quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Chá de menta
foto de: A&M ART and Photos
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O nosso mar se afunda
a lua veste-se de luar
e morre nas candeias de chapa que o
silêncio olhar
transforma
mata
o nosso mar é desassossego em lata
voando sobre os coqueiros de prata
o nosso mar morre e desaparece na
alienada cidade
sem norma
sem idade
o nosso mar é como a saudade
entre lábios siderais
e chá de menta...
oiço as árvores que cantam
os pássaros que não choram..
e este cacimbo que alimenta
a tua nossa dor... a dor de amar na dor
de sofrer
a tua nossa tristeza que nos afugenta
sinto-te como sentia as cansadas vozes
da madrugada
à janela da alvorada
um lenço em papel
triste triste como uma pétala
adormecida eternamente no coração de
um pincel...
à deriva... à porta de um bordel.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 8 de Janeiro de 2014
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Frestas da solidão
foto de: A&M ART and Photos
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Invenção do meu caderno negro
que a noite me pertence
que a noite me habita como uma carcaça
de pão
que a noite me grita e me insulta...
como a um aldrabão
invenção
das tristes linhas paralelas que o
cansaço vence
um polícia que me multa
e escreve com letra apressada o meu
nome
morada
e eu... eu afogando na carcaça a minha
fome
a minha mágoa na tua boca em meu divã
deitada,
Invenção do meu caderno negro
da palavra
invenção do meu caderno impuro aberto
nu com alma macabra
quando do esqueleto da vaidade
acorda uma cidade
um infeliz transeunte com sabor a
madrugada
manhã submersa ensanguentada...
invenção
na paixão
misturada nas flores com plumas de
mão...
da palavra
a palavra envenenada que o cisne
entranha nas frestas da solidão.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 7 de Janeiro de 2014
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Ruas desnorteadas
foto de: A&M ART and Photos
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A insignificante maré de desejo que a
palavra deixa sobre o corpo envelhecido da morte
a espuma translúcida do abismo
camuflado nas noites em delírio
o cigarro mal apagado
caminhando ruas pouco iluminadas
cadentes
velhas...
calçadas permitindo o sexo sobre os
fantasmas das cortinas de fogo que saltitam do circo em miniatura
a insignificante maré que eu sinto na
minha algibeira
fundeada em Cais do Sodré...
sem eira nem beira...
a terra não prometida
o deserto que te absorve e alimenta
e come em pedaços de açúcar
misturados com azedos olhares
as árvores que sombreiam as tuas mãos
de pérola emagrecida...
tão triste
e... e tão querida.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014
domingo, 5 de janeiro de 2014
E... Adeus; não voei e caí.
foto de: A&M ART and Photos
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Limbos putrefactos onde habitam os esqueletos
humanos, do húmus o húmus selvático que um insignificante
transeunte transporta, desce a calçada, sobe as escadas do Adeus e
depois, depois arrefecem as panquecas e os pastéis de bacalhau, há
sempre preguiçosas luzes na calçada do senhor António Eu, há
sempre pedras vestidas de sandálias e sandálias travestidas de
pedras... rolam, rolam até que a noite cai sobre o alpendre da
triste aldeia dos Macacos,
Vestiram-me de Anjo, colocaram-me umas parvas asas
em sarja, não voei e quase caí da Mangueira abaixo, acreditando eu
voar porque me tinham dito ser um
Anjo?
Sim, sim parvamente... um Anjo com asas e que nunca
voou,
Caminhei e palmilhei calçadas, de sandálias
parecia um parvalhão com asas enormes sobre os ombros, derreado,
cansado... apeteceu-me insultar todos os presentes, chamei-lhes de
filhos da mãe e a minha mãe
Triste,
E ouvia os Limbos putrefactos onde habitavam os
esqueletos humanos, do húmus o húmus selvático que um
insignificante transeunte transporta, desce a calçada, sobe as
escadas do Adeus e depois, depois sente, sente sobre os ombros o peso
da morte,
Triste, dizia-me ela,
Triste, ela sempre, digo-o eu,
Vagabundo imundo, dizia-me o senhor António Eu, e
lá fui voando e tropeçando e caindo e me levantando, hoje olho-me
numa fotografia, parvamente com asas, sorria
Pergunto-me, porque sorria este grande parvalhão?
Ora... se não voei, chorei, caí, me levantei,
tropecei, cheguei a casa com os pés recheados de bolhas, subi a
Mangueira e
Abri literalmente os braços, sentia as asas a
prenderem-se aos ramos envelhecidos... e tombei sobre o térreo
pavimento, junto a mim, estatelado do outro lado, o meu velho
triciclo e o também meu parvalhão boneco de estimação, o
Chapelhudo?
Tardes inteiras a construir vestidos para este amigo
e nunca conheci a sua família, e nunca
Quem vos mandou prometer?
Alguém prometeu se outro alguém ficasse curado,
eu, o miúdo, fosse vestido de PARVALHÃO, levava asas de sarja e
Quase
Caí sobre o pavimento térreo acreditando que,
V O A V A...
Não voei, fui contrariado, também... quem os
mandou prometer que eu ia sem me consultarem?
Não voei, não fiz mais vestidos para o chapelhudo,
e quase
Vomitei,
Enjoei a principio quando (vejamos; a principio = no
começo, e a princípio = em teoria), portanto está escrito
correctamente, minha Adorável Senhora, continuando, enjoei a
principio quando encontrei na descida um velho amigo meu, um famoso
papagaio em papel, tinha quatro cores e um novelo de cordel, tinha-o
roubado às rendas da minha querida mãe, e rendas refiro-me a
crochet, não a outro tipo de rendas, que felizmente
Caí sobre o pavimento térreo acreditando que,
E enjoei, e vomitei palavras terminadas em
Alho,
Que confesso detesto, que odeio...
(Enjoei a principio quando (vejamos; a principio =
no começo, e a princípio = em teoria), portanto está escrito
correctamente, minha Adorável Senhora, continuando, enjoei a
principio quando alguém me apelidou de “meu menino” e eu, olhei,
eu... vi-o de bengala e não percebi o que ele fazia ali..., e a
principio, não, não a “princípio”, a principio ainda acreditei
que voava... pois se me tinham confirmado por escrito que eu era um
anjo e credenciado para grandes voos...,
Grandes voos..., apenas fiquei-me por estilista do
meu amigo Chapelhudo, e hoje, hoje tenho saudades dele e das suas
mãos de borracha, e hoje...)
Hoje?
Ai... ai hoje, hoje... “Os Limbos putrefactos onde
habitam os esqueletos humanos, do húmus o húmus selvático que um
insignificante transeunte transporta, desce a calçada, sobe as
escadas do Adeus e depois, depois arrefecem as panquecas e os pastéis
de bacalhau”
E... Adeus; não voei e caí.
* E claro que o plural de pastel de bacalhau é
pastéis de bacalhau; pastéis de bacalhau.
(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 5 de Janeiro de 2014
Fotografia sem nome
foto de: A&M ART and Photos
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Perspectivo-me sobre a sombra lâmina
do teu sorriso de gaivota sem poiso
há uma linha transversal que nos
separa e aproxima
como uma fotografia sem nome na mão do
louco muro em xisto
desço às fronteiriças margens do
desejo
desço até que sou engolido pelo
cosseno de trinta e cinco graus dos teus lábios...
desejarás-me ainda depois das equações
diferenciais dormirem dentro dos quadriculados cadernos?
Invejo-te a liberdade
e os voos nocturnos quando se esquecem
de ti e tu
e eu
suspensos no estendal das sílabas
poéticas que o veneno da tua boca alicerçou na tempestade
há em nós uma circunferência de luz
com braços de areia
húmidas todas as palavras dos anzóis
do medo das sanzalas com vozes de zinco
com olhos de fome...
e chove
chove sobre o teu corpo de nylon onde
se abraçam os barcos desvairados quando o vento se entranha no amor
e nos transporta para o infinito
e lá ao fundo... a sombra lâmina do
teu sorriso de gaivota sem poiso.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 5 de Janeiro de 2014
Labels:
amor,
Barcos,
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círculos,
corpo,
desejo,
fotografia,
geometria,
luz,
paixão,
palavras,
poema,
Poesia,
sanzalas,
sorriso,
trigonometria
Location:
5070 Alijó, Portugal
No meu texto de ontem “Estoy enamorado” alguém
me chamou à atenção que literáriamente não leva acento agudo no
“á”. Ora literariamente é um advérbio de modo terminado em
-mente, derivado do adjectivo literário com acento agudo, e também
no caso de advérbios de modo terminados em -mente derivados de
adjectivos com acento circunflexo, ambos os casos não levam acento
nem agudo, nem circunflexo.
Ex:
Literário – Literariamente;
Só – Somente;
Espontânea – Espontaneamente;
Por alguma razão, no final dos meus textos, está
bem explícito (não revisto). A verdade é que o dito comentário
apenas existe porque uma dita senhora, com vários perfis falsos no
Facebook, resolveu chatear-me, ou melhor, pensa que me chateia...
digamos como dizia o outro; para me chatearem precisam de morder-me
a.... ela já o fez e não me chateou em nada. Pior do que isso são
as pessoas que lhe emprestam o perfil para ela fazer comentários em
nome de outros...
FIM
Cigarro invisível
foto de: A&M ART and Photos
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Puxo de um cigarro invisível e penso nos teus
cabelos húmidos depois das chuvas de Inverno, recordo o lamacento
labirinto de saudade que existia nos teus doces dedos envenenados
pela paixão do silêncio, habitas como um pássaro no meu pobre e
triste covil, habitas também tu, tal como o cigarro invisível,
derretido em pedacinhos de cinza que voa sobre os desejos matinais
das ardósias sem janelas, puxo e penso no cigarro invisível, estive
quase a desejá-lo, estive quase a possui-lo... estive quase dentro
dele como ele vive eternamente dentro de mim, inexplicavelmente...
não o fumei, inexplicavelmente... não o puxei, manuseei-o na minha
mão como uma munição perdida, esquecida... e
Sem nome?
Uma carcaça de fome, puxo, não puxo, invento,
adormeço, me sento sobre as dores do andarilho covil da minha
infância, viajo, regresso, embarco... sem medo, com medo, sem nome?
E puxo e regressam todas as palavras adormecidas, e
puxo e regressam todos os desejos prometidos...
Ausente,
Sente,
E puxo, e puxo até que o dia acorde, até que a
noite se deite, durma, finja viver quando a vida não se vive...
come-se como rodelas de laranja...
E estonteante me sinto para acreditar em labirintos
de prata, e estonteante me sinto... me sinto para sofrer paixões de
xisto quando a húmida manhã se entranha no púbis da atmosfera
encharcada de dióxido de carbono...
Sente,
O ausente,
E puxo de um cigarro invisível e penso nos teus
cabelos húmidos depois das chuvas de Inverno, recordo o lamacento
labirinto de saudade..., e não sei, e não sei se a noite é negra,
encarnada... ou... ou de cor nada.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 5 de Janeiro de 2014
sábado, 4 de janeiro de 2014
Estoy enamorado
foto de: A&M ART and Photos
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“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das
frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança
corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo,
um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com
duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos
desperdiçados,
Estoy enamorado,
“Estoy enamorado” sem perceber que a cidade
dorme, respira e sonha..., deixei de sonhar quando dei conta das
árvores com braços de cinzentos cigarros de enrolar, tive medo que
depois de adormecer, nunca, nunca mais acordaria para olhar o mar,
dormi, não sonhei... e quando me acordaram, anos depois, voltei a
olhar
“Estoy enamorado” pelo mar,
E conheci uma abelha por
quem “estoy enamorado”, literáriamente é uma besta, sempre aos
gritos, acorda todos os fantasmas da cidade dos peixes, sinto dentro
de mim os barcos da desgraça, sinto dentro de ti os edifícios com
alicerces de prata e telhados em colmo, a floresta deambula nos teus
cabelos, e tu, estúpida abelha, literáriamente pareces uma lareira
sempre extinta, apenas daquelas que servem apenas de adorno, um cão
saltita de sofá em sofá, e do resto do mobiliário... apenas a
escrivaninha com quatro gavetas encerradas a fechaduras de marfim, um
velho e rabugento cinzeiro e claro... a porcaria de sempre das mesmas
fotografias de sempre, família, fantasmas que hoje apenas o são,
habitam dentro do nosso pequeno espaço, não respiram, não saem de
casa... mas... também não bebem, dançam umas com as outras, fumas
haxixe por prazer e lêem revistas com fotografias de gajos nus, eles
e a minha abelha parecem a tromba de um elefante depois da congestão
com percebes e algumas quitetas, lembro-me das asas dela, e sinto
nojo das palavras que me escrevia, dizendo que
“Estoy enamorada”,
As barbatanas sentiam o cheiro intenso do sossego
das conchas vermelhas, a lua em guindastes de orgasmo levanta-se do
divã, e
“Estoy enamorada” por ti, por eles, por todos os
homens com vestidos de prata, os olhos pintados com rímel e nos
lábios um colorido desejo sobressaltava... ouvíamos do outro lado
da ranhura do gesso
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E as varandas balançavam e as escadas brilhavam e
as ombreiras...
Se iluminavam,
E
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
Amávamos-nos como bijutarias da “feira da ladra”,
levava livros para vender e trazia panfleto de heroína para fumar,
“Si mi querido”,
“Estoy enamorado de ti”
e quando regressávamos a casa tínhamos um regimento de transeuntes
à nossa espera, polícia, polícia e mais polícia, tudo porque
tínhamos trocado alguns livros por outros tantos panfletos de
ardósia tarde sem recreio,
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das
frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança
corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo,
um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com
duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos
desperdiçados, a canalização sempre em pequenos arrotos devido aos
pigmentos de ferrugem, ouvíamos cair sobre nós os pingos longos da
chuva sem
Nome?
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das
frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança
corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo,
um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com
duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos
desperdiçados, o nome pertencia à rua do abismo construído sobre
os rochedos da coragem, estar e não pertencer estando, e nunca
estive, e nunca estarei...
Disponível,
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E a abelha zarpou de mim, sinto-me livre,
sinto-me... sinto-me como uma enxada vociferando os novelos de lã da
minha mãe...
Amanhã, amanhã... amanhã “estoy enamorado”.
(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Janeiro de 2014
Labels:
abelhas,
cidade dos peixes,
desejo,
escita,
ficção,
floresta,
literatura,
livros,
mãos,
palavras,
saudade,
sílabas,
solidão,
Texto,
vida
Location:
5070 Alijó, Portugal
enlouquecido acordado
foto de: A&M ART and Photos
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enlouqueço como os ramos cansados da
amoreira
evaporam-se no vento agreste que traz a
tempestade de areia
vomita barcos e caravelas e mulheres de
porcelana
belas às vezes... feias quando os
charcos lamacentos do abismo estão sobre o mar...
mulheres que fogem das nuvens
invisíveis dos doces torrões de açúcar
enlouqueço
vivo fingindo viver
e escrever fingindo que escrevo
não escrevendo...
… nada
absolutamente... nada
porque odeio as canetas de tinta
permanente
porque deixei de guardar as velhas
folhas em papel amarrotado...
velho
porque... queimei os dedos do teclado
da máquina de escrever
ainda oiço os sons magoados das
sílabas em sangue...
e enlouquecido... sinto-me um iceberg
perdido na espuma tranquila do silêncio medo
procurando travessões longos de
madeira firme
palavras
tristes palavras
das cadeiras da sala de jantar...
oiço e choro
perco-me não percebendo que do
pavimento da paixão
acordam os laços de nylon dos mastros
enferrujados.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Janeiro de 2014
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