segunda-feira, 30 de setembro de 2013

E... livres de sonhar...


E tudo o vento levou... ficaram as palavras em revolta, contam estórias, cantam, gritam, amuam..., e repentinamente, e em abraços de xisto, acordam os prisioneiros das madrugadas sem horário, e tudo o vento levou, e deixou, e apenas, só... a esperança de recomeçarmos, reaprendermos, sermos livres, livres como as gaivotas de Maio.
Regressaram as palavras, e as nuvens são de prata...
Somos livres como a seiva das árvores descendo o corpo do amor, somos livres como os calções de chita e a t-shirt branca com sabor a tristeza, regressaram as palavras, ainda são poucas, ou nenhumas..., e tudo o vento levou, e tudo na fogueira da vaidade ardeu como arderam os manuscritos de Gogol, somos livres pois então, e brevemente, regressarão todas as palavras roubadas aos sonhos inventados por uma criança dançando num baloiço de cordas, brevemente, são de prata, as palavras e as bocas que gritam as palavras...
E apenas a tua mão no cais à minha espera; regressei, voltei para os teus braços... para novamente sermos livres, de escrever
Amar?
E... livres de sonhar...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

era Domingo

foto de: A&M ART and Photos

voávamos sobre as espigas cremadas do centeio
e era Domingo
e... sentíamos nas asas o perfume da madrugada
voávamos conforme tínhamos combinado na véspera da tempestade de areia
sentíamos no rosto as lâminas de xisto impregnado na pele doirada dos nossos corpos de açúcar
e da água víamos-nos desaparecer no cesto de papeis junto à escrivaninha embriagada
bebíamos licor de amêndoa como se dentro dos pequenos cálices de cristal
houve uma árvore com braços de prata
uma árvore recheada de pássaros
barcos
e montículos de areia
com sabor a insónia

amávamos as raízes escondidas nos túneis nocturnos das lâmpadas em flor
e era Domingo
e
e... voávamos nas encostas íngremes do silêncio
da boca rasgada do amanhecer ouvíamos os gemidos enlouquecidos dos mabecos adormecidos
e corríamos em direcção ao mar
e dormíamos sobre um cobertor de poesia
papeis voavam sobre o teu rosto de sílaba apaixonada
e das teclas de escrever que poisavam na tua fina mão de cerâmica
os sons metódicos de um máquina engasgada nas janelas de orvalho
descíamos as escadas do inferno...
e sabíamos que nunca mais ouviríamos as perdizes cinzentas nos corredores do desejo

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013

não sei se me ouves


não sei se me ouves
nas cinzas clandestinas das tuas mãos
não sei se recordas os momentos que passamos
e as conversas que desperdiçamos à volta de um copo de qualquer coisa
fumamos muita merda
dormimos noites invisíveis sem percebermos que a noite era a noite

sem percebermos que o dia
que o dia era uma gaja cheira de manias
travestida...
uma gaja mendiga

porra... porque partes sem nada dizer
sem deixares sobre as planícies graníticas
as palavras
coisas
desenhos
abraços
nada
nada
partes...
partes como se esta merda de vida fosse uma viagem
um panfleto de heroína voando em direcção ao Sol
debaixo do mar

a tua dor
as tuas paixões confessadas em noites de embriaguez
flutuam
e vivem
e amam como amaram as primeiras letras da tua boca

não sei se me ouves

não sei se algum dia conseguirei olhar-te
não sabendo que a viagem que agora preparas
termina
não termina

não sei se me ouves

mas se me ouves...
que descanses em paz...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha- Alijó
Madrugada de Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013

sábado, 28 de setembro de 2013

Quase noite em ti

foto de: A&M ART and Photos

Se cair a máscara que esconde os teus olhos de viro cinzento, perceberás que o tempo dança nos cortinados do cansaço, ouvem-se vozes vomitando palavras, algumas delas, são palavras em segunda mão, frágeis, vagueando nas pedras finas das calçadas em madeira estrangeira, e dos teus sonhos sonâmbulos, gritávamos pétalas de pólen abraçadas à confusão quando arde a lareira do medo, tínhamos a vontade, tínhamos o prazer de conquistar a saudade, e mesmo assim, fomos adormecendo, acomodámos-nos às prisões invisíveis da pretoriana escumalha que caía das mangueiras como pássaros comendo goiabada, havíamos de descobri a palavra
Medo?
E do medo acordavam as sandes de marmelada, o chouriço fumegava no cinzeiro entranhado em beatas e beijos de cinza voando e poisando sobre os móveis da sala de jantar, quase nunca o tínhamos, quase que pertencíamos às plantas em papel crepe que a vizinha do rés-do-chão construía durante a noite e nos vendia logo pela manhã à porta do prédio caquéctico da tia Adosinda,
Medo
Ela surda como uma porta,
O que foi, menino?
Nada, nada,
Medo de quê e de quem?
Medo
Ela surda como uma porta,
O que foi, menino?
Cinco coroas na minha mão, descia sorrateiramente as escadas graníticas e só abrandava quando encontrava a rua principal, a que me levava, acompanhava... até encontrar a velha escola que depois um parvalhão mandou destruir, e hoje
Banco de jardim, a madeira sorri, e mergulha nas nádegas das tempestades do cio encarnado, havia no recreio uma árvore onde me pendurava a imitar o Tarzan da televisão a preto-e-branco com formigas de vez em quando, ouvia os sons inconfundíveis da Chita e percebia que um dia, no futuro
Medo?
Medo de quê e de quem?
Medo
Ela surda como uma porta,
O que foi, menino?
Jane... Jane apareceria, retirava a máscara e dos seus olhos de vidro cinzento o tempo dançava nos cortinados do cansaço, ouviam-se vozes vomitando palavras, algumas delas, eram palavras em segunda mão, frágeis, vagueando nas pedras finas das calçadas em madeira estrangeira, e dos seus sonhos sonâmbulos, gritavam pétalas de pólen abraçadas à confusão quando ardia a lareira do medo, tínhamos a vontade, e
E o medo morre como uma pedra sem coração; cessam as canções dos teus lábios e brevemente acorda em nós a geada, e brevemente as flores aprendem o significado...
havíamos de descobri a palavra
Medo?
E o medo... o medo é um gajo muito “filho da puta” que não mete medo a ninguém... (E do medo acordavam as sandes de marmelada, o chouriço fumegava no cinzeiro entranhado em beatas e beijos de cinza voando e poisando sobre os móveis da sala de jantar, quase nunca o tínhamos, quase)
Quase noite em ti.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Setembro de 2013

há mar em todas as prisões inventadas

foto de: A&M ART and Photos

há prisões inventadas
pela paixão das almas
há prisões sem alma
inventadas pelas madeixas do silêncio
há prisões como livros
em papel
solitários
há mar em todas as prisões inventadas
há poemas prisão
e prisões de poemas
que escorregam de uma ténue mão
descendo o corpo de uma prisão


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Setembro de 2013

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Viver como um pássaro e voar como um barco cambaleando sobre as ondas sonoras dos poemas de AL Berto

foto de: A&M ART and Photos

Acredito que o Sol voltará a brilhar nas íngremes encostas mergulhadas nos seios mendigos do rio mais belo do Universo, acredito que a chuva das vindimas transformar-se-á em pequenos balões de hélio sobrevoando as lâmpadas do silêncio como xistos em revolta, acredito que todas as grades em aço que cercam as prisões brevemente acordarão vestidas de botão de rosa, de muitas cores, e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada
Liberdade?
Liberdade...
Viver como um pássaro e voar como um barco cambaleando sobre as ondas sonoras dos poemas de AL Berto, do cimo da montanha e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada, ele revestido a prata, ele sorrindo, poisando o desejo sobre a mão dela,
Acredito que as nuvens vão ser de algodão, leves, leves como os círios da Igreja onde me esperas quando eu morrer, e sem lágrimas, e sem demandas... acreditarás que eu vou voar e que mais tarde... mais tarde nos encontraremos junto a uma mangueira, e sobre nós sombras de cacimbo e o latejo dos mabecos felizes por
Acreditares,
No futuro, na liberdade, nas grades em aço que transformar-se-ão em rosas, rosas, rosas com lábios encarnados,
Perfumadas pois então,
Nós
Felizes
E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos
Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam
Os outros,
Liberdade, acredito que as flores vão ser de papel, e que dos meus livros, e que dos meus livros acordarão todas as personagens que vivem em mim, estas há mais de vinte anos, e no entanto, não tão ferozes como as outras,
Tudo servia para comer,
O quê?
Tudo, tudo... e até as pedras acreditavam no medo...
O medo?
Em capa dura, do amarelo sobressai o peso de um corpo em ziguezague, sonolento, o título é em oiro futuro, e ele
Embrulhado em plumas de cetim
Acreditava que “O medo” não tinha medo,
Acredito que com a trovoada vêm as sílabas palavras com pele sedosa, e das caricias de uma gaivota, ele
Acredita,
Acredita que o mar é de todos, que o Sol iá nascer para todos
(enquanto hoje, apenas alguns dementes têm o prazer de o ver)
Nunca vi o Sol, não sei como é o Sol...
Mas acredito que existe, que vive, sorri...
(Perfumadas pois então,
Nós
Felizes
E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos
Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam
Os outros),
Não sabem que a chuva das vindimas é uma mulher nua abraçada a cachos de uva, em seu redor, um louco grita,
Acreditar,
E eu, que apaixonei-me pela chuva...
Acredito.

(Não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Setembro de 2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

coisas sem nome

foto de: A&M ART and Photos

as coisas sem nome
que absorvem o meu cansaço
as coisas longínquas entre pedaços de esperma
e insignificantes abraços

as coisas sem nome
que vivem tristemente no silêncio da neblina
à coisa pouca que o meu olhar ilumina...
as coisas que tu escondes
os nomes que inventas nas páginas de um livro
as letras doentes
às letras dormentes
sofredoras no peito da paixão
as coisas mortas e mornas
quando a lareira dos teus lábios
desce às profundezas da demência...
e um corpo amorfo flutua no tecto da noite embriagada

as coisas sem nome
as coisas disfarçadas de fome
que vivem e sobrevivem às tempestades dos abraços
em laços
sem nome
as coisas
as coisas imperfeitas dos muros da cidade dos queijos...
as coisas das coisas em planícies agrestes

os beijos
das coisas
em coisas...
caminhos pedestres
bocas magoadas
inchadas
dos fumos cinzentos das plantas sem nome
as coisas das coisas em coisas às coisas com fome


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Setembro de 2013