Pergunto a este livro que me observa como se eu fosse uma abelha poisada na flor proibida, o que é o amor. E à fotografia onde habitam os meus pais, questiono-a se sabe o que é a paixão…
E tanto aquele livro, e
tanto aquela fotografia, nada sabem sobre o amor e sobre a paixão.
Talvez se lhes
perguntasse o que são as misérias do ser humano, ele e ela me respondesse…
Porque choram as acácias,
pai?
Talvez me respondessem
que já nascemos miseráveis, e como miseráveis que nascemos, nunca poderemos
amar, nem tão pouco respirar a neblina da manhã. E enquanto esperava pela
resposta do meu pai, nasci; nasci num Janeiro recheado de sol e de muito calor,
sem que ainda hoje perceba porque choram as acácias.
Como também não percebo
porque choram os pássaros, porque choram as árvores, porque chora o mar e o
luar, porque choram as crianças, quando estas, deveriam pincelar sorrisos em
cada manhã.
Depois, abri os olhos e
vi no tecto da maternidade o mar; tinha sido a minha mãe que trouxe um
pedacinho do Mussulo porque já suspeitava que eu
Talvez amanhã acorde.
Que eu pertencia a uma
espécie de algas e que um dia seria apenas húmus e passaria o tempo a semear
palavras nas planícies do sonho.
Ora, como sonhar é
proibido por decreto Real e as palavras são apenas palavras, sombras, rectas
paralelas que dizem que só se encontram no infinito, posso afirmar que sou
apenas um poema que ninguém lê, mais um poema em direcção ao abismo.
E depois de abrir os
olhos, de ver o mar aprisionado no tecto da maternidade, pequei na mão da minha
mãe e levei-a a ver o capim que nunca ninguém percebeu de onde vinha aquele
cheiro inconfundível depois das chuvas; que saudades…
Das acácias?
Daquele livro que me
observa, daquela fotografia que me olha, e atrevo-me a dizer que são as únicas
coisas que me observam; como aquele lindíssimo olhar que me seguia enquanto eu
passava transportando uns calções coloridos e as sandálias de couro que ainda
hoje sonham com o cacimbo pela manhã.
Porque choram as acácias,
pai?
Pergunto a este livro que
me observa como se eu fosse uma abelha poisada na flor proibida, o que é o
amor. E à fotografia onde habitam os meus pais, questiono-a se sabe o que é a
paixão…
E deparo-me que este
livro é apenas um livro, e que esta fotografia não tira os olhos de mim, desde
que nasci num Janeiro recheado e sol e de muito calor.
Que lindo, mãe…
Que lindo é o mar!
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 27/09/2022