foto: A&M ART and Photos
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imagino o amor envergonhado
aquele que procura nas palavras os
abraços prometidos
o amor às vezes não desejado
que acontece como o granizo em plena
tarde de Primavera
imagino e percebo
o desassossego dos olhos envenenados
pela íris das sebentas
aos gemidos frios sonhos que inventavas
o amor
o raio do amor travestido e cansado
embrulhado num velho cobertor
entre palhas e silêncios
das janelas do abismo
os beijos
sem sentido
quando uma mão poisa sobre mim
sinto-a a argamassar-me como dentaduras
em marfim
no meu pobre esqueleto de vidro
comendo-me ossos e sentimentos
e o amor zangado e perdido
o verdadeiro amor
de joelhos
junto ao mar
percebo das imagens reflectidas pelos
espelhos do prazer
que zarpaste em direcção a uma ilha
sem nome
idade
coração nem falar...
o amor
em ti
de ti
eu desejar
sonhar
o amor
fictício como lâminas de barbear
o amor sofrido sobre as árvores em
flor
o amor...
aquele eterno amor
perdido numa calçada da Ajuda.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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