Mostrar mensagens com a etiqueta pedacinho de mel. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pedacinho de mel. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Oceano em fuga

 Em teus lábios,

Exoplaneta em flor,

Ao cansaço em pedacinhos de mel,

Dos corredores onde me perco,

E me escondo do teu olhar,

Em teus lábios,

Onde poisa o sonolento mar

E as primeiras lágrimas da manhã,

Trazem a ti a ausência,

 

Uma máscara de sono,

Lentamente,

Em solidão,

Acorda a areia fina dos tristes luares que a noite assassina,

E do teu corpo,

Ergue-se o poema.

Escrevo-te, escrevo-te na lentidão do silêncio,

Quando colocas sobre mim,

As tristes imagens de um Oceano em fuga,

Onde se afoga o sonho,

Onde se esconde o sonho,

 

Em teus lábios,

Meu amor pedaço de mel…

Habita o lugar perdido

Que apenas as tempestades conhecem…

E do medo,

Vem a mim o teu corpo desejado.

 

 

 

Alijó, 21/02/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Poema luar

 

Desta maré sem nome

Um pedacinho de mel voa nas palavras

E da mão do poeta

A mão que inquieta as madrugadas

Nasce o poema luar,

 

E este pedacinho de mel

De lágrimas nos lábios

Rouba as palavras ao poeta…

O poeta que com a mão inquieta as madrugadas,

 

As madrugadas de um pedacinho de mel.

 

 

 

Alijó, 02/01/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 25 de setembro de 2022

As abelhas das tristes Primaveras

 Sento-me nesta ausência percebendo que pertenço a esse mar imenso das paisagens do silêncio, oiço os teus gemidos de luz, percebo que sou apenas um pedacinho de nada em direcção ao abismo,

O frio e escuro silêncio da madrugada,

Oiço as fotografias enraivecidas que desde a noite passada resolveram, todas elas, invadirem os meus pensamentos, e percebo que cada personagem que habita nelas, são apenas sombras da minha infância,

Rasuro-me no espelho do quarto.

Ergo as mãos e sinto as amargas palavras escritas numa noite de neblina, onde barcos e putas deambulavam junto ao cais; parecia fácil, mas as tempestades voltaram do nada e amanhã…

Amanhã chove, amanhã chove…

Sento-me.

Invento o sono das persianas da janela e resolvo voar em direcção ao luar, como as abelhas em flor, como todos os pedacinhos de mel que sobejam no silenciado corpo nocturno do silêncio…

Inventam-se os gemidos da alvorada,

Amanhã?

Amanhã vou. Amanhã sonho. Amanhã eu faço…

E amanhã morre o derradeiro sarcófago das Primaveras em florida paisagem, porque nela habitam os pássaros dos pequenos milagres, porque o sono transporta o desejo e pelas primeiras imagens observadas, nada a declarar; culpado.

Levanta-se o reu. Levantei-me.

Idade? Desde ontem, ao final da tarde, fugiram todas as minhas palavras,

Cansado?

Pior; morto.

Em frente.

Amanhã eu faço…

E o amanhã não existe, e amanhã pertencerá às primeiras imagens da saudade, porque amanhã…

Amanhã eu faço.

Tudo eu tudo eu tudo eu…

Morreu.

Cansou-se das cavernas e foi viver para junto do mar da saudade, onde em pequenino brincava com uma mão de veludo e havia sempre um olhar protector a observá-lo, hoje

Amanhã eu faço.

E quando me pergunto o que faz um pedacinho de mel poisado num dos meus poemas…

Ele, ela, responde-me

Nada.

Peso.

Silêncio.

E mesmo assim continuam a morrer as abelhas das tristes Primaveras, como morreram as minhas três primeiras tristes palavras,

Junto ao mar.

Nasceram as acácias, nasceram as primeiras lágrimas, nasceram as sombras e das sombras nasceram a lua e o sol; mesmo assim, ele, ela, continuam a vaguear sobre aquele rio onde mergulhavam as sílabas da insónia.

Amanhã.

E hoje?

Amanhã todos os pedacinhos de mel serão crucifixos suspensos nas fendas do triste gesso que circundam o sótão do medo.

Medo. Medo. Medo.

Porque morrem as acácias, mãe?

Porque se apaixonam pelo triste silêncio, porque descem sobre a cidade as lágrimas dos grandes rochedos e o mar é apenas uma imagem…

Percebes agora porque morrem as acácias?

Não mãe…

E mesmo assim continuam a morrer as abelhas das tristes Primaveras, como morreram as minhas três primeiras tristes palavras,

Junto ao mar.

E junto ao mar ficarei à espera.

 

 

 

 

Alijó, 25/09/2022

Francisco Luís Fontinha

(ficção)