O
chão semeado de sombras,
Dentro
de mim, o mar,
Descalço,
A
convidar-me para brincar.
O
cheiro da terra húmida,
As
palmeiras envenenadas pelo silêncio,
Quando
as gaivotas de Luanda, dormem na Baía…
Oiço-as.
O
chão semeado de sombras,
O
capim molhado com cheiro a sonho,
Sobre
a terra,
Os
barcos de papel da infância.
O
som dos transeuntes mabecos perto da sanzala,
As
crianças brincando com a tarde salgada,
Que
um velho sábio trouxe do mar.
Abraço-me
às mangueiras, deito-me no chão semeado de sombras,
Sonho
com uma Lisboa desconhecida, onde se passeiam putas e bêbados…
Pelas
avenidas escurecidas.
E,
no entanto, ainda hoje, desenho no teu corpo, gaivotas.
Uma
Lisboa embrulhada em cheiros e sabores,
As
tasquinhas, nas paredes, o peixe frito com sabor a cebola,
O
vinho misturado com a água salgada,
E
as pipas parecem esconderijos de marinheiros.
As
gaivotas, meu amor,
As
gaivotas que desenhei nos teus seios,
Dos
incêndios da minha infância…
Alucinações,
Eu,
eu brincando com as galinhas da minha avó,
De
calções,
Sandálias…
E
sonhos.
E
hoje, sou apenas um velho esperando a morte.
Querida
Lisboa,
Dos
enfartes que as guloseimas de uma criança, deixa sobre a terra,
Querida
Luanda; as gaivotas dos teus braços.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
07/04/2019
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