Pego neste cigarro que
brevemente se vai extinguir nas minhas mãos;
Como tudo o que me
pertence, deixa de me pertencer…
E extingue-se nas minhas
mãos.
As palavras morrem.
As imagens que habitam em
mim,
Morrem ou ficam amuadas
como uma criança mimada,
Se toco numa árvore,
morre.
Se toco em alguém… fica doente
e morre,
E até estes livros que me
pertencem…
Todos eles, mortos.
Morreram as imagens da
minha infância,
Morreram as fotografias
da minha infância…
Morreram as minhas
flores,
E todos os meus
brinquedos…
E até o meu grande amigo “chapelhudo”
morreu
Numa tarde qualquer, em
Luanda.
Morreram todos os barcos
da minha infância,
Morreram as gaivotas da
minha infância…
… e pego neste cigarro
que brevemente se vai extinguir nas minhas mãos,
Sabendo que também ele
será a morte.
Morreu o avô Domingos.
Morreu o meu pai.
Morreu a minha mãe.
E até a merda dos
machimbombos morreram…
E hoje não passam de
sucata.
Como eu.
Sucata amarrotada sentado
num jardim invisível.
Alijó, 2/10/2022
Francisco Luís Fontinha