foto de: A&M ART and Photos
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Você voa?
Sim, eu voo, mesmo? Sim, mesmo...
A mulher dos longos cabelos foi impressa no espelho
do meu desprezável quarto, com apenas uma velha cama e um ignorante
guarda-fato, o dito que abraça o tal espelho, mais as teias de
aranha e os mosquitos que durante a noite
Voam,
Sim amor, eu voo,
Você voa, amooor? Claro... quando bebo e coloco as
asas de borboletas que utilizava na escola para me lançar da árvore
do recreio... voava, voava, até que chegava ao mar, aí
Você voa, amooor? Claro, filha, eu voo, e aí...
Você me mata do coração, meuuu amooor!
E aí eu alcançava o mar, descerrava os olhinhos, e
tu, você voa, amooor? E tu sentada sobre a onda castanha junto à
rocha, coisa pouca, cerca de quinhentos metros da praia, eu poisava
sobre você e lhe dizia baixinho
Sim, amooor, eu voo,
Lá em casa, nas vagas horas, praticávamos voo
livre entre as teias de aranha e os caquécticos móveis do nosso
quarto, você foi impressa ainda no tempo em que as noites tinham
sorriso verde, ainda no tempo em que das noites vinham até nós as
imagens a preto-e-branco e você no espelho
Você me ama, amooor?
Sei lá, não o sei, nunca percebi nada de
impressoras, e este tipo a jacto de tinta... pior, nasci e
habituei-me com impressoras de agulhas, não eram silenciosas, mas
conseguiam imprimir-te tão facilmente no espelho do quarto que os
teus seios conseguiam ser mais perfeitos de que os originais, e de
conversa em conversa, deixávamos de perceber quem era quem, e quem
era o verdadeiro...
Você me ama, amooor?
Porra... que você é chata, porra... que você me
mata do coração, meuuu amooor!
… e quem era o verdadeiro das inúmeras imagens
deitadas sobre o estirador, noites inteiras com a caneta de tinta na
mão a inventar riscos sobre o papel vegetal, e você
Me ama, me dia, você me ama, amooor?
Porra... e mais um borrão, tudo de novo, lâmina de
barbear, raspar, pegar no lápis borracha... e continuar com os risco
até de manhã,
Depois,
Depois entranhava-se-me o sono, olhava-a e via-a
impressa no espelho, bela, linda, de cabelo solto acabado de sair da
água salgada, mulher do castelo com portas de aço, e ela
Você...
Não, por favor, hoje não,
E não mais, voei, poisei sobre a rocha, e não mais
Você me ama, amooor?
E não mais, e não... mas, do espelho a impressora
de vinte e quatro agulhas não se cansava de imprimir os seios de
chocolate da mulher do castelo com portas em aço, e sem janelas, e
sem escadas, e alimentava-me dos sons desconexos da velhinha
impressora, tão bela, ela, dentro do espelho, sempre em sorrisos de
espuma, sempre
Você...
Por favor, não mais
Você me ama, amooor?
Não
E não mais, porque hoje és impressa e só dou
conta quando tu
Você me ama, amooor?
E tu
Não, não mais, e tu
Você?
Voa?
(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Agosto de 2013