terça-feira, 21 de julho de 2015

Fingida alegria


A velha estrada em direcção à morte,

Os plátanos das tuas pálpebras,

Cansados,

Tristes,

Revoltados de tanta geada

E tempestades de noite,

Inventas o sono

Nas paredes escuras do sofrimento,

Dormes,

Habitas neste cubículo como se fosses uma sombra envenenada pelo silêncio,

Lá fora,

Pássaros à tua espera,

E da velha estrada

Chegam a ti os Oceanos de prata

Que ofuscam o teu olhar,

Um soldado perde-se nas margens do Tejo,

O caderno acorrentado à mão

Vagueia sobre os cinzentos espelhos da dor,

E todas as palavras voam sobre os esqueletos de papel

Que brincam no teu peito,

A janela do teu quarto encerrada,

A porta dos vinhedos descendo o Douro,

Também ela…

Encerrada,

Não há um número nos seus braços,

Incógnitas manhãs sobre um lençol de linho,

As flores queixam-se da tua alegria,

Cessou,

Como cessaram as pontes para a outra margem…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 21 de Julho de 2015

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Cinzas entre relógios de pulso


Não tenho tempo,

Cessaram os relógios de pulso no meu peito fictício,

Ambulante circo de cidade em cidade,

De montanha em montanha,

O tempo escoou-se no aéreo sonho da noite,

Morreu,

Partiu em direcção ao mar…

Olho as minhas cinzas,

Embrulham-se na maré,

E nunca mais regressarão à minha mão,

Levo um livro na algibeira,

E uma caneta na boca…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 20 de Julho de 2015

domingo, 19 de julho de 2015

A vida é uma corrente em aço sonolento

Nunca soube quem eras, pertencias às tardes de espuma que brincavam no meu imaginado Oceano, a planície recheada de sombras e infindáveis gritos de geada contra os pinheiros em cartão, os corpos suspensos numa corda invisível, triste, nunca soube porque pertencias às fotografias poeirentas quando regressava o sonho, embrulhavas-te nos finos silêncios da vida, desenhavas a dor no esquecimento da alegria,
- A vida é uma corrente em aço sonolento, dizias-me enquanto eu lia AL Berto, pensava que me mentias apenas para me confortares, admiro a força das tuas palavras, as esplanadas junto ao Tejo, e eu
Mentia-te como te minto neste momento, sei que não acreditas em mim nem nos meus barcos embalsamados, querias a noite, e eu
- Desenhava a noite no teu peito,
Fugias de mim,
Acreditavas nas cidades incógnitas, não dormias porque não sabias se eu acordaria mais, acordei, chorei, amei, e caguei nas tuas mãos,
Fugias de mim, meu amor,
A noite levava-te para outro continente, vestias-te de chuva, na cabeça o sorriso da pura inocência que a madrugada deixava em ti, desenhavas a noite no meu peito, saltitavas nos meus lábios cerâmicos, enquanto te escrevo oiço o poema de AL Berto dedicado a Cesariny, “tão triste,
Mário!”,
- Tão triste esta alvorada sem identificação, e novamente, tu, a vida é uma corrente em aço sonolento, uma gaivota, um pedaço de maré assassinada pela ausência, a partida, sempre sem regresso, sempre tão simpática…
Boa noite…
- A vida…
Pode ser, qualquer coisa que me faça esquecer os dias, as noites e as máscaras do meu rosto.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Julho de 2015



sábado, 18 de julho de 2015

Cieiro da madrugada


Não me sinto desenhado neste rio sem nome,

Não sinto no meu corpo o cieiro da madrugada,

 

A fome…

As mãos da manhã amada,

Não sinto nada,

Não me sinto aprisionado a esta tarde envenenada,

A fome…

A palavra…

Não o sinto,

Não me sinto desenhado,

Esculpido no rochedo da dor,

Não há livros em mim,

Ou flor,

Que alimentem este cansaço,

 

Ou matem este amor.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 18 de Julho de 2015

Impostor


Não me conheço neste espelho desventrado pela dor,

Não mereço o teu sorriso,

Misturado nos orgasmos em delírio com a minha ausência,

Com a minha dor,

Pertences ao silêncio das rochas apaixonadas,

Suspendo-me nos teus lábios,

Galgo as montanhas dos marinheiros sonolentos,

Sem rumo,

No espelho…

Impostor

Amor

Sem pertencer aos Oceanos de medusas desenhadas nos teus seios,

 

É tarde,

Não te pertenço,

Não me pertenço,

Sou um palhaço sem dono,

Um circo arruinado,

A arte…

Arde no meu peito de cerâmica envenenada,

E sem rumo,

 

Sou um falhado.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 18 de Julho de 2015

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Metamorfose


Este silêncio na morte do cansaço,

Os vampiros das geadas nocturnas sem identidade,

Oceanos em metamorfose cilíndrica,

Flores rebeldes passeando junto ao rio,

É isto a vida?

 

A liberdade…

 

É esta a minha cidade?

Onde habita a madrugada

Que brincava no meu olhar?

É este o rochedo do meu mar…

Sem barcos para conversar,

Sem portos para aportar,

 

Oceanos em metamorfose cilíndrica,

 

Árvores caducas

Agachadas na sombra púrpura da solidão,

 

A liberdade…

 

A vida disfarçada de livro poeirento

Numa qualquer janela,

Esperando o regresso do vento,

Esperando os apitos da triste caravela,

 

A liberdade…

 

Não poisará mais neste Oceano de espuma,

Sem palavras,

Sem cordas onde se agarrar…

 

A vida fingida de um esqueleto de néon.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 17 de Julho de 2015

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Calçada da saudade


Este machimbombo que não anda

E não cessa de chorar,

Esta montanha acorrentada ao mar,

Sem barcos,

Marés…

Ou paixões imaginadas por gaivotas a voar,

Este machimbombo ensanguentado,

Triste,

Tão triste que não sabe o significado de…

Cansaço,

Prisão,

A luz nos teus braços,

As esferas de prata travestidas de balas contra o teu coração,

Não interessa se amanhã vai acordar a madrugada,

Se é sexta-feira…

Ou sábado,

Mais uma semana,

E um desenho desnorteado

Descerá a calçada,

Tropeçando na saudade.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 16 de Julho de 2015

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Morada… ou lápide com asas


Escorrem no teu rosto

Todas as sombras das montanhas inanimadas,

Pego-te docemente

Como se fosses uma criança em tardes de brincadeira,

O colorido papagaio em papel,

O avião em cartão…

Sem local onde poisar,

Um dia coloquei o meu cigarro à janela,

Ardia enquanto as nuvens do silêncio

Argamassavam-se no teu peito,

Fugi,

Cerrei os olhos,

 

Sentei-me

E esperei que regressassem as paixões de iões

Que só tu conheces,

E falas,

E conversas…

Como se eles fossem uma raiz envenenada

Pelos insectos da madrugada,

Sem vida,

Sem uma cidade para deixares o jardim da tua infância,

Um nome,

Morada…

Ou lápide com asas.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 15 de Julho de 2015

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O silêncio do primeiro amor


Do jardim com o teu nome, recordo as sombras dos beijos envenenados,

As palavras esgotadas,

Os homens condenados,

Sem amor,

Algemados,

Entre madrugadas

E mares nunca navegados,

Há o silêncio acorrentado,

No primeiro amor desenhado…

Há a primeira desilusão

No primeiro orgasmo enganado…

Do jardim com o teu nome,

 

No jardim enforcado.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 13 de Julho de 2015

domingo, 12 de julho de 2015

A morte do amor de papel


Somos dois corpos em sentido proibido,

Somos dois corpos em movimento,

Um orgasmo fictício em rotação,

Dentro deste barco perdido,

Embrulhado num triste coração,

Somos a vida sem viver,

Somos aquele jardim…

Sem árvores que não sabem crescer,

Somos…

A morte do amor de papel.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 12 de Julho de 2015