foto: A&M ART and Photos
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Tínhamos prometido nunca mais voarmos sobre árvores
de papel e estradas encravadas nas montanhas de difícil acesso,
curvas propositadamente construídas para nos magoarem enquanto
dormíamos nas caixas amplas de cartão que tampas e vazios de
enxofre mergulhavam na poeira de acordarmos estonteantes, alicerçados
a divãs de madeira com pernas de tijolo, ao longe, sentíamos a
brisa marítima dos pulmões encharcados em neblina e chuviscos com
mãos de regador sobre a horta de palavras, muitas e belas, acabadas
de semear
estava ainda escuro e a teu vestido com floreados
amarelos luzia como sinalização vertical numa das estradas
nacionais que estávamos habituados a percorrer, a partir de agora,
novos caminhos nos esperavam, novas curvas, lombas e bainhas que
faziam com que as minhas calças de ganga parecessem pertencer ao meu
antigo vizinho, Lembras-te? Claro que me lembro, como me podia
esquecer daquele parvalhão com óculos de fundo de garrafa e cabelos
grisalhos, às vezes, com um livro debaixo do braço, passeava-se
pelas ruas desertas, quando começava a noite e desaparecia o dia, de
nós, Claro que me lembro!
Tínhamos
(inventado o amor dentro de um copo com água)
Eu sabia que a noite era redonda, e que a luz era
constituída por partículas e ondas, dependendo dos casos, das
situações e dos momentos, porque umas vezes era oportuno que se
comportasse como uma partícula, outras, que se comportasse como uma
onda, havia
tínhamos dentro de nós pequenos objectos com
insígnias prateadas e com sabor a saudade, e uma longa e penumbra
estrada em terra batida nos esperava,
E havia uma mala com os poucos de nós pertences...
nada, apenas e nem sempre, algumas, poucas, memórias de séculos
inseminados pelos livros de ficção que optamos por deixar, ou os
objectos essenciais ao quotidiano, ou os livros
eu escolheria os livros
Ele, optou pelos objectos, que com a deslocação do
tempo tridimensional, acabaram, todos, por... uns, apodreceram,
outros, partiram-se, e outros... acabaram no casebre que existia no
pequeno quintal,
(… dentro de um copo com água)
Desassossego de ti quando poiso a minha mão
heterogénea nos teus seios de molusco como flores ornamentais das
estufas do quotidiano calendário com semanas inacessíveis, com
meses não existentes, ou que... perder-se-iam pelas calçadas em
solidão sonora, abrias e tínhamos um sorriso vindo de fora com o
consentimento do administrador do território desértico que optamos
por ocupar numa tarde de embriaguez,
gaguez
A cegueira de sermos felizes, quando sabíamos que
nunca o seriamos, porque os dias são melódicos, porque as noites
são poéticas, e porque tu
eu sou uma noiva em fuga, levo uma pequena
recordação de ti, nada, comparado como a quantidade de noites que
passamos dentro do copo com água (o amor), e porque tu
Eu? Eu sabia que a noite era redonda, e que a luz
era constituída por partículas e ondas, dependendo dos casos, das
situações e dos momentos, porque umas vezes era oportuno que se
comportasse como uma partícula, outras, que se comportasse como uma
onda, havia miúdos com um pequeno arco em aço em pequenos círculos
na terra do nunca, e Eu? Como assim, eu? Eu, nada, tudo bem, comigo,
esperando, sinceramente, que tudo bem consigo, e com os seus, e
cumprimentos aos pássaros do seu belo quintal, com árvores de fruto
e singelos corações acompanhados por bastiões de honestos barcos
carregados de brinquedos, e plásticos, cores, fios, e cordéis para
subirmos aos lençóis de seda que a tua cama escondiam (pequenas
moedas e sombras de Primavera),
sim, cumprimentos à prima e ao primo,
E
Talvez,
Havia e tínhamos...
(inventado o amor dentro de um copo com água).
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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