Blogue Cachimbo de Água – Em
destaque no Sapo Angola
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
casa imaginária
foto de: A&M ART and Photos
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encerraram-se as torneiras da saudade
como se evaporaram os cortinados do
desejo
num ápice
entre nuvens e corações de pétalas
encarnadas
fiquei sem o jardim da felicidade
e apenas um banco onde me sento
e observo a triste paisagem
nua
escura
sombria
como um calendário esquecido no
tabique adormecido
da casa imaginária onde apareceste
pela primeira vez
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 26 de Agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
não te pertenço
foto de: A&M ART and Photos
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hoje és um mendigo igual a mim
uma pérfida folha de papel não
correspondida
hoje és um cadáver envergonhado
deitado na minha sombra
uma triste e cansada sombra debaixo dos
lábios do púbis incenso
hoje és um sexo amargurado
triste como as sílabas empapadas dos
livros de nada dizer
como as noites a arder
dentro de ti o comestível prazer
hoje finges que não te pertenço
que sou um muro em xisto
balançando sobre a encosta
atiro-me e encontro o rio
hoje és um mendigo igual a mim
fugindo da claridade
e dos beijos zangados em cinzentos fios
de sémen...
e dizes-me que sou um palhaço
um voador corpo com asas em papel
hoje desperdicei os abraços sobre a
lua em fúria
que deus deixou na mão da madrugada
hoje não sou nada
como ontem
como amanhã
hoje és...
apenas uma defeituosa maré de linho
com coloridos olhos em verniz...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Agosto de 2013
Nunca mais o branco fumo dele nos meus lábios
foto de: A&M ART and Photos
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Porquê?
Os navios em fúria de apitos, amontoavam-se à
porta de casa, lá dentro, eu e ele, tentávamos esconder as amarras
dentro da gaveta da cómoda, eles cá fora, gritavam
Porquê?
Marinheiros famintos, procuravam qualquer objecto
que servisse para derrubar a frágil porta, escondemos-nos junto ao
corredor que dava acesso à casa de banho, o peitoril fumegava,
alguém já nos tinha lançado algo de combustível, algo de
destruidor, abracei-me a ele, e com toda a minha força
Porquê?
Fiquei não sei quantas noites pensando que nunca
mais terminaria a sangrenta guerra de palavras da cidade dos desejos,
multipliquei abraços, dividi beijos, e hoje
Porquê?
Hoje pareço um íngreme cavalo de areia correndo
sobre o mar,
E com toda a minha força apertei-o como quem aperta
o único filho, e pela madrugada, não sei qual delas, ele partiu,
consegui desembaraçar-se dos meus abraços, e
Nunca mais o branco fumo dele nos meus lábios,
Nunca mais
Porquê?
O silêncio pergaminho das suas mãos no meu rosto,
Nunca mais a voz desajeitada dele no espelho da casa
de banho, irritava-me
Vens jantar logo, meu querido?
Irritava-me
Três torradas chegam, meu querido?
Assim não, assim sentia dentro de mim uma escada
rolante em direcção ao poço profundo da tristeza, irritava-me
Querido
Sim, diz?
Querido, logo chegas cedo a casa?
E apetecia-me gritar, não regressar, nunca,
irritava-me
Sim, diz?
Que coisa... a tua...
Os navios em fúria de apitos, amontoavam-se à
porta de casa, lá dentro, eu e ele, tentávamos esconder as amarras
dentro da gaveta da cómoda, eles cá fora, gritavam
Porquê?
Eles cá fora pareciam um exército de mendigos,
procuram-nos como quem procura o vento antes de levantar âncora, o
veleiro poisava-se sobre um banco de areia, rodopiava em pequenos
círculos... e dali não zarpava nunca,
Porquê?
Os marinheiros famintos, o azedume dos versos que o
poeta louco tinha deixado sobre a mesa-de-cabeceira no quarto da
amante voavam porque o vento que antes se fazia sentir no corredor
começou aos poucos a avançar em direcção ao quarto, a amante
tinha desaparecido, ele e o amante, também desaparecidos, apenas os
famintos marinheiros enrolados em poemas de “merda” que o louco
poeta ante de suicidar-se tinha esquecido, tal como a janela aberta
Porquê? Esta chuva de papeis com pequenas
palavras...
Os marinheiros
Porquê?
O poeta louco
Onde está ele?
A amante do poeta louco
Irritava-se com as palavras do seu amado, algo de
destruidor, abracei-me a ele, e com toda a minha força
Porquê?
Porque hoje é Domingo, porque hoje há quitetas e
cerveja Cuca...
Porquê?
Porque uivam os navios quando estão em sossego?
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Agosto de 2013
(e o negro que alimenta a noite de ti)
foto de: A&M ART and Photos
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Tinhas-me prometido o sono
o sossego
e o negro
que alimenta a noite de ti,
tinhas-me prometido o silêncio
e as pequenas árvores do bosque
perto
antes do amanhecer acordar e levar-te,
Tinhas-me a mim
e trocaste-me por um velho espelho
recheado de ranhuras...
tinhas-me prometido o desejo
e apenas cacos e pedaços de beijos
sobejaram sobre a mesa da sala,
tinhas-me e nada de ti era a verdade
nunca tivemos manhã
nunca existiu em nós alegres
madrugadas...
tinhas-me e deixaste-me fugir pela
fechadura do medo,
tinhas-me prometido o prometido
as palavras que escrevo
que tenho medo de escrever e
as palavras vorazes como um rio em ti
perdido,
tinhas
tinhas-me prometido o sono
o sossego
o desejo,
(e o negro
que alimenta a noite de ti)
tinhas-me prometido o fogo
e todas as lareiras de todas as
bibliotecas das casas abandonadas
tinhas-me
e deixaste-me suspenso no tecto da
insónia...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Agosto de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
A sanzala incha como pequenos frascos em vidro
foto de: A&M ART and Photos
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Sem muros, a seara livremente em movimento, a seara
alegremente voando como os teus doces dedos quando se entranham no
meu branco cabelo, e algumas das minhas folhas, ainda por escrever...
vão-se alicerçando nos braços da madrugada, venho de ti chorando
porque percebi que as cadeiras da vida, algumas, não muitas, estão
a morrer, primeiro o maldito bicho, depois... depois... a maldita
morte, e depois, bom, depois a tua aspereza dos violinos em flor,
havia sons que mal distinguíamos nos soníferas luzes da noite, e o
castanho corpo teu... amaldiçoado pelo cansaço
Tomba,
O musseque engorda,
A sanzala incha como pequenos frascos em vidro
quando miúdo colocávamos grilos e outros bichos, nãos os que matam
as cadeiras da vida, estes, estes apenas nos roubam os sonhos,
roubavam, porque hoje, nem bichos, nem sonhos, nem... nem o teu corpo
castanho,
Tomba,
Entre os charcos acabados de preencher como o
impresso de candidatura com o respectivo currículo, depois de
entregue
Lixo,
Depois de entregue
Nem para limpar o cu serve,
“Brancooo é papel e só serve para limpar o cu”,
gritavam elas,
E a sanzala inchava, crescia, multiplicava-se,
Lixo,
Sem muros, como vértices de areia engolidos por
sexos baratos, regressava da feira da Ladra apenas com as cuecas e
pouco mais, a vida de difícil passou a horrível,
E a diferença
Está no número, de autocarro é um, de
eléctrico... talvez seja outro, mas todos vão dar ao mesmo, e todos
me levavam de regresso, entrava em casa, subia as escadas tão
devagar que nem as ratazanas davam pela minha presença, mas ela
Isto são horas de chegares?
E eu perguntava-me se existem horas certas para
regressar a casa, mesmo apenas em cuecas, se existem horas certas
para as refeições...
Horas, tem horas?
Não, não as tenho, sou alérgico,
Mas ela entre perguntas e respostas, entre o vai e o
vou, fui e nunca mais voltei à sanzala, cansei-me das viagens
nocturnas pelas avenidas transatlânticas com bancos em madeira e
pássaros de pedaços papel, fartei-me da cubata apenas só com uma
porta de entrada, e juro
Detesto,
Juro que me irrita entrar e sair sempre pelo mesmo
sítio, parece de loucos, e de loucos, juro, preferia entrar pela
porta e sair pela janela, mas a cabra da cubata nem janelas tem, nem
cortinados tem, nem tecto onde suspender um par de calças
Tem?
Não, não tem não,
E entro em casa de cuecas na mãos, ela
De onde vens tu'
Venho da lua, venho do mar, venho de onde não te
interessa,
Adeus,
Era Domingo, acordei cedo, sem muros, a seara
livremente em movimento, a seara alegremente voando como os teus
doces dedos quando se entranham no meu branco cabelo, e algumas das
minhas folhas, ainda por escrever... vão-se alicerçando nos braços
da madrugada, venho de ti chorando porque percebi que as cadeiras da
vida, algumas, não muitas, estão a morrer, primeiro o maldito
bicho, depois... depois... a maldita morte, e depois, bom, depois a
tua aspereza dos violinos em flor, havia sons que mal distinguíamos
nos soníferas luzes da noite, e o castanho corpo teu... amaldiçoado
pelo cansaço
Tomba,
E O musseque engorda...
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Agosto de 2013
Labels:
amor,
Angola,
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liberdade,
Lisboa,
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palavras,
sanzala,
Texto,
vida
Location:
5070 Alijó, Portugal
do medo em furações de areia
foto de: A&M ART and Photos
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tenho medo dos furações de areia
que fingem e mentem
como corações de manteiga
tenho medo da chuva
e do vento com sorriso de gente
como a cidade semeada no deserto
tenho medo dos teus olhos
quando desce a noite sobre os teus
finos braços de árvore cansada
maltratada
doce
magoada
tenho medo dos silêncios que a
madrugada esconde
que os teus lábios comem...
e que a tua garganta em palavras de
incenso
grita...
choras
e as convulsões da tua pele
sobre o mar
como barcos
como homens empobrecidos
mortos
sentenciados por um criminoso diplomado
coitado
(do medo
do medo em furações de areia)
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Agosto de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Você voa, amooor?
foto de: A&M ART and Photos
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Você voa?
Sim, eu voo, mesmo? Sim, mesmo...
A mulher dos longos cabelos foi impressa no espelho
do meu desprezável quarto, com apenas uma velha cama e um ignorante
guarda-fato, o dito que abraça o tal espelho, mais as teias de
aranha e os mosquitos que durante a noite
Voam,
Sim amor, eu voo,
Você voa, amooor? Claro... quando bebo e coloco as
asas de borboletas que utilizava na escola para me lançar da árvore
do recreio... voava, voava, até que chegava ao mar, aí
Você voa, amooor? Claro, filha, eu voo, e aí...
Você me mata do coração, meuuu amooor!
E aí eu alcançava o mar, descerrava os olhinhos, e
tu, você voa, amooor? E tu sentada sobre a onda castanha junto à
rocha, coisa pouca, cerca de quinhentos metros da praia, eu poisava
sobre você e lhe dizia baixinho
Sim, amooor, eu voo,
Lá em casa, nas vagas horas, praticávamos voo
livre entre as teias de aranha e os caquécticos móveis do nosso
quarto, você foi impressa ainda no tempo em que as noites tinham
sorriso verde, ainda no tempo em que das noites vinham até nós as
imagens a preto-e-branco e você no espelho
Você me ama, amooor?
Sei lá, não o sei, nunca percebi nada de
impressoras, e este tipo a jacto de tinta... pior, nasci e
habituei-me com impressoras de agulhas, não eram silenciosas, mas
conseguiam imprimir-te tão facilmente no espelho do quarto que os
teus seios conseguiam ser mais perfeitos de que os originais, e de
conversa em conversa, deixávamos de perceber quem era quem, e quem
era o verdadeiro...
Você me ama, amooor?
Porra... que você é chata, porra... que você me
mata do coração, meuuu amooor!
… e quem era o verdadeiro das inúmeras imagens
deitadas sobre o estirador, noites inteiras com a caneta de tinta na
mão a inventar riscos sobre o papel vegetal, e você
Me ama, me dia, você me ama, amooor?
Porra... e mais um borrão, tudo de novo, lâmina de
barbear, raspar, pegar no lápis borracha... e continuar com os risco
até de manhã,
Depois,
Depois entranhava-se-me o sono, olhava-a e via-a
impressa no espelho, bela, linda, de cabelo solto acabado de sair da
água salgada, mulher do castelo com portas de aço, e ela
Você...
Não, por favor, hoje não,
E não mais, voei, poisei sobre a rocha, e não mais
Você me ama, amooor?
E não mais, e não... mas, do espelho a impressora
de vinte e quatro agulhas não se cansava de imprimir os seios de
chocolate da mulher do castelo com portas em aço, e sem janelas, e
sem escadas, e alimentava-me dos sons desconexos da velhinha
impressora, tão bela, ela, dentro do espelho, sempre em sorrisos de
espuma, sempre
Você...
Por favor, não mais
Você me ama, amooor?
Não
E não mais, porque hoje és impressa e só dou
conta quando tu
Você me ama, amooor?
E tu
Não, não mais, e tu
Você?
Voa?
(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Agosto de 2013
solidão nocturna
foto de: A&M ART and Photos
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canso-me das palavras que não posso
gritar
aquelas palavras que ficam guardadas
aprisionadas dentro do espelho que
alimenta o teu olhar
canso-me dos livros que leio e li
e daqueles que dormem sobre mim
invisivelmente
sós...
e é tão triste ser um livro
que ninguém acaricia
e lê e só...
deitado sobre a prateleira número
quatro
ao lado da solidão nocturna
das personagens envenenadas que se
suicidam depois de terminar a estória...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Agosto de 2013
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