foto de: A&M ART and Photos
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Limbos putrefactos onde habitam os esqueletos
humanos, do húmus o húmus selvático que um insignificante
transeunte transporta, desce a calçada, sobe as escadas do Adeus e
depois, depois arrefecem as panquecas e os pastéis de bacalhau, há
sempre preguiçosas luzes na calçada do senhor António Eu, há
sempre pedras vestidas de sandálias e sandálias travestidas de
pedras... rolam, rolam até que a noite cai sobre o alpendre da
triste aldeia dos Macacos,
Vestiram-me de Anjo, colocaram-me umas parvas asas
em sarja, não voei e quase caí da Mangueira abaixo, acreditando eu
voar porque me tinham dito ser um
Anjo?
Sim, sim parvamente... um Anjo com asas e que nunca
voou,
Caminhei e palmilhei calçadas, de sandálias
parecia um parvalhão com asas enormes sobre os ombros, derreado,
cansado... apeteceu-me insultar todos os presentes, chamei-lhes de
filhos da mãe e a minha mãe
Triste,
E ouvia os Limbos putrefactos onde habitavam os
esqueletos humanos, do húmus o húmus selvático que um
insignificante transeunte transporta, desce a calçada, sobe as
escadas do Adeus e depois, depois sente, sente sobre os ombros o peso
da morte,
Triste, dizia-me ela,
Triste, ela sempre, digo-o eu,
Vagabundo imundo, dizia-me o senhor António Eu, e
lá fui voando e tropeçando e caindo e me levantando, hoje olho-me
numa fotografia, parvamente com asas, sorria
Pergunto-me, porque sorria este grande parvalhão?
Ora... se não voei, chorei, caí, me levantei,
tropecei, cheguei a casa com os pés recheados de bolhas, subi a
Mangueira e
Abri literalmente os braços, sentia as asas a
prenderem-se aos ramos envelhecidos... e tombei sobre o térreo
pavimento, junto a mim, estatelado do outro lado, o meu velho
triciclo e o também meu parvalhão boneco de estimação, o
Chapelhudo?
Tardes inteiras a construir vestidos para este amigo
e nunca conheci a sua família, e nunca
Quem vos mandou prometer?
Alguém prometeu se outro alguém ficasse curado,
eu, o miúdo, fosse vestido de PARVALHÃO, levava asas de sarja e
Quase
Caí sobre o pavimento térreo acreditando que,
V O A V A...
Não voei, fui contrariado, também... quem os
mandou prometer que eu ia sem me consultarem?
Não voei, não fiz mais vestidos para o chapelhudo,
e quase
Vomitei,
Enjoei a principio quando (vejamos; a principio = no
começo, e a princípio = em teoria), portanto está escrito
correctamente, minha Adorável Senhora, continuando, enjoei a
principio quando encontrei na descida um velho amigo meu, um famoso
papagaio em papel, tinha quatro cores e um novelo de cordel, tinha-o
roubado às rendas da minha querida mãe, e rendas refiro-me a
crochet, não a outro tipo de rendas, que felizmente
Caí sobre o pavimento térreo acreditando que,
E enjoei, e vomitei palavras terminadas em
Alho,
Que confesso detesto, que odeio...
(Enjoei a principio quando (vejamos; a principio =
no começo, e a princípio = em teoria), portanto está escrito
correctamente, minha Adorável Senhora, continuando, enjoei a
principio quando alguém me apelidou de “meu menino” e eu, olhei,
eu... vi-o de bengala e não percebi o que ele fazia ali..., e a
principio, não, não a “princípio”, a principio ainda acreditei
que voava... pois se me tinham confirmado por escrito que eu era um
anjo e credenciado para grandes voos...,
Grandes voos..., apenas fiquei-me por estilista do
meu amigo Chapelhudo, e hoje, hoje tenho saudades dele e das suas
mãos de borracha, e hoje...)
Hoje?
Ai... ai hoje, hoje... “Os Limbos putrefactos onde
habitam os esqueletos humanos, do húmus o húmus selvático que um
insignificante transeunte transporta, desce a calçada, sobe as
escadas do Adeus e depois, depois arrefecem as panquecas e os pastéis
de bacalhau”
E... Adeus; não voei e caí.
* E claro que o plural de pastel de bacalhau é
pastéis de bacalhau; pastéis de bacalhau.
(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 5 de Janeiro de 2014