foto de: A&M ART and Photos
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Se cair a máscara que esconde os teus olhos de viro
cinzento, perceberás que o tempo dança nos cortinados do cansaço,
ouvem-se vozes vomitando palavras, algumas delas, são palavras em
segunda mão, frágeis, vagueando nas pedras finas das calçadas em
madeira estrangeira, e dos teus sonhos sonâmbulos, gritávamos
pétalas de pólen abraçadas à confusão quando arde a lareira do
medo, tínhamos a vontade, tínhamos o prazer de conquistar a
saudade, e mesmo assim, fomos adormecendo, acomodámos-nos às
prisões invisíveis da pretoriana escumalha que caía das mangueiras
como pássaros comendo goiabada, havíamos de descobri a palavra
Medo?
E do medo acordavam as sandes de marmelada, o
chouriço fumegava no cinzeiro entranhado em beatas e beijos de cinza
voando e poisando sobre os móveis da sala de jantar, quase nunca o
tínhamos, quase que pertencíamos às plantas em papel crepe que a
vizinha do rés-do-chão construía durante a noite e nos vendia logo
pela manhã à porta do prédio caquéctico da tia Adosinda,
Medo
Ela surda como uma porta,
O que foi, menino?
Nada, nada,
Medo de quê e de quem?
Medo
Ela surda como uma porta,
O que foi, menino?
Cinco coroas na minha mão, descia sorrateiramente
as escadas graníticas e só abrandava quando encontrava a rua
principal, a que me levava, acompanhava... até encontrar a velha
escola que depois um parvalhão mandou destruir, e hoje
Banco de jardim, a madeira sorri, e mergulha nas
nádegas das tempestades do cio encarnado, havia no recreio uma
árvore onde me pendurava a imitar o Tarzan da televisão a
preto-e-branco com formigas de vez em quando, ouvia os sons
inconfundíveis da Chita e percebia que um dia, no futuro
Medo?
Medo de quê e de quem?
Medo
Ela surda como uma porta,
O que foi, menino?
Jane... Jane apareceria, retirava a máscara e dos
seus olhos de vidro cinzento o tempo dançava nos cortinados do
cansaço, ouviam-se vozes vomitando palavras, algumas delas, eram
palavras em segunda mão, frágeis, vagueando nas pedras finas das
calçadas em madeira estrangeira, e dos seus sonhos sonâmbulos,
gritavam pétalas de pólen abraçadas à confusão quando ardia a
lareira do medo, tínhamos a vontade, e
E o medo morre como uma pedra sem coração; cessam
as canções dos teus lábios e brevemente acorda em nós a geada, e
brevemente as flores aprendem o significado...
havíamos de descobri a palavra
Medo?
E o medo... o medo é um gajo muito “filho da
puta” que não mete medo a ninguém... (E do medo acordavam as
sandes de marmelada, o chouriço fumegava no cinzeiro entranhado em
beatas e beijos de cinza voando e poisando sobre os móveis da sala
de jantar, quase nunca o tínhamos, quase)
Quase noite em ti.
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Setembro de 2013
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