segunda-feira, 30 de setembro de 2013

era Domingo

foto de: A&M ART and Photos

voávamos sobre as espigas cremadas do centeio
e era Domingo
e... sentíamos nas asas o perfume da madrugada
voávamos conforme tínhamos combinado na véspera da tempestade de areia
sentíamos no rosto as lâminas de xisto impregnado na pele doirada dos nossos corpos de açúcar
e da água víamos-nos desaparecer no cesto de papeis junto à escrivaninha embriagada
bebíamos licor de amêndoa como se dentro dos pequenos cálices de cristal
houve uma árvore com braços de prata
uma árvore recheada de pássaros
barcos
e montículos de areia
com sabor a insónia

amávamos as raízes escondidas nos túneis nocturnos das lâmpadas em flor
e era Domingo
e
e... voávamos nas encostas íngremes do silêncio
da boca rasgada do amanhecer ouvíamos os gemidos enlouquecidos dos mabecos adormecidos
e corríamos em direcção ao mar
e dormíamos sobre um cobertor de poesia
papeis voavam sobre o teu rosto de sílaba apaixonada
e das teclas de escrever que poisavam na tua fina mão de cerâmica
os sons metódicos de um máquina engasgada nas janelas de orvalho
descíamos as escadas do inferno...
e sabíamos que nunca mais ouviríamos as perdizes cinzentas nos corredores do desejo

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013

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