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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Desenhos embriagados


A mecânica do esqueleto de pedra
em movimento uniformemente acelerado,
no abismo das amendoeiras enlouquecidas
adormece um sorriso cansado,
triste,
porque habitam nos lábios de uma gaivota os desenhos embriagados,
a mecânica...
do sexo quando emerge das sílabas tontas o orgasmo da palavra,
deita-se na fina folha de papel não escrita,
branca como o silêncio... como o silêncio da mecânica...
que grita,
e chora nas encostas perdidas,
na montanha do Adeus,
brincam as crianças das planícies nocturnas do infinito,
descobrem o beijo num qualquer espelho sem nome,
e a cidade entra em ebulição quando uma janela se alimenta do cortinado colorido,
a mecânica... não sabe o que é o amor,
a física quântica alicerça-se ao esqueleto de pedra,
e as mandíbulas ínfimas de espuma...
correm nas veias do poeta,
tenho no meu quarto um veleiro ensonado,
sem bandeira,
sem... sem Nacionalidade,
como a saudade...
sempre desalinhada com os carris invisíveis da paixão.




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Novembro de 2014

sábado, 21 de setembro de 2013

crateras de vidro

foto de: A&M ART and Photos

penso em ti enquanto habitas o meu esponjoso peito
com crateras de vidro
penso em ti quando se abre em mim uma qualquer janela
que o meu pobre corpo alimenta
possui
habitas em mim sonho encaracolado nos castanhos cabelos do amanhecer...

apaixonado cansaço do silêncio mendigo às ruas plastificadas como capas de livros envelhecidos
perdidos entre palavras e ventos agrestes
velas
e veleiros...
penso em ti... peito
mergulhado no Oceano mar em tristes marés nocturnas

penso em ti enquanto bebo o meu esponjoso peito onde habitas clandestinamente...
vestes-te de sofrimento e disfarças-te de fotografia
imagem pobre e apodrecida
das tempestades aos beijos em chuva de Outono
caiem as folhas dos teus lábios
e alicerçam-se no meu peito esponjoso... e lá deitas a cabeça da solidão

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Setembro de 2013

domingo, 25 de agosto de 2013

Nunca mais o branco fumo dele nos meus lábios

foto de: A&M ART and Photos

Porquê?
Os navios em fúria de apitos, amontoavam-se à porta de casa, lá dentro, eu e ele, tentávamos esconder as amarras dentro da gaveta da cómoda, eles cá fora, gritavam
Porquê?
Marinheiros famintos, procuravam qualquer objecto que servisse para derrubar a frágil porta, escondemos-nos junto ao corredor que dava acesso à casa de banho, o peitoril fumegava, alguém já nos tinha lançado algo de combustível, algo de destruidor, abracei-me a ele, e com toda a minha força
Porquê?
Fiquei não sei quantas noites pensando que nunca mais terminaria a sangrenta guerra de palavras da cidade dos desejos, multipliquei abraços, dividi beijos, e hoje
Porquê?
Hoje pareço um íngreme cavalo de areia correndo sobre o mar,
E com toda a minha força apertei-o como quem aperta o único filho, e pela madrugada, não sei qual delas, ele partiu, consegui desembaraçar-se dos meus abraços, e
Nunca mais o branco fumo dele nos meus lábios,
Nunca mais
Porquê?
O silêncio pergaminho das suas mãos no meu rosto,
Nunca mais a voz desajeitada dele no espelho da casa de banho, irritava-me
Vens jantar logo, meu querido?
Irritava-me
Três torradas chegam, meu querido?
Assim não, assim sentia dentro de mim uma escada rolante em direcção ao poço profundo da tristeza, irritava-me
Querido
Sim, diz?
Querido, logo chegas cedo a casa?
E apetecia-me gritar, não regressar, nunca, irritava-me
Sim, diz?
Que coisa... a tua...
Os navios em fúria de apitos, amontoavam-se à porta de casa, lá dentro, eu e ele, tentávamos esconder as amarras dentro da gaveta da cómoda, eles cá fora, gritavam
Porquê?
Eles cá fora pareciam um exército de mendigos, procuram-nos como quem procura o vento antes de levantar âncora, o veleiro poisava-se sobre um banco de areia, rodopiava em pequenos círculos... e dali não zarpava nunca,
Porquê?
Os marinheiros famintos, o azedume dos versos que o poeta louco tinha deixado sobre a mesa-de-cabeceira no quarto da amante voavam porque o vento que antes se fazia sentir no corredor começou aos poucos a avançar em direcção ao quarto, a amante tinha desaparecido, ele e o amante, também desaparecidos, apenas os famintos marinheiros enrolados em poemas de “merda” que o louco poeta ante de suicidar-se tinha esquecido, tal como a janela aberta
Porquê? Esta chuva de papeis com pequenas palavras...
Os marinheiros
Porquê?
O poeta louco
Onde está ele?
A amante do poeta louco
Irritava-se com as palavras do seu amado, algo de destruidor, abracei-me a ele, e com toda a minha força
Porquê?
Porque hoje é Domingo, porque hoje há quitetas e cerveja Cuca...
Porquê?
Porque uivam os navios quando estão em sossego?


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Agosto de 2013