foto de: A&M ART and Photos
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Puxo de um cigarro invisível e penso nos teus
cabelos húmidos depois das chuvas de Inverno, recordo o lamacento
labirinto de saudade que existia nos teus doces dedos envenenados
pela paixão do silêncio, habitas como um pássaro no meu pobre e
triste covil, habitas também tu, tal como o cigarro invisível,
derretido em pedacinhos de cinza que voa sobre os desejos matinais
das ardósias sem janelas, puxo e penso no cigarro invisível, estive
quase a desejá-lo, estive quase a possui-lo... estive quase dentro
dele como ele vive eternamente dentro de mim, inexplicavelmente...
não o fumei, inexplicavelmente... não o puxei, manuseei-o na minha
mão como uma munição perdida, esquecida... e
Sem nome?
Uma carcaça de fome, puxo, não puxo, invento,
adormeço, me sento sobre as dores do andarilho covil da minha
infância, viajo, regresso, embarco... sem medo, com medo, sem nome?
E puxo e regressam todas as palavras adormecidas, e
puxo e regressam todos os desejos prometidos...
Ausente,
Sente,
E puxo, e puxo até que o dia acorde, até que a
noite se deite, durma, finja viver quando a vida não se vive...
come-se como rodelas de laranja...
E estonteante me sinto para acreditar em labirintos
de prata, e estonteante me sinto... me sinto para sofrer paixões de
xisto quando a húmida manhã se entranha no púbis da atmosfera
encharcada de dióxido de carbono...
Sente,
O ausente,
E puxo de um cigarro invisível e penso nos teus
cabelos húmidos depois das chuvas de Inverno, recordo o lamacento
labirinto de saudade..., e não sei, e não sei se a noite é negra,
encarnada... ou... ou de cor nada.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 5 de Janeiro de 2014
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