sábado, 17 de maio de 2014

falsos sorrisos


vendem-se falsos sorrisos
conquistam-se corações de espuma
que se embrulham em impregnados livros com sabor a solidão
escrevem-se falsas palavras
no corpo da insónia

desenham-se círculos nos seios da madrugada
choram as meninas do amanhecer
há rosas envenenadas
há rosas com vontade de morrer...
vendem-se falsos rios e falsas caravelas

vendem-se cidades de vidro
com ruas de porcelana
e corpos de nada
e corpos... e corpos de néon marinheiro
nos seios da madrugada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014

sexta-feira, 16 de maio de 2014

amanheceres triangulares


dizem-me os teus olhos
pequeníssimos lençóis de solidão
fios de seda em desejo coração
manhãs adormecidas e sem poiso
dizem-me os teus olhos
que há madrugadas quadriculadas
e amanheceres triangulares
dizem-me...
quando oiço o teu enfeitado sorriso brincando na calçada
e uma criança abandonada
aprisiona o teu olhar e me diz...
o que dizem os teus olhos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 16 de Maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

equação sem solução


o olmo cansaço do teu peito
há em ti a penumbra escuridão
sinto-te e sei que não pertences às coisas físicas
talvez não passes de uma equação
tão pobre
e sem solução


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 15 de Maio de 2014

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O medo inventa-se em mim


O medo inventa-se em mim,
cresce,
e sorri,
o medo aprisiona-me como aprisiona o paquete mergulhado em nuvens de dor...
o medo é assim,
o medo inventa-se,
e,
e espera pelo regresso da noite para adormecer no meu corpo,

Hoje, hoje não sinto a falta de um abraço,
um beijo,
ou... ou de uma simples carícia,

Hoje, hoje tenho medo,
medo do regresso do medo,
medo das tempestades de areia branca,

O medo inventa-se em mim,
vive como um crustáceo nas rochas da insónia,
caminha,
corre no corredor do amanhecer,
saltita nas janelas da madrugada,
o medo inventa-se,
e... e aparece num esqueleto de vidro mendigando na cidade dos sonhos,
e hoje, hoje não um abraça, e hoje, hoje não um beijo... hoje tenho medo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 14 de Maio de 2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

Habitante das nuvens de algodão


Não sei quem és, habitante dos meus sonhos,
não percebo a tua insistência de viveres em mim, enquanto durmo e invento círculos com mãos de prata...
e voas como um pássaro ferido, e ardes... como uma sanzala de papel,
não sei que és,

Entras e sais,
e... e nem uma simples carícia na despedida,
não sei quem és, porque me escolheste para habitar,
e entras,
e... e sais,
e sais sem me beijar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 13 de Maio de 2014

Poema de Francisco Luís Fontinha em Divulga Escritor


segunda-feira, 12 de maio de 2014

pincelados beijos


pincelados beijos
que escondem o teu sorriso
anáfora caneta sobre os teus seios de maré adormecida
aos lábios regressam os marinheiros
e todos os bandidos
pincelados beijos
do amanhecer mórbido
há ventos enfurecidos
e nocturnos corpos voando sob o silêncio da ponte de pedra...
o rio chora
o rio engorda
como uma gaivota que espera o nascer do dia...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 12 de Maio de 2014

domingo, 11 de maio de 2014

Cerejas de papel


O corpo é de espuma verde,
cintilam nela as cerejas de papel,
o corpo incendeia-se quando cresce a noite nas mãos do desejo,
e ouve-se o beijo,
deambulando nas orgias marés de Inverno,
o corpo em chamas, o corpo Inferno,
como lábios de mel...
a cidade desamarra-se do cais da liberdade,

O corpo é de espuma verde,
erva daninha nas encostas da montanha sem amanhecer,
o corpo brinca na lareira inventada dos olhos em verniz envelhecer,
o corpo ginga como uma moeda a morrer,
sei que vês os Oceanos marginais que a cidade embarca,
o corpo diminui, o corpo procura a sílaba tonta com perfume de naftalina, e há uma arca,
e há uma sombra, apenas com uma palavra e que não quero escrever...
o corpo é uma bala com nome de cidade,

A cidade a arder.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Maio de 2014

sonhos da tempestade


mergulho nos sonhos da tempestade,
depois, depois adormeço na espuma invisível do vento,
pergunto-me se existem cabelos de porcelana no teu sorriso,
dizem-me... dizem-me que o teu sorriso não me pertence,
há um exíguo cansaço no meu peito,
uma corrente de aço que me suspende ao Luar,
um constante fluxo de iões voando nas asas da gaivota madrugada,
mergulho em ti, mergulho nas tuas mãos de rosa ensonada,
mergulho no amanhecer,
sem o saber,
como um inocente corpo abandonado nas sombras da cidade,
como um esqueleto sem vontade de amar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Maio de 2014

sábado, 10 de maio de 2014

cubículo de trapos


habito num cubículo de trapos
e janelas de saudade
esta cidade é uma merda como todas as merdas que vivem em mim...
habito apenas porque me obrigam a viver sob as árvores da paixão
ruas desertas
ruas onde passeiam barcos
caravelas
e os demais corpos enrolados em estrelas de sisal

habito apenas por habitar
respiro
amo?
e fujo para o mar

habito nos sonhos que morreram na madrugada em flor
sei que me pertencem alguns dos esqueletos da insónia
sei que poderia ser rico... mas que se foda toda a riqueza

que se foda o verbo habitar
e a beleza

habito...
apito
sou um comboio sobre carris de aço
um corpo pesado e aprisionado às sanzalas de ontem
habito
apito
amo?
e fujo para o mar

e fujo da palavra... AMAR!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 10 de Maio de 2014