foto: A&M ART and Photos
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Também como eu, ele perdido nas aranhas
nauseabundas das flores campestres que alguém resolveu trazer do
interior mais longínquo à aldeia deixada ficar adormecida na
montanhas dos cabelos castanhos, os olhos vestiam-se-lhe de púrpura
como restos de comida transformados em vestidos de gala, nos lábios
um leve sorriso a bâton em tom de encarnado, sobre as mandíbulas
coxas um exuberante perfume de areia com sabor a hidratos de carbono,
e quando lhe pedia para me emprestar o isqueiro, com voz de
rinoceronte, dizia-me... há muitos a vender no café,
Claro que havia, também havia lâminas de vodka
embalsamadas em colheres de sopa, sem sopa, como tinha a hora marcada
para o temido xarope para a tosse, o médico que era dos cigarros,
eu, não, para mim o problema estava na poluição que se fazia
sentir à nossa volta, e bastava darmos as mãos, descer a calçada...
e uma pasta negra começava a ser expelida através das narinas...
Claro que isto é poluição dizia-me ela,
E eu quando regressava às consultas queixa-me ao
meritíssimo doutor que o meu problema era devido à poluição, e
ele, olhava-me, olhava-me... e entre dentes
Tem juízo rapaz, e deixa os cigarros,
Trezentos corações de argila perdidos pela cidade
dos sonhos, confesso, hoje, que nada me faz recordar os jardins dos
teus olhos, aqueles que me olhavam à distância, e eu, dentro de um
cavalo de ferro em direcção a um rio sem nome, ia-me perdendo, aos
poucos caiam-me os dentes de leite, e quando assentei arrais sobre as
laje verticais em pequenas folhas de alumínio, minúsculas, às
vezes tremendo de frio quando na rua a temperatura rondava os
quarenta graus centígrados, e curiosamente, vestia-me com o
sobretudo castanho e sentava-me num banco do velho jardim à espera
que regressassem os barcos vindos do outro lado da avenida, cansado,
sentia-me perdido dentro de uma caixa de fósforos, e
E eu quando regressava às consultas queixa-me ao
meritíssimo doutor que o meu problema era devido à poluição, e
ele, olhava-me, olhava-me... e entre dentes
Tem juízo rapaz, e deixa os cigarros,
(olho-os)
E no meio do caos, sobre tijolos de argila, o amor
surge como asas de uma gaivota regressada do distante Tejo, um homem
e uma mulher, beijam-se enquanto um deles segura a Bandeira Turca,
tamanha beleza é pouco, e é mais do que isso, é poesia, é
loucura, é a paixão... e firmemente espera pela chegada do dia, da
liberdade, e não há prisão que acorrente a paixão e o amor,
Porque os sonhos dos trezentos corações de argila,
saltitam sobre as árvores em redor da Praça Taksim, e o prazer
estremece os amedrontados, e excita os velozes homens e mulheres,
destemidamente livres como os pássaros de Favarrel – Carvalhais –
S. Pedro do Sul, e
(olho-os)
“Também como eu, ele perdido nas aranhas
nauseabundas das flores campestres que alguém resolveu trazer do
interior mais longínquo à aldeia deixada ficar adormecida na
montanhas dos cabelos castanhos, os olhos vestiam-se-lhe de púrpura
como restos de comida transformados em vestidos de gala, nos lábios
um leve sorriso a bâton em tom de encarnado, sobre as mandíbulas
coxas um exuberante perfume de areia com sabor a hidratos de
carbono”..., e descobri o verdadeiro amor que vive na cidade dos
rios de prata...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha