Sento-me
no patamar e lanço pedras socalco abaixo,
Ao
fundo, o rio, encurvado, entre rochas e rochedos,
Vinhas
e vinhedos,
Como
o paraíso da minha infância.
Deitava-me
debaixo das mangueiras e sonhava com palavras,
Desenhava
na terra o silêncio de um menino, apaixonado pela Lua…
Adormecia,
Dormia
até que a tarde se levantava e fugia.
Como
eu era feliz naquela altura.
Hoje,
sou carrancudo, embrulhado na solidão,
Sou
mendigo,
Triângulo,
Foguetão.
O
mar vinha visitar-me todas as tardes,
Construía
papagaios em papel colorido…
E
em frente ao quintal, na rua deserta, corria,
Corria,
até que o papagaio se elevava no Céu de Luanda e desaparecia,
Morria,
pensava eu…
Com
o cordel na mão.
Depois
veio a paixão,
Apaixonei-me
pelas palmeiras da Baía…
Por
aviões e barcos,
Apaixonei-me
pela saudade,
Que
hoje bate em mim.
O
fogo,
A
água que adormece o fogo…
Na
laranja da loucura.
Durmo,
não durmo, durmo, não durmo…
Como
o amor,
Encurralado
no deserto, recheado de areia branca que só conheci no Mussulo,
E
era feliz.
Hoje,
hoje sou um fantasma, um mendigo à procura das palavras da infância…
Que
nunca mais as encontrei,
Apenas
fotografias,
Apenas,
pai…
Fotografias.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
12/04/2019