sexta-feira, 14 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Claro que isto é poluição dizia-me ela
foto: A&M ART and Photos
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Também como eu, ele perdido nas aranhas
nauseabundas das flores campestres que alguém resolveu trazer do
interior mais longínquo à aldeia deixada ficar adormecida na
montanhas dos cabelos castanhos, os olhos vestiam-se-lhe de púrpura
como restos de comida transformados em vestidos de gala, nos lábios
um leve sorriso a bâton em tom de encarnado, sobre as mandíbulas
coxas um exuberante perfume de areia com sabor a hidratos de carbono,
e quando lhe pedia para me emprestar o isqueiro, com voz de
rinoceronte, dizia-me... há muitos a vender no café,
Claro que havia, também havia lâminas de vodka
embalsamadas em colheres de sopa, sem sopa, como tinha a hora marcada
para o temido xarope para a tosse, o médico que era dos cigarros,
eu, não, para mim o problema estava na poluição que se fazia
sentir à nossa volta, e bastava darmos as mãos, descer a calçada...
e uma pasta negra começava a ser expelida através das narinas...
Claro que isto é poluição dizia-me ela,
E eu quando regressava às consultas queixa-me ao
meritíssimo doutor que o meu problema era devido à poluição, e
ele, olhava-me, olhava-me... e entre dentes
Tem juízo rapaz, e deixa os cigarros,
Trezentos corações de argila perdidos pela cidade
dos sonhos, confesso, hoje, que nada me faz recordar os jardins dos
teus olhos, aqueles que me olhavam à distância, e eu, dentro de um
cavalo de ferro em direcção a um rio sem nome, ia-me perdendo, aos
poucos caiam-me os dentes de leite, e quando assentei arrais sobre as
laje verticais em pequenas folhas de alumínio, minúsculas, às
vezes tremendo de frio quando na rua a temperatura rondava os
quarenta graus centígrados, e curiosamente, vestia-me com o
sobretudo castanho e sentava-me num banco do velho jardim à espera
que regressassem os barcos vindos do outro lado da avenida, cansado,
sentia-me perdido dentro de uma caixa de fósforos, e
E eu quando regressava às consultas queixa-me ao
meritíssimo doutor que o meu problema era devido à poluição, e
ele, olhava-me, olhava-me... e entre dentes
Tem juízo rapaz, e deixa os cigarros,
(olho-os)
E no meio do caos, sobre tijolos de argila, o amor
surge como asas de uma gaivota regressada do distante Tejo, um homem
e uma mulher, beijam-se enquanto um deles segura a Bandeira Turca,
tamanha beleza é pouco, e é mais do que isso, é poesia, é
loucura, é a paixão... e firmemente espera pela chegada do dia, da
liberdade, e não há prisão que acorrente a paixão e o amor,
Porque os sonhos dos trezentos corações de argila,
saltitam sobre as árvores em redor da Praça Taksim, e o prazer
estremece os amedrontados, e excita os velozes homens e mulheres,
destemidamente livres como os pássaros de Favarrel – Carvalhais –
S. Pedro do Sul, e
(olho-os)
“Também como eu, ele perdido nas aranhas
nauseabundas das flores campestres que alguém resolveu trazer do
interior mais longínquo à aldeia deixada ficar adormecida na
montanhas dos cabelos castanhos, os olhos vestiam-se-lhe de púrpura
como restos de comida transformados em vestidos de gala, nos lábios
um leve sorriso a bâton em tom de encarnado, sobre as mandíbulas
coxas um exuberante perfume de areia com sabor a hidratos de
carbono”..., e descobri o verdadeiro amor que vive na cidade dos
rios de prata...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Labels:
amor,
Favarrel – Carvalhais – S. Pedro do Sul,
ficção,
paixão,
palavras,
Praça Taksim,
Texto,
Turquia
Location:
5070 Alijó, Portugal
marés nocturnas de um quarto de pensão
foto: A&M ART and Photos
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Não desistas cidade adormecida
em procurar o mar perdido
não não desistas dos rios submersos e
das esplanadas inventadas
por mulheres embriagadas
homens cansados mergulhados em marés
nocturnas de um quarto de pensão
não desistas dos sexos embainhados e
prontos à janela
esquecendo que dos pobres candeeiros a
petróleo sofrem as mãos do poeta
batendo teclas e acorrentado a um
edifício em formato de cadeira de vime,
Não desistas beijos aos socalcos rio
entranhado nos seios da montanha
ruas desertificadas desertas amontoadas
como lixo sobre a areia molhada
não desistas de brincar
e de desenrolar os lençóis em linho
pergaminho
mulher da vida invertida
como uma pequena equação sobre a pele
polaroid dos teus círculos de prazer...
luzes de esferovite começam das
lágrimas sobre a copa das árvores imaginárias
e dos barcos teus lábios eu sinto-te
dentro de mim como um vulcão estonteante,
E nobre
perdidamente apaixonado pelas pedras
veias dos xistos encarnados
ente os dias de solidão
e as nádegas húmidas dos torrões de
açúcar sobre a mesa-de-cabeceira
farto-me da tua voz parecendo uma
galinha implorando a chegada de um qualquer Sábado
de uma infinita semana
e nobre
teu meu corpo de serpente envenenada...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Tínhamos um bibe com pintinhas
foto: A&M ART and Photos
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Ouvíamos as poucas migalhas que a insónia deixava
em nós como acontecia com os candeeiros em alumínio debaixo da
nossa janela da casa de banho, durante a noite um corredio de
chinelos entre o corredor e o Hall de entrada, que muitas das vezes,
a porta ficava num estado de medo, assustava-se o corrimão de acesso
ao nosso andar, e nunca percebemos a razão de tanta desgraça, e se
havia fome entre as caixilharias, nunca o percebemos,
Os cobertores e os espelhos da velha escada de
madeira, dormiam já, eu e ela, de mão dada, tropeçávamos nas
sombras que do penumbro silêncio vindo da clarabóia ia aos poucos
desenhando círculos de luz no gesso em pequenas frestas que nos
conduziriam até ao terceiro andar, embriagados, nós, cambaleávamos
como trapezistas sobre um arame que atravessava a rua não muito
larga, em frente à casa onde tínhamos um quarto alugado, havia uma
igreja, ante de introduzir a chave na ranhura da fechadura,
benzia-me, e perdia a Deus que me acompanhasse na derradeira viagem
sobre a noite até a um quarto com uma velha cama estreita e sem
janela, e um vidro sobre uma chaminé invertida, mostrava-me o céu
quando rompia a manhã,
Éramos crianças com bibe no recreio da escola,
quando chegava a casa, acompanhava-me a comichão do bichos do velho
pinheiro, e do outro lado da rua, mesmo em frente à escola, tínhamos
o mar, o cais ficava a uns quinhentos metros, e eu, em vez de olhar a
professora com as explicações de geometria, preferia contemplar a
felicidade dos barcos, apreciava-lhes a liberdade, e sobre o oceano,
ninguém, ninguém lhes interrompia os grandes voos de gaivota de
motor a diesel,
Subíamos encostados aos cordéis das esplanadas da
calçada inclinada, ombro com ombro, eu amparava-te, e tu, imaginavas
segurar-me a mão como dálias do mesmo canteiro olhando o sol, em
pedaços de milímetro desperdiçados nos paralelos solitários,
pegava-te e erguia-te, e já dentro do pequeno cubículo, despia-te,
e ficava assim..., como quem observa uma tela acabada de pintar,
olhava-te, e no teu corpo, escrevia poesia com o meu olhar, e com as
minhas mãos, desenhava-te o mar, sentia-te respirar e sabia que
estavas viva, dormias, sonhavas com carcaças de velhos petroleiros
deambulando durante a noite corredor fora, debaixo de nós ouvíamos
o bater de asas dos barcos em pequenos voos rasantes, éramos novos
ainda
Tínhamos um bibe com pintinhas,
Brincávamos no recreio, ouvíamos as poucas
migalhas que a insónia deixava em nós como acontecia com os
candeeiros em alumínio debaixo da nossa janela da casa de banho,
durante a noite um corredio de chinelos entre o corredor e o Hall de
entrada, que muitas das vezes, a porta ficava num estado de medo,
assustava-se o corrimão de acesso ao nosso andar, e nunca percebemos
a razão de tanta desgraça, e se havia fome entre as caixilharias,
nunca o percebemos, como hoje, não percebo o teu nome murmurado
enquanto dormes, e apenas sei que o teu cabelo ocupa a minha
almofada, alimenta-se dela, vive nela, como viviam as palavras
engasgadas da tua garganta recheada com melódicas canções e poemas
por declamar,
Estávamos no recreio, sentia a tua voz, éramos do
tempo do Bar um (em Vila Real) e os dois, de bibe, ficávamos até
que toda a gente se evaporasse, até que tu e eu ficávamos frente a
frente, mergulhados em vapores de iodo, como velhos sonhos em velhas
camas, elas, rangiam, e percebíamos que dos orgasmos delas, uma
apenas almofada, guardava o perfume do teu cabelo,
A professora chamava-nos, saíamos do Bar Um e
voltávamos às lições de geometria, e um dia, aprendemos que o teu
corpo era como os poemas de AL Berto; quantas mais vezes os líamos,
mais apetecido ele era, é, e hoje, nós, sem os bibes, limitamos-nos
a
Olá, estás bom?
Olá, como estás!
Vou, vou andando...
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
o amor envergonhado
foto: A&M ART and Photos
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imagino o amor envergonhado
aquele que procura nas palavras os
abraços prometidos
o amor às vezes não desejado
que acontece como o granizo em plena
tarde de Primavera
imagino e percebo
o desassossego dos olhos envenenados
pela íris das sebentas
aos gemidos frios sonhos que inventavas
o amor
o raio do amor travestido e cansado
embrulhado num velho cobertor
entre palhas e silêncios
das janelas do abismo
os beijos
sem sentido
quando uma mão poisa sobre mim
sinto-a a argamassar-me como dentaduras
em marfim
no meu pobre esqueleto de vidro
comendo-me ossos e sentimentos
e o amor zangado e perdido
o verdadeiro amor
de joelhos
junto ao mar
percebo das imagens reflectidas pelos
espelhos do prazer
que zarpaste em direcção a uma ilha
sem nome
idade
coração nem falar...
o amor
em ti
de ti
eu desejar
sonhar
o amor
fictício como lâminas de barbear
o amor sofrido sobre as árvores em
flor
o amor...
aquele eterno amor
perdido numa calçada da Ajuda.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 11 de junho de 2013
A dactilógrafa em lápis de cor
foto: A&M ART and Photos
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“Precisa-se de menina com o curso de
dactilografia, experiência em teclados HCESAR, AZERTY e QWERTY,
excelente apresentação, e terá como função desenterrar
manuscritos de três velhas caixas de cartão onde jazem cerca de mil
(textos e poemas), horário compatível com o vencimento, entrada
imediata,”
Está frio, cercam-se os animais de encontro ao
curral, as ovelhas paralelamente à linha do comboio com destino a
Lisboa, Santa Apolónia, parecem substâncias amorfas, empobrecidas e
levianas, levava comigo uma pequena mochila, pouca roupa, um par de
sapatos, alguns papeis em branco, uma caneta e um lápis e uma velha
borracha, no fundo, dormitava o único livro que me acompanhava,
lembro-me como se fosse hoje, e podia eu lá esquecer, “Douto
Jivago” de Boris Pasternak, Russo, ex-URSS, Prémio Nobel da
Literatura em 1958, que infelizmente, e por razões políticas, não
lhe foi permitida a deslocação a Oslo para receber o respectivo
Prémio, coisas da vida, vida enfadada de coisas, no entanto, chego a
Santa Apolónia com a esperança de ressuscitar o grosso volume em
pedaços de cereja, e saboreados à beira Tejo, quase que o consegui,
não fosse, eu não por razões políticas, mas meramente porque me
distraía com o entrar e sair da barcos que quando voltava à
leitura, já as páginas do meu livro tinham zarpado, levantando
âncoras e desaparecido no horizonte, apenas tinha comigo mil
escudos,
Havia montes e vales que eu desconhecia, havia
árvores que eu nunca tinha observado em toda a minha vida, e claro,
como podia eu esquecer-me das minhas ovelhas, quem sabe, perdidas, ao
Deus dará, entre chuviscos e pequenas candeias de gesso que
cambaleavam-se-lhes com o silêncio dos guizos, às vezes tinha medo
por mim, quando acordava, olhava-me no espelho minúsculo e
perguntava-me
Sonhaste com quê, hoje?
(e eu recordo-me que durante meses não sonhei)
Encontrava-me no final do dia com homens que se
vestiam com plumas castanhas e com mulheres que se encharcavam em
vodka até que o Tejo desaparecia do pôr-do-sol, e elas, começavam
a voar em direcção à margem Sul, o Fernando cismava que queria um
par de botas da tropa, e eu cismava que brevemente estaria novamente
com as minhas queridas ovelhas, nem uma coisa nem a outra, apenas me
lembro de ter aberto os braços...
Velhos ciúmes que um velho televisor a
preto-e-branco inventa às mãos da dona Teresa, do rádio os gemidos
sons da “Simplesmente Maria”, ouvia-a. Ouvia-a... e que nunca a
percebi, confesso que era ignorante, e acreditava que os sons que
entravam em mim vinham de um conduta como vinha a água potável, e
em criança, apenas em calções, brincava com o arrefecimento lento
da torneira do quintal, ouvia o galo desesperado por volta das cinco
da madrugada, e mesmo ainda não conhecendo as horas e para que
serviam os relógios, todos eles e que não eram muitos, desiludi-me
quando descobri que o rio que eu olhava tinha deixado de existir,
Não acredito, dizia-me ele,
E quando acordo, sinto-me no fundo de uma planície
de areia, sobre mim, hélices várias em movimentos vãos, como as
páginas do livro de Pasternak que ainda eu vivo, lia vagarosamente,
tão vagarosamente... que me esquecia de adormecer, que me esquecia
que tinha terminado o dia, começado a noite,
E
Imaginava-a sentada a uma secretária, e conforme eu
ia falando, ela silenciosamente teclava os silêncios do meus lábios,
e percebi que tinha morrido,
Precisa-se de menina com o curso de dactilografia,
experiência em teclados HCESAR, AZERTY e QWERTY, excelente
apresentação, e terá como função desenterrar manuscritos de três
velhas caixas de cartão onde jazem cerca de mil (textos e poemas),
horário compatível com o vencimento, entrada imediata, e por
motivos de GREVE os muros em betão do recreio da escola
O Fernando cismava que queria um par de botas da
tropa, e eu cismava que brevemente estaria novamente com as minhas
queridas ovelhas, nem uma coisa nem a outra, apenas me lembro de ter
aberto os braços..., e tombado livremente como uma andorinha depois
de fazer amor como o cacimbo,
E os muros em betão, estão lá, esperam-vos, como
eu espero que apareças vestida de branco em movimentos circulares
sobre o teu branco também cavalo, e apenas te peço, imploro, que me
deixes ficar a olhar-te, poiso os cotovelos sobre o portão de
entrada e imagino-te hoje a dactilografar este texto...
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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5070 Alijó, Portugal
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Corpos como cansaços da solidão
foto: A&M ART and Photos
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O corpo como o cansaço da solidão, submerso nos
cadeados braços dos beijos encostados aos arbustos teus lábios,
sentia-se a penumbra fria pele silenciosa como um texto acabado de
escrever, ouvia-se ainda o cheiro da tinta, negra, derramada da
caneta de tinta permanente, velhinha mas ainda de excelente saúde,
como os teus olhos, quando me olhas e perdes a voz, ficas afónica,
perdes-te nas palavras, desorganizas-te como textos escritos sobre os
joelhos de um qualquer vagabundo, encerras os olhos, desces o
cortinado do escritório, sentas-te no sofá e inventas mil desculpas
para não me ouvires,
Percebo-te, claro, havíamos um dia de descobrir o
buraco de minhoca que nos separou, é evidente que para o comum dos
mortais não nos entende, às vezes, eu mesmo não consigo
entender-te, e quando pego no livro de equações de Einstein para
nos entendermos, mesmo assim, fico sem saber... quem sou eu? E tu,
ainda existirás como mulher? Não serás hoje apenas um pequeno
ponto de luz na distância mais longínqua? Pergunto-me enquanto
fecho o livro, esqueço as equações e recordo-te conforme uma flor
quando nasce, nua, viril, semicondutor os teus seios em púrpura de
novos desenhos esquecidos no frio betão de ontem,
O amor, o amor desperdiçado, por medo, vergonha,
timidez, por falta de luzes ou porque as estrelas deixaram de
brilhar, parvoíces, medos sem significado, o amor desperdiçado
entre as silvestres manhãs de neblina que absorviam os Sábados de
Novembro, eras tua ainda, e depois de abrirmos a janela virada para o
Tejo, uma golfada de ar entrava-nos e iluminava-nos o quarto ainda
desarrumado, lá fora, apenas sentia o fumo do meu cigarro em curvas
para depois se dissipar contra os fios de aço que prendiam um
petroleiro à calçada, mesmo debaixo da nossa janela...
Ai o amor,
E era Sábado em ti,
A despedida do rio e as lágrimas minhas como
desejos em voos de madrugada amanhecer, deixaste de ocupar o lado
esquerdo da almofada, e as gaivotas nunca mais poisaram no peitoril
da tua janela, aquela, a única que tínhamos com acesso ao rio,
depois, veio a chuva, o granizo, as geadas, o frio, o inverno
disfarçado de ódio, quando ódio nunca viveu nas nossas pequenas
mãos, depois as palavras, as palavras que teimas em não pronunciar,
por medo, vergonha, sofrimento, por amar, o mar, entender-te como
entendo os barcos, não, não sentado
A alvorada de ti sobre mim, os dias tristes antes da
chegada do Natal, passeava-me na rua e esquecia-me dos néons
correndo a cidade, à solta em cada rua que eu entrava, olhava-os e
quase que me pareciam cadáveres sem esqueleto, corpos, corpos como
cansaços da solidão,
Ai o amor,
E era Sábado em ti,
Hoje, procuro a tua mão entre os escombros da
saudade, não a encontro, vejo-me através do espelho da minha amiga
Maria, sentado, triste, procurando um jardim para me aportar, lançar
âncoras ao fundo, e entre fumo e luzes invisíveis, contar as
gaivotas de sorriso igual ao teu e quantos apitos por minuto se ouvem
dos engasgados barcos de porcelana, velhos, que sobre a mesa da sala
de jantar, navegam, como moscas e abelhas, à procura de ti, como eu,
entre escombros e falsos cinzeiros, e de ti, nada, nem um sorriso
observo à entrada da barra, e lembro-me que deixaste de ser barco, e
hoje, não sei, nunca o soube, depois dos Sábados de Novembro
E era Sábado em ti,
E tu, ainda existirás como mulher? Não serás hoje
apenas um pequeno ponto de luz na distância mais longínqua?
Era sábado de luz...
(não revisto)
Francisco Luís Fontinha
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