sábado, 11 de maio de 2013

Azul como eu do azul os pássaros

foto: A&M ART and Photos

Azul sou azul como os pássaros do infinito amanhecer, desprezava os horários, relógios, comia-os, os calendários? Simplesmente, olhava-os como pequenos bichos amestrados, imaginava-me sobre um fino arame que atravessava a rua dos sentidos, e eu, juro, não sinto, não sentia, nunca, coisa alguma, como hoje que azul como sou, os pássaros do infinito amanhecer, descobrem, coitados, que não existe noite, embriagados prazeres, nem aos dias faltam malabarices eternas, como as pieguices do catrapuz sistema de equações lineares, havia uma fígado encharcado em vodka, um fígado doente, mas contente, um... perfeito idiota, mafiosa como as bolachas de água e sal que deixavas sobre a mesa de granito que em pequenas rotações, mínimas, conseguiam alimentar um exercito de abelhas com pequenos parafusos de aço, com asas de porcelana, lama, a cama na lama que havia em ti, havia e havia
aprendi a consultar nas páginas amarelas
O teu rigoroso endereço num papel encarnado, escreveste o teu nome, número de polícia e telefone,
e ouviam-se-te os berros das horas por terminar, e ouviam-se-te os berros dos dias entalados na penumbra que os pássaros do infinito amanhecer, esse
O teu
silêncio que dizias-me existir no teu coração e que eu, nunca, acreditei, acredito no azul como eu do azul os pássaros, colados na tela que as velhas flores que crescem nas tuas coxas que a Primavera absorve, come, diz-se que o teu
Esse?
porque são as tuas coxas amarelas?
Diz-se que o teu corpo pertence às searas brancas com pontos de luz e pequenos torrões de açúcar quando se acendem na tua pele os pigmentos mórbidos das caravelas em flor, misturam-se-lhes as ditas coisas que despedaçavas como gargantas infelizes, e berravas, dançavas como estrelas em queda livre, até que os dias se transformavam em martírios e delírios, e uma pequena longa cruz de cedro poisava-se sobre os teus cabelos, à rapaz, de rapaz, saltavas os muros da aldeia e partias as cabeças dos transeuntes como tu, crianças como tu, e como tu
desejavam-se-lhes as pequenas palavras tatuadas no pescoço, um poema em forma de vidro, ou um pequeno vidro, travestido de poema, efeminado, ele, eu, corríamos suavemente sobre as palha adormecida do palheiro do tio Joaquim, e adoçavam-se-nos os corpos com pequenas caricias de mel e de mãos dentro de ti que procuravam o clitóris literário dos teus dias como nós
Vagueávamos nas docas encobertas com rochas e músculos comboios de areia, sabia-te como fosses um gladíolo comestível, ou prisioneira numa jarra de murmúrio, havia-nos de acontecer entrar no nosso palheiro, além do desejo, da paixão, do amor... a eterna saudade de ti quando fingias não me veres, e sentia-te sobre o meu ventre...
todo o teu peso, mínimo, a equação de três incógnitas, três equações suspensas por três letras aleatórias, e eu, resolvendo-as sem saber que tu existias, nunca te vi, mas imagino-te habitares dentro de uma integral tripla, ou numa talvez... pequena, sempre pequena, derivada do co-seno ou seno, tão simples, e não conseguia perceber que estavas lá, que sempre
Estive nesse lugar como os protões e os electrões,
Que sempre, ou não,
“azul sou azul como os pássaros do infinito amanhecer, desprezava os horários, relógios, comia-os, os calendários? Simplesmente, olhava-os como pequenos bichos amestrados, imaginava-me sobre um fino arame que atravessava a rua dos sentidos, e eu, juro, não sinto, não sentia, nunca, coisa alguma, como hoje que azul como sou, os pássaros do infinito amanhecer, descobrem, coitados, que não existe noite, embriagados prazeres”
Que sempre, ou não, acreditar que dos teus lábios, um dia, soltar-se-à
os triângulos dos teus olhos, adoro-os sem o saberes...
Soltar-se-à a madrugada com pequenas pétalas das flores que és tu.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

A deleitada manhã ensanguentada pelos carris de uma paixão invisível

foto: A&M ART and Photos

Subo até desistir de caminhar sobre cobertores
e finos espelhos de aço
subo teu corpo meu poiso ancorado
sabendo que em cima da cúpula cúbica uma raiz quadrada morre e cai...
e subo e desço e sento-me sobre as linhas rectas do desejo,

Procuro e busco beijos tridimensionais
beijos em lábios triangulares
como um sótão solitário debaixo do céu
um bocadinho acima da saudade cidade
entre esparsas lágrimas e panos margaridas,

Subo
e desces por mim até chegares ao terminal número cinco
faixa três primeiro andar esquerdo na rua dos pilares de areia...
e desço sobre ti
como descem as madrugadas nas pálpebras cinzentas das tuas mãos,

Sou um imbecil programado
iletrado e desalinhado como os parafusos das dobradiças do teu púbis montanha de peixe
e conversávamos sobre poemas de leite
e conversávamos...
as minguas cavidades sombrias das frestas do delírio que a noite desenhava em nossos corpos de maré revoltada,

E línguas de xisto derramavam sobre os teus seios em socalco
subtis palavras em pedaços de terra adormecida na esplanada do abraço
e a deleitada manhã ensanguentada pelos carris de uma paixão invisível
e talvez impossível de desenhar
evapora-se dentro da tua doce boca com sabor a naftalina...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Em destaque – Sapo Angola.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Eu sou um pássaro que poisa hoje aqui, e amanhã, não tem onde poisar

foto: A&M ART and Photos

Pouco ou nada nos pertencia, e a lua, que eu sempre tinha ouvido dos vizinhos ser pertença do senhor nocturno com olhos penteados como bicos de papagaio subindo o céu, e de um simples cordel, suspendia-me como débil que eu era, não às árvores do quintal, mas a um enferrujado portão de entrada, eu sentava-me, eu poisava os cotovelos, eu imaginava das grades crescerem leões e jibóias... que histórias ouvia, sem que tenha algum dia visto, sentindo ou olhando, uma, duas, três... e a única cobra que realmente apareceu na minha vida, essa, chamava-se Etelvina, tinha calafrios quando lhe tocava e ressonava durante a noite, não como porcos, porque esses ainda conseguem ser mais silenciosos do que ela realmente o era, mas coitada, falecida, partiu para longe, e dos mortos, em alguns mortos, eu, não, falo...
só falo na presença do meu advogado, queixava o cigano marreco acusado de malabarismos dentro de uma velha tenda onde vendia, CD'S pirateados, cuecas a cinco euros, digamos doze pares, e não esquecendo telemóveis com chamadas grátis para todas as redes, incluindo a rede presidiária onde iria permanecer os próximos seis meses de vida, ele, não via as coisas por esse prisma e considerava a prisão como uma reciclagem, aperfeiçoamento dos infinitos malabarismos da sua longa carreira,
Fantástico, para
só eu, pouco, ou, pouco ou nada, sobejava do teu peito ofegante, como o pensávamos quando abríamos a janela do quarto, e bem lá longe, talvez do outro lado do silêncio, ouviam-se-lhes os gritos de revolta das ondas ensanguentadas pela velha e nojenta espuma vómito dos caracóis de corrida, sempre em luta contra as semanas de ausência do senhor nocturno com olhos penteados como bicos de papagaio subindo o céu, e eu, claro, confesso, gostava dele
Fantástico, para a próxima vendo-te um avião em peças, é só encomendares e marcarmos o local de entrega, e eu completamente embriagado pelos olhos da Etelvina perguntava-me – Para que raio preciso eu de um avião? - assinei o contrato sem o saber, e em primeiro, as letras de tão pequeninas, recordavam-me os ordenados de muitos desgraçados deste País, tão pequenos, tão pequenos... que nem com uma lupa se conseguem ver
é tal e qual como as coxas da Etelvina,
Depois a minha embriaguez, combinada com uma certa dose de gaguez, e daqui a pouco, com os guez... esqueço-me da promessa da menina Etelvina, eu caso, senhor nocturno com olhos penteados como bicos de papagaio subindo o céu, mas primeiro tem de dar aquilo que me prometeu, e como diz a palavra, Prometeu nunca prometeu nada, absolutamente nada, e a minha gaguez pertencia já a um fundo imobiliário, rentável a tal ponto, que repentinamente vi-me com dinheiro suficiente para comprar o que tinha prometido à menina Etelvina e ainda sobejaram algumas moedas, em caso de dita guez... voltar, regressar a mim e entranhar-se-me nos ossos ditos pertencerem ao meu esqueleto, a dúvida persiste, porque neste momento, ninguém
nem eu consigo determinar o que pertence a quem e o quê,
E ninguém acredita que eu tenha realmente adquirido o dito avião, mas a verdade é que sim, só não o adquiri como dorme sobre o meu guarda-fato, e durante a noite, não sempre, oiço-lhe o rosnar, levanta-se, abra a janela, e depois
é tal e qual como as coxas da Etelvina,
Desaparece no nocturno céu como as abelhas da ilha inventada pelas insónias da minha menina, a Etelvina, que ainda acredita, que eu, ando perdido no Oceano, à deriva, em pequenas rotações, mas verdade verdadeira
eu sou um pássaro que poisa hoje aqui, e amanhã, não tem onde poisar, e
Depois de amanhã, quando acordar o Sol, se acordar, e se tu, desculpa, morreste numa manhã de Novembro, mas havia sobre nós
o quê?
Estou totalmente arrependido de ter adquirido tal objecto, que uns chamam de avião, outros, avioneta, e outros... pássaro de quatro patas,
o quê?
Gostava dele...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

desabafos cansados

foto: A&M ART and Photos

desabafo com as sílabas cansadas
emprestadas por ti
ontem

desabafo escrevendo asneiras nas paredes do cansaço
começando por mim
terminando
sempre
sempre sem um simples abraço

desabafo sem perceber que perdi o teu corpo num paquete devoluto
perdido numa cidade

esfomeado
esquecido
e achado
por uma galé desgovernada
que levita
e acredita
no poder de um granada
uma bela granada de simples palavras com asas...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Poemas de Francisco Luís Fontinha vão integrar a Colectânea de Poesia – Palavras de Cristal Vol. I.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Pequenos objectos com insígnias prateadas

foto: A&M ART and Photos

Tínhamos prometido nunca mais voarmos sobre árvores de papel e estradas encravadas nas montanhas de difícil acesso, curvas propositadamente construídas para nos magoarem enquanto dormíamos nas caixas amplas de cartão que tampas e vazios de enxofre mergulhavam na poeira de acordarmos estonteantes, alicerçados a divãs de madeira com pernas de tijolo, ao longe, sentíamos a brisa marítima dos pulmões encharcados em neblina e chuviscos com mãos de regador sobre a horta de palavras, muitas e belas, acabadas de semear
estava ainda escuro e a teu vestido com floreados amarelos luzia como sinalização vertical numa das estradas nacionais que estávamos habituados a percorrer, a partir de agora, novos caminhos nos esperavam, novas curvas, lombas e bainhas que faziam com que as minhas calças de ganga parecessem pertencer ao meu antigo vizinho, Lembras-te? Claro que me lembro, como me podia esquecer daquele parvalhão com óculos de fundo de garrafa e cabelos grisalhos, às vezes, com um livro debaixo do braço, passeava-se pelas ruas desertas, quando começava a noite e desaparecia o dia, de nós, Claro que me lembro!
Tínhamos
(inventado o amor dentro de um copo com água)
Eu sabia que a noite era redonda, e que a luz era constituída por partículas e ondas, dependendo dos casos, das situações e dos momentos, porque umas vezes era oportuno que se comportasse como uma partícula, outras, que se comportasse como uma onda, havia
tínhamos dentro de nós pequenos objectos com insígnias prateadas e com sabor a saudade, e uma longa e penumbra estrada em terra batida nos esperava,
E havia uma mala com os poucos de nós pertences... nada, apenas e nem sempre, algumas, poucas, memórias de séculos inseminados pelos livros de ficção que optamos por deixar, ou os objectos essenciais ao quotidiano, ou os livros
eu escolheria os livros
Ele, optou pelos objectos, que com a deslocação do tempo tridimensional, acabaram, todos, por... uns, apodreceram, outros, partiram-se, e outros... acabaram no casebre que existia no pequeno quintal,
(… dentro de um copo com água)
Desassossego de ti quando poiso a minha mão heterogénea nos teus seios de molusco como flores ornamentais das estufas do quotidiano calendário com semanas inacessíveis, com meses não existentes, ou que... perder-se-iam pelas calçadas em solidão sonora, abrias e tínhamos um sorriso vindo de fora com o consentimento do administrador do território desértico que optamos por ocupar numa tarde de embriaguez,
gaguez
A cegueira de sermos felizes, quando sabíamos que nunca o seriamos, porque os dias são melódicos, porque as noites são poéticas, e porque tu
eu sou uma noiva em fuga, levo uma pequena recordação de ti, nada, comparado como a quantidade de noites que passamos dentro do copo com água (o amor), e porque tu
Eu? Eu sabia que a noite era redonda, e que a luz era constituída por partículas e ondas, dependendo dos casos, das situações e dos momentos, porque umas vezes era oportuno que se comportasse como uma partícula, outras, que se comportasse como uma onda, havia miúdos com um pequeno arco em aço em pequenos círculos na terra do nunca, e Eu? Como assim, eu? Eu, nada, tudo bem, comigo, esperando, sinceramente, que tudo bem consigo, e com os seus, e cumprimentos aos pássaros do seu belo quintal, com árvores de fruto e singelos corações acompanhados por bastiões de honestos barcos carregados de brinquedos, e plásticos, cores, fios, e cordéis para subirmos aos lençóis de seda que a tua cama escondiam (pequenas moedas e sombras de Primavera),
sim, cumprimentos à prima e ao primo,
E
Talvez,
Havia e tínhamos...
(inventado o amor dentro de um copo com água).

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Cidade nocturna

foto: A&M ART and Photos

Há uma cidade nocturna dentro dos nossos livros
tocados
oferecidos
livros... inventados
adormecidos entre os parêntesis da madrugada como os nossos corpos entrelaçados,

Havia uma figueira anã com dentes longos e finos do marfim silêncio da manhã
depois dos abutres homens com cigarros de brincar
entrarem em nós
e parecíamos crianças perdidas na mão do feitiço
ah.. aquela luz despedaçada contra os olhos do escorpião azul-marinho...

Como os nossos corpos dilacerados e envenenados
com as palavras que sobejaram dos livros trocados
emprestados... alguns
sem o sabermos
sem... que a luz do eterno menino de calções acordasse para nos atormentar,

Quem?
aquele infeliz desejo que é o abraço ao teu ancorado corpo...
o menino mar comendo barcos e chapinhando a água salgada
das lágrimas da montanha do sonho
onde habita um castelo de insónia como filetes em textos complexos (não ficção),

“Cuidado” nas investidas noites com lâmpadas de tédio
procurando o rio onde dormem os destroços da alma
os restos ressequidos dos corpos abandonados
em suores de sémen
correndo calçada abaixo...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 8 de maio de 2013

melodias de ti para me contentares como se eu fosse contentável


foto: A&M ART and Photos

Das tuas tristes mãos, as pérfidas melodias de ti para me contentares como se eu fosse contentável, como o são, os outros, os esqueletos, compostos de massa xistosa com algumas fendas devido ao cansaço, suor, e como escrevinha o povo, e lágrimas, ou, como o pão que o diabo amassou, e se não existir o diabo, e se existir, ele, sabe-se lá, for um péssimo amassador de farinha, água, fermento e sal... e algum esforço físico,
ficamos sem pão
Confesso que nunca vi, ouvi, ou... de perto, convivi com a ilustre personagem que apelidaram de diabo, e que como quase tudo, é o culpado das coisas más, porque das boas, essas, encarrega-se deus, como antigamente, quando acontecia alguma coisa má, em muitas das nossas aldeias, vilas e cidades, claro... a culpa era sempre dos ciganos,
comprávamos heroína, e logo alguém nos dizia – Se fores apanhado dizes que compraste a um cigano! - talvez porque exista uma fisionomia entre eles, ou porque realmente alguns por infelicidade tornaram-se culpados sem o saberem, culpados, como eu, vagueando entre cidades como uma carruagem de metal enferrujado, e de porto em porto, sobre os carris travestidos de tristeza, ando, andam, caminham-se-me porta adentro, cortinados vazios, simplicidades obscuras que acordavam nas poucas esquinas com venda de pequenos bens não essenciais, um rolo de papel alumínio, uma nota de vinte escudos, de preferência de quinhentos escudos, e quinta-feira, sempre à quinta-feira, o carro enfeitado com luzinhas quadricolores, e de seguida, sem o saberem, acordavam as madrugadas de dor de costas, de diarreia, de enjoos, e afins como a insónia, o corpo transformava-se em cilindro, rodava sobre um eixo imaginário, e quando vinha a mim a madrugada, perguntava-me – Quantas Francisco, quantas voltas hoje em torno de ti mesmo? - e nunca percebia até descobrir nas tuas tristes mãos, finíssimas, e de dedos também eles finíssimos e compridos, que
Tinhas dentro de ti, sem eu o saber, uma escada secreta, com cobertores e espelhos, ambos, em madeira de primeira categoria, gosto, muito, - Sabes? - do Mogno ou do Carvalho Francês,
(Antena 3 – Alijó – 101.5 MHz)
Quando chovia, sentia-te desaparecer dentro das sombras que viviam connosco na casa de Favarrel, e só mais tarde, quase quando começaram as demolições da dita, que eu descobri que existia uma escada, até então secreta, tua, só tua, que subias, e a meio caminho, sentavas-te, como uma prisioneira à espera que lhe encerrassem a cela fictícia, uma cela de ficção como os testos dos escritores, que para não se chatearem com esta ou aquela pessoa, escrevem
(texto de ficção, não revisto)
não revisto, vá lá que não vá, - Agora... de ficção? - Não... nãoooo...
(País de ficção, qualquer coincidência com a fantasia é pura realidade)
E tudo em ti é ficção, são-o as tuas doces mãos e tristes palavras, quando acordam no centro da galáxia, os teus olhos, também eles, pura ficção, são-o os teus seios, as tuas coxas de socalco esquecido junto ao Douro, e também é de ficção o teu púbis envergonhado nas eternas geadas de Janeiro, aqui, porque lá, era verão, porque lá, lá tudo, também, como tu, tudo de ficção,
(texto de ficção, não revisto)
Amo-te, meu amor,
Cinco cêntimos de melancolia

Libertava-me de ti e das tuas sombras penumbras que o vento comia
e deixava sobre uma mesa redonda
os cansados uivos que o prazer recheava o prato de sopa mergulhado em tonturas e febres desgovernadas
tristes
cansadas
era eu o teu guardião das madrugadas fingidas pelos teus orgasmos de cera
que ardiam no altar da tua cama virada para o mar,

Não eras de pedra
aço
não minha e nunca o serás
e deixo-o arder entre clareiras como flores pintadas com verniz,

É-o no medo corrompido sabendo-o esquecido pela infinita mão
de ficção
em cinco cêntimos de melancolia
e três dias depois
evaporou-se como se evaporam as minhas palavras para ti...


Mata-me se puderes, mas
(ficção)
Deixa-me ficar os teus lábios para eu recordar, um dia, e nunca o esquecer...
esquecer o que são lábios, os teus, de pura ficção,
… de mera fantasia.

(Amo-te, meu amor)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 7 de maio de 2013

O cais do desassossego

foto: A&M ART and Photos

Debaixo do meu cadáver de carvão
anoitecem horários proibidos como sonâmbulos esqueletos de desejo
não propriamente desejando o que quer que seja... imaginando imagens supérfluas
e desconhecidas nas paragens do autocarro da carreira
não percebem eles que o vento quando regressa
é porque se desencontrou com as árvores e nuvens e noites inculcadas
como pernas e braços sobre a cama camuflada do silêncio pergaminho
que as gaivotas transportam para as cidades de vidro,

Debaixo de mim... a viagem até te encontrar de cócoras procurando o mar
e as rochas de murmúrios que a areia sabe esconder
desenho no teu corpo de silício as marés de Agosto
embrulhadas nas poucas lágrimas que as aranhas fazem disparar contra o muro da tristeza
porque sim digo-o sem perceber sabendo que lá fora existem mãos de cordas ao nylon
depois da tempestade aportar sobre o cais do desassossego
e um pequeno barco lança-se dos teus lábios
em pequenos suicídios adormecidos...

Ele morre
e tu desejas-me quando cai a noite sobre os tentáculos da dor
cresce em nós mais um dia em desespero
um dia pequeno que depois se alonga noite fora
eles
eles esquecem-se de apagar as luzes da melancolia
e enquanto haver sol e estrelas e lua
é impossível amar-te como os socalcos do Douro amam as sombras de seios em delírio,

Sentindo-se as poucas cinzentas árvores
debaixo do meu cadáver de carvão que o oceano vai consumindo
como um toxicodependente absorve as veias infelizes dos lírios
e dos cravos
e das grandes pérolas com sabor a morfina
que alimentam sonhos e ressacas das belas palavras
mergulhadas na poesia
sempre sem o saberes dos jardins insignificantes com bancos em madeira apodrecida...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha