O
suspiro da noite, enquanto a morte vagueia nas sílabas loucas da paixão.
O
silêncio das palavras, perdidas nos livros invisíveis da solidão,
Um
poema chora,
Alicerça-se
na confusão da cidade,
Soltam-se
todos os caninos vadios,
Correm
em direcção ao petroleiro estacionado junto ao Tejo,
E,
um soldado, procurando alimento, senta-se na sombra da neblina.
Todos
os pássaros são felizes, ainda que sejam transparentes,
Nas
paredes de xisto,
Olhando
o Douro,
Desenhando
socalcos no bico;
A
jangada, afunda-se, como a mão do mendigo,
Quando
fundeada na sopa trazida pela tempestade.
Chove,
ouvem-se os ruídos da manhã,
Automóveis
esfomeados levitam sobre as palmeiras,
Os
transeuntes sofrem de pasmo,
Riem,
como loucos,
Dentro
de quatro paredes de vidro.
O
suspiro da noite, sempre em alerta máximo,
Esconde
as palavras na algibeira,
E
bebe pequenos tragos de nada.
Hoje
é sexta, noite como tantas outras,
Não
interessa,
É
noite, é triste a noite, quando se despede da tarde.
Os
amantes fogem como fogem os mortos da sombra,
De
roupa engomada, os tristes mortos, riem-se do silêncio amargurado que
transporta o desassossego,
Tenho
medo, dizia-me ele, quando acordava olhando quatro janelas de cartão,
Perdia-se
na imensidão do espaço,
Cansado
da vida,
Cansado
da noite;
O
suspiro. O suspiro da noite.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
31/01/2020