segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

 
(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Os sete orgasmos do Mussulo, a liberdade sobre as palmeiras invisíveis que me atormentavam, como campânulas de sofrimento, ao deitar, o caixão que dançava deixou de o fazer, dificuldades com o cachê, dispensa de artistas e cadáveres de cera, um altar recheado de almas, tantas almas como os versos do sem-abrigo quando sentado numa cadeira apodrecida de um circo ambulante,
Quero ser artista, mãe!
Nem penses..., nem... penses...
Filho meu não é artista!
Nunca,
Nunca, mãe?
Os sete, juntos, e sós, no Mussulo era mais barato, a saia descaída, o soutien desenhado no peito
E...
Nunca, mãe?
Nunca,
Nunca
No peito uma flecha de sémen rodopiando no gelo do ringue de patinagem,,,, o belo, a dança... e o corpo em pequenas rotações...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015

fotografia

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


o triturador do sono
mergulhado nos teus olhos incandescentes
tens nos lábios o pingente beijo
iluminado pela saudade
entre quatro paredes
paredes
sós
nem porta
janelas
cubículo de prata
onde habitam todos os cheiros da cidade...
as abelhas do amanhecer saboreando a tua pele de mel
como se tu
janelas
fosses um pedaço de pólen
ou
nem portas
e nas paredes
as frestas da insónia
sombreadas
e acorrentadas
às sílabas enforcadas
do velho barco de esferovite...
que em criança eu brincava.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015


Um sem-abrigo, sem... e sem mundo...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A morte dos esquissos preguiçosos e das palavras enamoradas,
o fogo do poema invadindo a biblioteca assombrada pelos cortinados vivos dos esqueletos de papel,
cá dentro, marés de solidão abraçam-se aos lápis e canetas abandonadas sobre a secretária,
os papeis parecem doentes, empilhados numa qualquer enfermaria...
esperam,
desesperam,
e acreditam que um dia vão ressuscitar...
mentira,
nunca o farei,
porque os papeis são para destruir
juntamente com o meu corpo de granito vagabundo,
um sem-abrigo, sem... e sem mundo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015


domingo, 22 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A aldeia padece de claridade, existem fios de escuridão nos telhados cansados das palhotas de algodão,
Enigmático, eu?
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,
E palavras sem coração, sentia-me embriagado nas mãos do amanhecer, sentia-me um miúdo encostado à sonolência da idade,
A aldeia em chamas, os campos esbranquiçados na tela do desejo imaginavam canções de moluscos e alguns grãos de areia,
O desenho teu na cidade dos alicerces alienados, os bares em combustão, as miúdas dançando canções de solidão,
Amas-me?
Que não,
Que a arte vive e vai morrer no teu olhar,
Ouves-me?
E palavras sem coração, avenidas nuas, travestidas de machimbombos reumáticos voando sobre a cidade, eu... eu... adormecia,
Inventava beijos nos teus braços, a minha primeira paixão, imaginava-te uma flor triste e cansada, nos circos ambulantes da saudade,



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015

Estátua de gelo...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O amor suicida-se nos lábios do sorriso de xisto,
uma carta poisa respeitadamente sobre uma almofada granítica,
impregnada de silêncios
e fósforos adormecidos na inocência do poema,
faltam-me as palavras...
oiço-o nos braços do seu amante,
inventado beijos
e livros entranhados nos socalcos do desejo,
há no Outono uma noite em despedida,
a sinfonia da saudade
nas clarabóias do sexo,
e lá fora todos os transeuntes são imagens a preto e branco,
expostas numa parede branca,
descendo a calçada,
virava à direita,
o engate,
a rua,
em nada,
como lâminas de sono contra as marés de prata,
não quero os sonhos
nem os seios dos caixotes de vidro
que habitam as minhas mãos de medo,
o amor suicida-se
nos lábios do sorriso de xisto... e a penumbra é uma estátua de gelo...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Eles chegaram, o caixão ainda cheirava à tinta fresca da manhã, brincava um silêncio de olhos verdes no vão de escada,
Foder num vão escada, como fodem todas as palavras do poema...
Sabíamos que o corpo não pertencia às nossas vidas,
Clandestino, eréctil nas disciplinas do abismo, o poema esfomeado esperando o amante suicidado,
amanhã, amanhã nascerá um cansaço de medo no afastamento dos círculos das cidades embriagadas,
Sem iluminação, sem mulheres ou bares para combater a distracção, uns panfletos expostos na parede xistosa,
Há Tripas,
O caixão dançava no centro da sala de estar,
Confesso,
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Calçada imaginada

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Imagino-te
nua
e triste
como uma calçada
ou uma simples rua...
mas tu não és uma calçada
nem és uma rua...
imagino-te
sentada
no jardim das acácias abandonadas...
mas tu
não és um jardim
nem és uma acácia
porque tu não és nada
nem imagem a preto e branco
nada
nada
apenas uma sombra descendo a calçada
imaginada...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Fevereiro de 2015


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Faltam-me as tuas mãos, mãe,
Café?
Viajo na tua saia e percebo que não temos regresso, regressar é um suicídio sem palavras, uma carta escrita, os motivos da tua ausência, as faltas da tua presença na Igreja, sinto-me quando abres a janela do quarto e tenho a certeza que estou vivo,
Bom dia, mãe...
Meu querido filho!
O livro cresce nas ardósias cinzentas da memória,
Que és enigmático, meu filho...
Que sim, minha mãe,
Que sim,
Telefonaram da Rua dos Mendigos?
Para mim, mãe?
A cidade embriagada nas sandálias do pescador, o mar, sempre o apaixonado mar, a paixão azul, do azul literário e poético...,sabes com é, mãe,
Pois,
Sei que semore sonhaste comigo,
Eu?
Sim, tu, mãe,
Quando dizias que aos três anos de idade já voava...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015


Janelas prateadas

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Estes versos não têm destino,
imagino-me na penumbra saudade das arcadas em flor,
janelas prateadas,
com grades de nylon,
âncoras, barcos encalhados no meu peito,
o sal,
e a noite,
quando termina o calendário suspenso numa parede sem memória...
e o mar avança para mim como um cão faminto,
tão faminto como a própria sede,
a tranquila viagem nos confins da paixão,
como se alguém apagasse todos os candeeiros da cidade,
e todas as sombras do luar,
amanhã estes versos...
num mísero caixote perfumado,
com corações de areia húmida,
e nem assim conseguem acordar as jangadas de silêncio
que vivem enclausuradas numa rua sem nome,
nem idade...
estes
versos
não
têm destino...
ou estória.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sinto-me um caixote em madeira, um socalco lágrima descendo até ao Douro, uma eira, imaginada em Carvalhais – S. Pedro do Sul, sinto-me a noite vestida de negro, abraçada aos meus sonhos, sem poder mais,
Amanhã, meu amor!
O circo, os palhaços narcisados nas palavras escritas pelo fantasma do silêncio, a minha vida uma “merda” comparada com a vida dos meus vizinhos, hoje sonhei que a pobreza tinha morrido... como se a pobreza tenha morte... este momento embriagado em poemas de amor,
Poder mais...
Os sorrisos, a mentira do soneto sobre os ombros vergados de uma enxada, o cristal opaco que sobressai nas fotografias de infância, a dor, e a doença
Sinto-me
E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Um café Doutor?
Café...
Faltam-me os cigarros...



(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2015