domingo, 2 de outubro de 2022

Os machimbombos do avô domingos

 Pego neste cigarro que brevemente se vai extinguir nas minhas mãos;

Como tudo o que me pertence, deixa de me pertencer…

E extingue-se nas minhas mãos.

As palavras morrem.

As imagens que habitam em mim,

Morrem ou ficam amuadas como uma criança mimada,

Se toco numa árvore, morre.

Se toco em alguém… fica doente e morre,

E até estes livros que me pertencem…

Todos eles, mortos.

Morreram as imagens da minha infância,

Morreram as fotografias da minha infância…

Morreram as minhas flores,

E todos os meus brinquedos…

E até o meu grande amigo “chapelhudo” morreu

Numa tarde qualquer, em Luanda.

Morreram todos os barcos da minha infância,

Morreram as gaivotas da minha infância…

… e pego neste cigarro que brevemente se vai extinguir nas minhas mãos,

Sabendo que também ele será a morte.

Morreu o avô Domingos.

Morreu o meu pai.

Morreu a minha mãe.

E até a merda dos machimbombos morreram…

E hoje não passam de sucata.

Como eu.

Sucata amarrotada sentado num jardim invisível.

 

 

 

Alijó, 2/10/2022

Francisco Luís Fontinha

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