sei onde habitas, eu, que não sei o sabor da tua boca magoada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 2 de Junho de 2014

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